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USP | É necessário uma campanha em defesa do HRAC de Bauru e da saúde e da educação públicas

O Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC/Centrinho) da USP em Bauru, é um hospital que se tornou reconhecido internacionalmente pela reabilitação de milhares de pacientes com síndromes, anomalias craniofaciais e/ou deficiência auditiva. Esse hospital foi fundado em 1967 no contexto da luta contra a ditadura que precedeu o movimento pela reforma sanitária e completa 55 anos de atuação em 2022.

terça-feira 15 de março de 2022 | Edição do dia

Ao longo desses anos, mesmo com todo o desmonte implementado contra a educação pública, o HRAC/Centrinho desenvolveu pesquisas e protocolos médicos muitíssimo relevantes para a sociedade o que se mostrava na enorme aprovação por parte da população dos serviços prestados no HRAC. Ao mesmo tempo, a reitoria da USP e o governo de São Paulo, Geraldo Alckmin demonstraram em relação ao HRAC mais uma vez a sua sede em transformar a educação e a saúde públicas em uma mercadoria extremamente lucrativa e avançaram em 2014 na desvinculação do HRAC da USP de modo que este hospital seja cedido ao governo estadual e absorvido pelo futuro Hospital das Clínicas de Bauru (HCB), a ser gerido por uma “organização social de saúde”, uma instituição privada. Na prática isso significa um passo decisivo para a privatização do HRAC e de todas as suas pesquisas que passarão a atender aos interesses do mercado e completamente de costas para a população.

Em 2014 as trabalhadoras e trabalhadores da USP fizeram uma greve muito forte colocando no centro das suas reivindicações a defesa do Hospital Universitário e do HRAC. Após uma manobra no Conselho Universitario, a reitoria e o governo Alckmin que aprovaram a desvinculação do hospital. Mesmo assim os trabalhadores não pararam de se mobilizar e no inicio desse ano os trabalhadores do HRAC manifestaram sua indignação e organização votando em sua assembleia o rechaço ao chamado “termo de aceite” para que executassem as mesmas atividades que realizam hoje mas agora dentro de uma Organização Social.

A defesa do HRAC de Bauru não é uma questão isolada, é um problema que diz respeito ao conjunto dos trabalhadores, estudantes e professores das universidades estaduais paulistas e a população e é inseparável da luta em defesa da saúde e da educação públicas. É parte integrante dessa mesma luta a defesa dos equipamentos de saúde da USP como o Hospital Universitário e o Centro de Saúde Escola Butantã e essas batalhas se ligam diretamente à defesa dos direitos dos trabalhadores das universidades, da classe trabalhadora e da população pobre em geral que é quem mais depende e da assistência e saúde públicas.

Estamos atravessando um momento difícil para o conjunto da classe trabalhadora brasileira, que está pagando a crise capitalista com o enorme aumento dos combustíveis, gás de cozinha e do custo de vida de modo geral. A classe trabalhadora e o povo pobre é quem está sentindo o enorme peso das reformas que retiraram parte importante dos nossos direitos, sentindo o aumento da precarização do trabalho, com o desemprego e todas as formas com que o governo busca garantir os lucros das patronais e dos monopólios nacionais e estrangeiros. Cada uma dessas medidas impostas por Bolsonaro, Mourão e a direita escondida atrás da "terceira via" de Doria, mas também pelo Congresso Nacional e pelo Judiciário. É nesse contexto que o capitalismo mostra mais uma vez sua disposição de arrastar as nossas vidas em meio as disputas geopolíticas entre das burguesias imperialistas dos Estados Unidos e da Europa com a oligarquia Russa e que levaram à guerra iniciada por Putin contra a Ucrânia com enormes e gravíssimas consequências para a classe trabalhadora da Ucrânia e da própria Rússia. Longe de ser um problema que não nos afeta isso só faz mais grave e mais difícil a situação da classe trabalhadora brasileira assim como dos demais países. Fizemos isso porque essa situação prepara novos e maiores ataques dos quais o aumento absurdo do preço dos combustíveis é só o começo.

Para agravar ainda mais essa situação estamos em um ano eleitoral em que a maioria dos partidos e das lideranças que têm influência no movimento operário, tentam frear ou desviar qualquer processo de luta e reivindicação para a saída eleitoral, disseminando mentira de que basta votar no Lula e nos candidatos do PT, PCdoB e PSOL que os problemas nosso estarão resolvidos.
Na USP, estamos vivendo o início da gestão de um novo reitor, que sob um novo discurso dá continuidade a velhos ataques. Ao mesmo tempo em que acata parcialmente a reivindicação da reposição de perdas salariais do Fórum das Seis, obviamente calculando que em um ano eleitoral seria bastante ruim para os objetivos políticos de João Dória se a insatisfação dos trabalhadores, estudantes e professores se unificassem e assumissem a forma de uma forte greve, a atual reitoria mantém os Parâmetros de Sustentabilidade Econômico-financeira da USP, mantém a política de terceirização, a falta de funcionários com a consequente sobrecarga de trabalho, combinada com assédio moral e com processos e perseguição política contra os lutadores e lutadoras da categoria, como está acontecendo nesse momento com companheiras e companheiros do HU, que lutaram em defesa de suas vidas e condições de trabalho durante a pandemia. Mesmo do ponto de vista salarial o Conselho de Reitores da USP mantém impôs uma perda de pelo menos 20% nos nossos salários, para não falar que o reajuste proposto tende a se esfumaçar rapidamente diante da escalada do aumento do custo de vida. Todos esses ataques seguem em curso na nova gestão, inclusive o desmonte da universidade e de seus equipamentos de saúde, que teve como uma de suas consequências a desvinculação do HRAC.

O Sintusp vem lutando há anos juntamente a outras entidades como a Adusp (Associação dos Docentes da USP) para defender o HRAC e em sua última assembleia aprovou a proposta de impulsionar uma campanha exigindo da reitoria da USP, do Conselho Universitário e de Doria a revogação da resolução de 2014 que desvinculou o HRAC (Centrinho) da USP. Chamamos as trabalhadoras e trabalhadores, estudantes e professores se somarem à defesa do HRAC. Um primeiro passo para isso é que cada um ajude a divulgar amplamente nas suas unidades as denúncias e as publicações em contra esse ataque pois reverter a desvinculação do HRAC será uma importante vitória contra a burocracia acadêmica e sua estratégia de desmonte e privatização da universidade.

Como parte do Movimento Nossa Classe consideramos que é preciso atuar de forma a combater as ilusões, tanto em torno de que uma possível eleição da chapa Lula-Alckmin possam atender as nossas necessidades mas também a expectativa passiva de que o novo reitor e a nova gestão na USP solucionarão os problemas mais profundos e estruturais que afetam a universidade. Consideramos que só a organização e a luta dos trabalhadores de forma independente da reitoria, dos governos e patrões, pode oferecer uma saída pra nossa própria classe, frente a todos os ataques, aos nossos direitos e condições de vida. Isso passa por cercar de solidariedade todas as lutas, mesmo que parciais como a recente luta do bandejão, buscando fazer com que sejam vitoriosas. Consideramos fundamental tomar com força a defesa do HU, do CSEB, a luta por contratações para todas as áreas da saúde e também a luta em defesa do HRAC, exigindo a revogação da resolução do CO que aprovou a desvinculação do hospital da universidade como parte do nosso combate aos ataques da burocracia acadêmica da USP aos nossos direitos e conquistas sociais, às nossas condições de vida e de trabalho.

É nessa perspectiva que consideramos também que devemos nos somar à luta nacional dos trabalhadores da educação nesse dia 16 de março e exigir que as centrais sindicais apontem um plano de luta para unificar as lutas em curso e construam a mobilização necessária para impor a revogação da reforma trabalhista, a redução do preço do combustível e do gás rumo à luta por uma Petrobrás 100% estatal e sob controle dos trabalhadores.

Saiba mais: Todos à audiência em defesa do Centrinho de Bauru




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