Enquanto as manifestações continuam como uma nova greve e mobilização nacional hoje, o presidente reacionário Iván Duque busca negociar com setores da oposição.
quarta-feira 5 de maio de 2021 | Edição do dia
SE INFORME PELA ESQUERDA: Acompanhe a jornada de greve nacional contra Duque na Colômbia
A Colômbia vive sete dias de rebelião contra o governo de Iván Duque. A repressão violenta contra os protestos que deixaram pelo menos 31 pessoas mortas pela polícia e centenas de detidos não conseguiu conter a ira contra o executivo.
Estas son las cifras de los hechos que hemos registrado entre las 6 am del 28 de abril y las 8 am del 4 de mayo de 2021, en el marco de las protestas sociales en Colombia.#NoMasViolenciaPolicial #reformapolicialya #SOSColombia @ONUHumanRights @CIDH pic.twitter.com/UokKSlDt35
— Temblores ONG 🐘 (@TembloresOng) May 4, 2021
O anúncio da retirada da reforma tributária, no último domingo, que havia desencadeado o apelo ao desemprego e às mobilizações desde 28 de abril, não foi suficiente para acalmar o descontentamento.
Nesta terça-feira, os protestos continuaram por todo o país, sendo a cidade de Cali um dos epicentros da resistência à repressão. As mobilizações em Bogotá e nas principais cidades mostram que a rebelião continua e é uma prévia das manifestações e greves convocadas pela CUT, CGT, CTC e Fecode, o Comissão Nacional de Desemprego, pressionadas pela persistência dos protestos em todo o país.
Neste contexto de crise que atravessa o Governo, foi que o Presidente Iván Duque anunciou terça-feira a criação de uma mesa de diálogo nacional que incluiria os setores e atores de oposição no país com o objetivo de encontrar soluções para o descontentamento.
Com cinismo, o presidente garantiu que “quero anunciar que vamos instalar um espaço para ouvir os cidadãos e construir soluções em que as diferenças ideológicas não devem mediar, mas sim o nosso patriotismo mais profundo”.
“Nuestro deber es proteger la vida, la seguridad y el bienestar de todos. En los últimos meses hemos visto cómo, con esfuerzo, muchos han ido recuperando sus empleos, negocios y actividades en medio de una pandemia que amenaza constantemente” Presidente @IvanDuque pic.twitter.com/lRegDuwLSR
— Presidencia Colombia 🇨🇴 (@infopresidencia) May 4, 2021
Nesse mesmo discurso, garantiu que “vimos alguns desajustados apegados ao vandalismo, terrorismo e violência. Com a sua violência tentaram sujar as cidades, deixar milhares de pessoas sem trabalho, destruir o sistema de transportes e ameaçar a saúde e a vida ”, repetindo o argumento usado pelo governo para justificar sua própria repressão.
No mesmo sentido, o ministro da Defesa, Diego Molano, havia se pronunciado impunemente, assegurando que “a Colômbia enfrenta a ameaça terrorista de organizações criminosas, que se disfarçam de vândalos, assediam cidades como Cali, Bogotá, Medellín, Pereira, Manizales e Pasto" para justificar a repressão, os assassinatos e a ordem do Exército para intervir contra os protestos.
O apelo do governo colombiano ao "diálogo" está alinhado com as ordens dos Estados Unidos. A vice-porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Jalina Porter, pediu às autoridades de segurança colombianas que mostrem "a maior contenção possível" diante dos protestos e indicou que Washington "apoia" o Governo da Colômbia em sua busca por resolver a situação através do "diálogo".
Até o momento não está claro como uma mesa de diálogo avançaria ou com quais setores. De setores do Centro Democrático, partido do ex-presidente Álvaro Uribe, foram além e lançaram a proposta de que o presidente Duque se reunisse com o líder da Colômbia Humana, Gustavo Petro, e todos os opositores.
O centro-esquerdista Gustavo Petro, um dos líderes da oposição, falou sobre o chamado ao diálogo, garantindo que por enquanto não aceitaria tal convite. Mas ele indicou que o governo está em um momento de extrema fragilidade, pressionado pela direita ligada a Uribe, e que deve convocar as organizações sociais a uma mesa para tratar de suas reivindicações.
Ao mesmo tempo, em mensagem em suas redes sociais, indicou que é necessário que o sindicato e as lideranças sociais que integram o Comitê Nacional de Desemprego reformulem os protestos para evitar manifestações de massa, inclusive convocando uma greve geral sem mobilizações.
A mensagem de Preto visa desmobilizar a rebelião nas ruas e buscar a alternativa de uma mesa de negociações onde lideranças sindicais e organizações sociais pactuam uma solução com o governo.
Mas até agora os protestos continuam marcando o pulso do país. Diante disso, alguns setores do Centro Democrático de direita pediram que fosse declarada o estado de emergência que pode ser declarado pelo Presidente, quando houver graves perturbações da ordem pública que ameacem eminentemente a estabilidade institucional. A consequência imediata seria possibilitar ao Presidente da República a edição de decretos com força de lei, que suspendesse imediatamente a vigência de todas as normas constitucionais incompatíveis com elas.
Esta quarta-feira, estamos presenciando um grande dia de protestos. Os apelos dos comitês departamentais, bem como de diferentes organizações para continuar a luta, tornam urgente a preparação de uma verdadeira greve geral, paralisando toda a produção e serviços como o transporte, até que todo o plano de Duque e seu governo sejam derrotados.
Leia mais: A rebelião na Colômbia exige uma verdadeira greve geral para derrubar Duque
Esta luta deve incluir reivindicações de punição de todos os responsáveis pela repressão, tanto as forças repressivas quanto os líderes políticos. Junto a isso, a reivindicação pelo fim dos acordos com os Estados Unidos que militarizaram o país com a desculpa do combate ao narcotráfico e a dissolução da polícia, principal instrumento de repressão e apoio aos negócios do "narco-estado".
Saiba mais: A explosão da luta de classes na Colômbia é um alerta a Bolsonaro e à direita regional