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REPRESSÃO NO CENTRO DE SP | Doria e Alckmin mandam polícia destruir barracos e roubar pertences na "nova cracolândia"

Nova ação policial no centro de São Paulo na manhã desse domingo, 11, expulsou moradores de rua e dependentes químicos da Praça Princesa Isabel e destruiu os barracos montados no local, numa continuidade da política repressiva adotada pela prefeitura.

domingo 11 de junho de 2017 | Edição do dia

Foto: Gabriela Biló/Estadão

Após a primeira ação violenta comandada por Doria na região do centro de São Paulo conhecida como "cracolândia", que foi classificada como uma "barbárie" pelo Conselho de Psicologia, como "selvageria" pelo promotor do Ministério Público, condenada até mesmo pela ONU e que levou ao pedido de demissão de sua secretária de direitos humanos, Doria, ao lado do governador e seu padrinho político Geraldo Alckmin, voltou a atacar os dependentes químicos.

Da primeira vez, o prefeito-empresário chegou a derrubar casas com pessoas dentro, deixando feridos e mostrando sua brutalidade repressiva. Numa política que representa um retrocesso em décadas na luta antimanicomial e pelos direitos humanos, ele pretendia internar usuários de crack à força, o que só não foi feito porque até mesmo a justiça reconheceu a barbárie que isso seria e proibiu Doria, bem como o impediu de continuar derrubando casas. Após ter derrubado casas e desalojado pessoas, o prefeito as deixou dormindo no chão

As ações de Doria e Alckmin foram repudiadas durante evento com o prefeito e o governador e também com uma manifestação no centro. Isso, é claro, não impediu que os tucanos seguissem na sua linha dura de perseguição brutal e criminalização dos usuários de crack. O efeito imediato da repressão de Doria na cracolândia foi criar novos pontos de concentração dos usuários, ou sejas, várias "mini-cracolândias", entre as quais a maior foi a da Praça Princesa Isabel, localizada a cerca de 500 metros da antiga cracolândia, onde se reuniram muitos dos que foram vítimas da polícia no local que ocupavam previamente.

Na manhã desse domingo, três semanas após ter começado sua ofensiva, Doria voltou ao ataque: sob o pretexto de prender dois traficantes, eles destruíram os barracos dos usuários que ali se concentravam, impedindo mesmo que esses pegassem seus poucos bens que possuíam. "Perdi celular, relógio, documentos. Estava tudo dentro da barraca", disse Isaias dos Santos, 61, à reportagem do jornal Folha de S. Paulo.

A ação de destruição desses barracos montados ao longo das últimas três semanas e de roubo desses pertences ocorre em um momento de muito frio em São Paulo, em que a temperatura média da última noite foi de 8,7°C. Doria e Alckmin comparecem ao local pouco após a operação da polícia, por volta de 9h da manhã. Em coletiva de imprensa dentro do prédio do Programa Recomeço, do governo estadual, eles deram declarações afirmando que não haverá mais fluxo de usuários e dependentes químicos no centro, que não permitirão que isso: (A Cracolândia) Não vai voltar para a (Rua) Helvétia, não vai voltar”, disse Alckmin. Doria reforçou a mensagem: “Não há a menor hipótese de a Rua Helvétia, a Dino Bueno voltarem a ter o status que já tiveram no passado. Essa hipótese é zero, seja pela ação do Estado, seja pela ação do município”.

Enquanto isso, os usuários brutalmente despejados da Princesa Isabel faziam justamente isso: retornavam à antiga região da cracolândia, no cruzamento da Rua Helvetia com o Alameda Barão de Piracicaba. Há policiais localizados na Barão de Piracicaba, e é muito provável que ainda hoje a "caçada humana" de Doria e Alckmin continue, reprimindo violentamente esses dependentes químicos que se concentram no local.

Hoje, quando a polícia começou a ação, usuários no local começaram a queimar colchões e barracos como forma de protesto. A alegação da prefeitura e governo estadual é de que foram presos dois traficantes e um usuário, supostamente por agressão.

Doria e Alckmin, na coletiva de imprensa, ainda detalharam a "estratégia" dos tucanos: “Esse é um trabalho permanente, não vai resolver do dia para noite. Por que não haver concentração? Porque quando tem concentração você facilita a vida do traficante, atrai pessoas e dificulta a abordagem”, disse o governador. E Doria afirmou: “A abstinência, por força de uma ação contínua da Polícia, facilita a abordagem e o convencimento dos usuários para o tratamento. É exatamente isso que nós vamos seguir fazendo de forma perseverante nessa região”.

Trocando em miúdos, a "inovadora" forma dos tucanos lidarem com o problema da dependência química em crack é "encher de porrada" os usuários em todos os cantos da cidade até que eles "se convençam" a fazer um tratamento. Essa forma de lidar com a questão é unanimemente rechaçada por psicólogos, assistentes sociais, médicos e todos que estudem e lidem com a questão de usuários de drogas e dependentes químicos. Isso não tem a menor importância para Alckmin e Doria, cujo real interesse é a sua política de higienização do centro para atender às necessidades de especulação imobiliária.




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