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PREFEITO DE SP FAZ CAMPANHA EM MATERIAL ESCOLAR | Doria, defensor do “Escola Sem Partido”, utiliza livros didáticos para fazer campanha

Grazieli RodriguesProfessora da rede municipal de São Paulo

quinta-feira 17 de maio de 2018 | Edição do dia

O cinismo dos políticos patronais não tem limites. João Doria e Bruno Covas, respectivamente o ex-prefeito de São Paulo e seu vice que assumiu a cadeira após Doria deixar o cargo para concorrer ao governo do estado, deram mais uma demonstração disso ao lado do secretário de Educação do município, Alexandre Schneider.

A gestão tucana passou a distribuir para os alunos da rede de ensino pública de São Paulo cartilhas onde se elogia projetos de lei e programas de governo feitos por Doria e por políticos da base do governo.

Nas apostilas de Língua Portuguesa distribuídas a alunos do sexto ano do Ensino Fundamental, se reproduz um projeto de lei de autoria de Ricardo Teixeira e Natalini, ambos do PV, partido da base do governo:

Já nas apostilas do sétimo ano, uma portaria assinada por Doria em relação ao tratamento dispensado a pessoas que ocupem cargos públicos é utilizada em um exercício, com duas perguntas, sendo uma delas se o aluno concorda com a medida:

No nono ano a propaganda da gestão Doria continua, colocando como tema de uma "roda de conversa" diversos programas da gestão, como o "trabalho novo", que Doria implementou para como uma política pública para dar postos de trabalho precários a idosos em troca de salários rebaixados.

É escandaloso em todos os sentidos. Uma propaganda ideológica da gestão tucana, exaltando medidas de Doria às vésperas da eleição, tentando mostrar como Doria é "trabalhador" aos alunos das escolas municipais.

As propagandas eleitorais são ainda mais bizarras se lembrarmos que Doria, por trás da fachada de "isenção e neutralidade" ideológica no ensino, é um apoiador da medida de censura e perseguição ao livre pensamento e ao debate crítico nas escolas conhecida como "Escola Sem Partido". Durante sua campanha eleitoral em 2016, Doria afirmou: "Defendo o Escola Sem Partido. Nossos filhos não têm de ter educação política nas escolas."

De fato, Doria não quer que as crianças tenham educação política: não quer que discutam, debatam, reflitam e aprendam a ter uma visão crítica da política, porque isso certamente as ajudaria a ver engodos como o de um empresário milionário que diz ser "gestor" e com essa fraude entra na prefeitura para gerí-la em defesa de seus interesses e os de sua classe.

Em compensação, a campanha eleitoral em seu favor é aplicada por Doria nos materiais escolares sem nenhum pudor. Nada de debate ou reflexão: o que Doria quer nas escolas é marketing em defesa de sua gestão. E o secretário de educação, Alexandre Schneider, responsável por esse absurdo, tentou cinicamente igualar a perseguição política e a censura aos professores feita pelo "Escola Sem Partido" às críticas feitas por pais e professores quanto à propaganda eleitoral "gratuita" de Doria nas apostilas. Ele afirmou: "O movimento ’Escola sem Partido’ não é apenas um coletivo de direita. Hoje, tivemos um exemplo de que a tentativa de censura não é privilégio de um campo político, mas algo presente na nossa cultura política: o autoritarismo latente."

Ou seja, para o secretário é "autoritário" quem se revolta ao ver rios de dinheiro público indo para os bolsos de editoras privadas para produzir um material didático que tente vender a imagem de que Doria é um "gestor competente". Contudo, esse mesmo Schneider certamente não acharia "autoritário" punir ou reprimir um professor que ensinasse a seus alunos o que são classes sociais, o que é a mais-valia ou porque o capitalismo não sobrevive sem a exploração e a desigualdade.

Cabe aos professores, que recentemente derrotaram Doria em uma heroica greve contra seu projeto de reforma da previdência municipal, se organizarem para combater essa absurda campanha eleitoral tucana nos materiais didáticos, lutando por uma escola onde os professores possam sim debater política, levando a formação crítica que permita aos alunos lutarem contra políticos patronais descarados como Doria.




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