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Rio | Depois de cortar da Saúde, Crivella contrata contêineres para guardar corpos de vítimas da Covid-19

Neste sábado (25), imagens foram registradas da entrega de três contêineres frigoríficos ao Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, em Acari, na Zona Norte do Rio de Janeiro. A Prefeitura informou que os contêineres servirão para expandir a capacidade do necrotério do hospital, que é considerado unidade de referência no tratamento dos casos de coronavírus na cidade.

segunda-feira 27 de abril de 2020 | Edição do dia

Até o momento, o município do Rio de Janeiro registra 4.498 casos confirmados e 382 mortes pela doença, desconsiderando a ampla margem que não é contabilizada nas estatísticas oficiais devido à altíssima subnotificação dos casos, uma vez que o Brasil é um dos países com menor índice de testes no mundo.

Conforme salta a curva de contágio e de mortes pelo vírus no estado, o sistema público de saúde no RJ rapidamente caminha para um quadro de colapso, com leitos de UTI do SUS já beirando sua capacidade máxima, o crescimento das filas para o atendimento e a ausência da entrega dos dez hospitais de campanha prometidos por Witzel e Crivella, devido à falta de respiradores e funcionários. Na semana passada, uma reportagem do G1 noticiou que haviam 9 leitos de UTI disponíveis para casos de Covid-19 em toda a rede estadual, enquanto 561 pessoas aguardavam transferência para receberem tratamento. A situação de profunda crise sanitária deflagrada pela epidemia escancara a precarização estrutural do sistema de saúde fluminense: como se chegou até aqui?

Esta foi uma crise construída por Crivella, em conluio com os ataques de Witzel e Bolsonaro. Basta lembrar da ação apresentada pelo governo do estado ao STF no fim do ano passado, que permitiu que o Rio de Janeiro, maior estado produtor de petróleo no país, fosse desobrigado a destinar parte dos lucros de royalties da extração às áreas da saúde e educação. As condições de vida nas favelas e comunidades do Rio de Janeiro, com maior densidade populacional e menores índices de saneamento básico, são em si um cenário drástico para a rápida propagação do vírus entre a população periférica. Já o Ministério da Saúde, quando já estava aberta a crise do Covid-19 no país, anunciou em 12 de março a entrega do ínfimo número de 2 mil leitos de UTI para o atendimento dos casos graves; mais de 40 dias depois, somente 350 desses leitos foram de fato entregues, em apenas 12 estados.

Fica claro que se estamos em guerra contra a epidemia, todo o aparato do Estado e os recursos provenientes da extração de riquezas do país – só em 2018, o estado do Rio recebeu R$7 bilhões em royalties da participação especial na extração de petróleo – não estão sendo destinados ao combate do vírus, e que esta crise será paga pelos trabalhadores que morrem nas filas esperando atendimento. Enquanto isso, no fim de março, o governo não hesitou em injetar mais de R$1 trilhão no sistema financeiro para resguardar o lucro de alguns poucos, enquanto cumpre o pagamento religioso da dívida pública às potências imperialistas e aposta com as vidas dos que sustentam a sociedade com seu trabalho. O colapso do sistema público de saúde, após anos de cortes de verba e ataques aos trabalhadores da área, também se anuncia com a chocante imagem dos frigoríficos recebidos pelo Hospital Ronaldo Gazolla, porque os mesmos que aplicam os ataques sabem que apostam numa estratégia impotente de combate à epidemia.

Para que a saúde e a vida da população sejam de fato uma prioridade neste momento, as necessidades desta crise poderiam ser respondidas pelos próprios trabalhadores a gerirem o sistema público de saúde. São estes os que hoje estão na linha de frente da luta contra o vírus, mas não podem contar com os governos na garantia de direitos mínimos para proteger suas vidas, para realizar um combate científico e racional à epidemia e para que a vida de alguns não valha mais do que a de outros – como seria se houvesse testes massivos para toda população, EPIs, respiradores, contratações emergenciais de funcionários e disponibilização dos leitos dos hospitais privados para garantir o atendimento a todos que necessitem.




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