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Sindicato de professores de SP | Direção da Apeoesp posterga eleições sem consulta à base e aprofunda burocratização do sindicato

Os professores estão sentindo na pele como os governos vêm atacando a educação e as condições de vida, tanto a nível federal com Bolsonaro, quanto estadual e municipal. Em SP, Doria dá exemplo de ataques e precarização da educação e do trabalho docente. Frente a isso, os professores não podem contar com seu sindicato, dirigido pelo PT, que além de estar alheio a realidade dos professores, ainda vem aprofundando a burocratização e o afastamento da entidade. Dessa vez, adiando só para 2023 as eleições sindicais que estavam marcadas para o início de 2020, mas foi adiada devido crise da pandemia. Assim, a atual direção completará 6 anos à frente do sindicato. Para piorar, isso será feiro à revelia da categoria, que a Apeoesp se nega a consultar.

terça-feira 8 de fevereiro de 2022 | Edição do dia

Em meio a uma pandemia que já matou mais de 630 mil pessoas por responsabilidade direta do governo negacionista de Bolsonaro e Mourão, além do teatro protagonizado por governadores, muitas entidades estudantis e sindicais vieram postergando suas eleições, já que as condições impuseram uma enorme dificuldade em manter as atividades presenciais e as eleições online impõem uma dinâmica de menor participação e politização. 

Esse também foi o caso da Apeoesp, sindicato dos professores do estado de SP, que conforme consta em seu estatuto, deveria ter feito suas eleições em 2020, 3 anos depois da última eleição sindical que ocorreu em 2017. O adiamento das eleições de 2020 para 2021 e depois para 2022, era necessário pela situação do país devido a pandemia, mas esse adiamento já foi realizado sem nenhuma consulta, debate ou espaço para que a base dos professores pudesse referendar essa decisão.

Professores esses que foram obrigados por Doria a retornar presencialmente para as escolas mesmo no auge de mortes da pandemia e quando não havia vacinas.
Agora, depois de decidir por uma proposta de calendário eleitoral apertado para a realidade dos professores, de forma atabalhoada e também sem amplo debate, a direção da Apeoesp aprovou em reunião da Diretoria Executiva, o adiamento das eleições somente para o ano de 2023, mantendo até lá a mesma composição e a proporcionalidade entre as forças políticas presentes no sindicato. Isso vai significar uma diretoria que ficará à frente do sindicato por 6 anos consecutivos, sem passar pelo crivo da categoria, ou seja, das e dos professores reais, que sabem muito bem que sindicato precisam frente aos desafios do chão de sala de aula.

Se já consideramos um erro o adiamento para o próximo ano, o problema fica ainda maior por ser uma decisão que não passou ou passará por uma mínima consulta ao seus filiados, os professores. É daí que precisa vir a aprovação da manutenção dessa gestão, por mais tempo, mesmo que seja mais um ano. O único espaço que a direção majoritária (PT), em acordo com a maioria das forças de oposição no sindicato, aceitou referendar a decisão é na reunião de Conselho Estadual do próximo dia 19/02, sendo que também esses conselheiros foram eleitos lá em 2017 e a categoria precisa poder dizer se ainda se sente representada por eles.

A direção da Apeoesp, representada por Bebel Noronha (deputada estadual pelo PT), mostra mais uma vez que busca gerir uma entidade cada vez mais burocratizada, engessada e que está longe dos professores e professoras, no momento em que mais do que nunca precisamos de uma ferramenta de luta para enfrentar os enormes ataques que vem sofrendo nossa classe, defender a educação pública e o futuro da juventude que vem escoando no ralo com a reforma do ensino médio. 

Sabemos que o momento é de preocupações, já que mesmo com as doses de vacina, o Brasil voltou a registrar mil mortes diárias devido ao enorme contágio das variantes. Mesmo assim, os professores serão obrigados a trabalhar todos os dias presencialmente, com salas lotadas, sem espaços adequados de ventilação, sem nem mesmo poder decidir sobre as condições sanitárias para manter a escola aberta, graças ao autoritarismo de Doria e Rossieli, que impedem os professores e a comunidade escolar de decidir sobre os rumos da escola, já que são eles que realmente conhecem o seu dia a dia. 

Portanto, seria elementar que os professores pudessem decidir sobre a sua própria entidade sindical e se há condições sanitárias para fazer uma eleição presencial neste momento. E não serem apenas expectadores de uma direção burocrática que está encastelada há anos no sindicato, para impedir qualquer organização real dos professores. Uma política que está de acordo com os interesses partidários do PT nacionalmente, que atua para barrar a organização dos trabalhadores enquanto busca eleger mais uma vez Lula para gerir um regime político de ataques e precarização, junto com setores da direita. 

Não é de hoje que viemos denunciando que o sindicato se tornou parte integrante do mandato parlamentar da deputada e presidente da Apeoesp, Maria Izabel Noronha, que está há anos dirigindo o sindicato numa enorme paralisia, que se aprofundou nos dois anos de pandemia, e que está em consonância com a tarefa das direções burocratizadas dos sindicatos, de impedir qualquer mobilização real.

Os trabalhadores tiveram que conquistar na história o direito de se organizar em sindicatos para brigarem por seus interesses contra os patrões, mas também os governos, já que sentimos na pele todos os dias que seus interesses são opostos. E é por isso que precisamos de sindicatos independentes, que estejam a serviço dos seus filiados e não de interesses particulares de seus diretores.

Por isso, não podemos aceitar mais essa imposição de Bebel e da direção da Apeoesp. Precisamos exigir espaços democráticos no sindicato de diálogo com a categoria, bem como uma assembleia preparada com reuniões de RE e espaços de debates nas escolas e essa deveria ser uma posição clara de todos aqueles e aquelas que se colocam na oposição à direção majoritária, para que a partir disso pudéssemos organizar as eleições estaduais e regionais, conforme decisão dos professores. Infelizmente, não é isso que ocorreu, já que a mesma submissão que vemos da política de setores da esquerda ao PT, como vem mostrando o PSOL, está colocada no nível sindical e no interior da Apeoesp, como mostra todos os setores do Fórum das Oposições que acordaram com a proposta da majoritária, sem titubear.

Rechaçar imediatamente o que propõe a direção majoritária e exigir espaços de base, para que os professores decidam, é o que propusemos como Nossa Classe Educação, e achamos que essa posição seria fundamental para garantir a democracia na Apeoesp. Infelizmente, essa visão também não foi compartilhada integralmente pelos setores que compõem a Oposição Combativa, campo de oposição que busca atuar de forma alternativa às correntes majoritárias, já que para a maioria das correntes, não é um problema seguirmos com a mesma diretoria por dois mandatos, sem eleição, por cima da opinião do chão da escola.

Bolsonaro, Doria e Rossieli atuam para atacar os sindicatos justamente porque querem impedir que eles sejam ferramentas de luta e que sejam tomados nas mãos pelos trabalhadores. Para defender o sindicato dos governos não podemos permitir esse caráter antidemocrático em seu interior, é elementar defender a democracia de base, professor deve ter voz e decidir sobre os rumos da entidade. Cada escola e cada reunião de representantes de escola pode e deve ser espaços de discussões e de expressão dos docentes, para preparar uma assembleia onde os professores possam decidir sobre os rumos da entidade e da luta por suas demandas.

A continuação da atual diretoria da Apeoesp, sem nem mesmo que os professores saibam que seguirá, só reafirma que é preciso construir uma força antiburocrática entre os professores e os grupos que se organizam na oposição, para se contrapor à política da ala majoritária e à utilização da entidade para os interesses partidários e pessoais, como é o caso de Bebel que vai concorrer novamente para deputada nas eleições de outubro. Só assim é possível ter uma Apeoesp que tenha uma perspectiva de organizar os professores para os futuros combates que virão, enfrentando os ataques a nível nacional, o sucateamento das escolas e do nosso trabalho como educadores, a privatização do ensino e a reforma do ensino médio com suas PEIs, que apenas tornam a escola mais excludente.




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