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CONTRA AS DEMISSÕES NA GM | Depois de extrair lucros bilionários, a General Motors colocará centenas de famílias na rua

Com o anúncio no dia 30 de janeiro de mais 517 demissões na planta de São José dos Campos, já são milhares de famílias que a General Motors colocou na rua desde 2014, só no Brasil.

terça-feira 2 de fevereiro de 2016 | 01:00

Utilizando de suspensões do contrato de trabalho (layoff’s), banco de horas e planos de incentivos a demissões voluntárias (PDV) a multi-nacional norteamericana General Motors está aplicando uma verdadeira reestruturação produtiva em todas as plantas da América Latina. De acordo com informações da própria empresa, a GM terminou o ano de 2014 empregando 10% a menos pessoas na América do Sul do que em 2012 e pretende enxugar ainda mais o número de trabalhadores.

Somente no Complexo de São José dos Campos, em fevereiro de 2015 o site do G1 informava que a empresa possuía 5.300 trabalhadores na planta, 6% dos quais estariam lesionados e com estabilidade garantida. Um ano depois, o Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de SJC, Antônio Macapá, afirma que esse número já estaria reduzido a 4.700 funcionários.

As justificativas da empresa para as demissões seriam as dificuldades das economias emergentes, em especial do Brasil, que estariam afetando o mercado interno do país e, mais conjuntamente, de toda a América Latina, além da alta do dólar. Na tabela abaixo podemos observar o número de veículos da General Motors vendidos no Brasil nos últimos 10 anos:

Veículos vendidos no Brasil

2005 – 365.259
2006 – 409.922
2007 – 498.693
2008 – 548.941
2009 – 595.536
2010 – 657.724
2011 – 632.219
2012 – 642.649
2013 – 649.792 (líder nacional de vendas)
2014 – 578.701 (líder nacional de vendas)
2015 – 446.758 (líder nacional de vendas)

Podemos observar que, ainda que nos últimos dois anos tenha havido uma queda na venda dentro do mercado interno, não só todos os demais oito anos foram de aumento meteórico na venda de unidades no país como, mesmo em queda, a GM se manteve em primeiro lugar no ranking dos mais vendidos. Seu lucro líquido cresceu 302% somente no segundo trimestre de 2015.

Com absoluta certeza esse aumento de vendas – e aumento exorbitante do lucro da GM – também veio acompanhado de uma maior exigência e aumento extenuante na jornada e exploração do trabalhador para dar conta do aumento da produtividade. Agora, com as vendas diminuindo, em vez de diminuir a jornada de trabalho, mantendo o mesmo salário, para manter o emprego de todos os trabalhadores, a patronal joga milhares de famílias nas ruas!

Frente a essa proposta, a empresa, então, alega prejuízo financeiro, e que tal saída (garantia do salário e do emprego daqueles responsáveis pelos anos de ouro da GM) seria impossível. Vejamos a tabela abaixo:

Lucro global líquido da GM

2010 – US$4,7 bilhões
2011 – US$7,9 bilhões
2012 – US$4,9 bilhões
2013– US$3,8 bilhões
2014 – US$2,8 bilhões
2015 – US$3,4 bilhões (de janeiro a setembro)

Parte desse cenário positivo está ligado às posições que a GM recuperou no mercado europeu no último ano. Isto também ajuda a entender a situação financeira da gigante norteamericana, “Em que pese o amargo 2015 para a indústria automobilística, a GM tem motivo para festejar. Além do Chevrolet Onix ter sido o modelo mais vendido no Brasil em 2015 (125,9 mil automóveis), a picape média S10 foi líder em sua categoria (33,3 mil unidades). Com o motor de até 206 cavalos e seis versões de acabamento, a S10 completou duas décadas de liderança no segmento, desde 1995.”

Após vir de uma sequência de ao menos quatro anos no vermelho, a General Motors foi atingida diretamente pela crise da bolha imobiliária nos EUA e pela quebra do Lehman Brothers em 2008, tendo que assumir concordata com o governo norte-americano e declarar falência em junho de 2009. Após o plano de reestruturação que demitiu milhares de trabalhadores nos EUA, retirou o plano de saúde, flexibilizou os novos contratos de trabalho e teve a injeção de US$49,5 bilhões de dólares pelos governos dos EUA e Canadá, a GM retornou a Bolsa de Valores em novembro de 2010 arrecadando de uma só vez US$20,1 bilhões de dólares.

Como demonstrado na tabela, desde então a General Motors acumulou um lucro global líquido de US$27,5 bilhões, sem contar as ações na bolsa que, com oscilações, se mantém estável em torno do seu valor inicial de cotação de US$33,00. A sua receita saltou 14,26% de 2010 até 2013, chegando a US$155,4 bilhões.

Inúmeras mídias tentam justificar essa contradição – aumento absurdo de lucro global e fechamento de postos de trabalho na América Latina –, apontando o aumento do consumo interno nos EUA e as taxas de lucro obtidas na China como “contra-tendência ao processo de recessão e prejuízo que a empresa vem obtendo na América Latina, em particular, no Brasil”, como uma justificativa de que seria mais vantajoso para os lucros da GM transferir o peso de sua produção para esses locais, independente de que isso signifique colocar milhares de famílias nas ruas.

A última tabela abaixo, que demonstra o EBIT (sigla em inglês para Lucro Antes dos Juros e Tributos), que apresenta qual é o verdadeiro lucro contábil a partir das atividades genuinamente ligadas ao negócio, isto é, o quanto a empresa obteve de lucro se só considerasse as operações realizadas pela atividade fim da empresa.

Ebit da GM na América do Sul

2006 – 540 milhões positivos
2007 – 1.300 milhões positivos
2008 – Sem dados disponíveis
2009 – Sem dados disponíveis
2010 – 818 milhões positivos
2011 – 100 milhões negativos
2012 – 300 milhões positivos
2013- 327 milhões positivos
2014– 180 milhões negativos

O Ebit contabilizado pela divisão General Motors of North America (matriz norteamericana) foi de US$ 8,25 bilhões, expressivos 87,6% maior do que os US$ 4,4 bilhões apurados em 2014 até setembro. Englobando Ásia-Pacífico, África e Oriente Médio, os resultados da divisão GM International Operations (GMIO) continuam positivos, com Ebit de US$ 989 milhões em nove meses, 19,7% acima dos US$ 826 milhões apurados em idêntico intervalo do ano passado.

Ainda que não haja dados disponíveis dos anos de 2008 e 2009, o presidente da divisão sulamericana, Jaime Ardila, afirmou frente aos dados de 2010 que “esse seria o quarto ano consecutivo de lucro da região” e que “a receita na América do Sul em 2010 aumentou em cerca de US$ 2 bilhões em relação a 2009”. Afirmações essas que, se somados com os dados apresentados na tabela sobre os lucros da GM na América do Sul, demonstra que o balanço dos últimos 9 anos na região é bem superior a US$3 bilhões de dólares de lucro!

Por todos esses motivos não podemos aceitar uma demissão sequer na General Motors e em nenhuma montadora no Brasil. Marcelo Pablito, direto do Sintusp, afirmou ao Esquerda Diário "O que está por trás das demissões e ataques aos trabalhadores não passa da intenção da patronal de retirar ainda mais do nosso suor com um aumento da exploração de nosso trabalho para manter seus lucros bilionários, como mostramos com dados concretos. Precisamos cercar os trabalhadores da GM de solidariedade para impedir mais essa demissão em massa e organizar uma campanha nacional juntos dos sindicatos de esquerda e centros acadêmicos, para darmos grandes batalhas contra qualquer tentativa de demissão. Uma grande batalha contra a GM seria um testemunho a todo o movimento operário nacional, a todas as categorias, de que é possível lutar e vencer para manter os postos de trabalho. Estamos desde o MRT à disposição para mover esta batalha contra a empresa. É preciso que a CSP-Conlutas e o PSTU - que dirige a central - lance um chamado de solidariedade a todos os sindicatos ligados à Conlutas, e também às bases da CUT, CTB e outras centrais sindicais, que exijam de suas direções expressarem ativamente uma campanha contra as demissões em São José dos Campos, para que os trabalhadores exijam de suas direções que encampem a campanha de solidariedade".

Dados extraídos também dos sites:
http://www.anfavea.com.br/tabelasnovo.html
http://carros.ig.com.br/ranking/home/01.html




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