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DEPOIMENTOS - TRABALHADORAS TERCEIRIZADAS DA USP | Depoimento de trabalhadoras terceirizadas escancara descaso e cinismo da Reitoria da USP

Conversamos com trabalhadoras terceirizadas da USP, que nos relataram as condições absurdas a que a universidade as submete ao trabalho em plena pandemia.

quinta-feira 9 de abril de 2020 | Edição do dia

O Esquerda diário conversou com duas trabalhadoras terceirizadas da empresa Gramaplan, que fornece serviço a USP. A Universidade de São Paulo, desde 17/03 suspendeu as aulas presencias no campus, liberando assim professores e alunos de frequentar o campus, porém, para os trabalhadores em geral não foi tão fácil assim. A reitoria teve que retroceder paulatinamente e liberou uma parcela dos trabalhadores efetivos, ficando os funcionários do Hospital Universitário ainda em atividade. Mas os trabalhadores terceirizados, que em sua grande maioria são do setor da limpeza, mesmo depois de quase um mês sem aulas, com bandejões central e da Física parados, são obrigados a continuar a trabalhar como se nada estivesse acontecendo.

O caráter segregacionista que a USP implementa entre terceirizados e efetivos fica escancarado, aplicando dois pesos e duas medidas que afetam diretamente o setor mais precarizado da Universidade. Enquanto isso, o reitor Vahan, demagogicamente publica uma nota na qual descreve um cenário irreal em que supostamente tudo estaria bem, quando na verdade trabalhadores em grupo de risco não são liberados, ou até mesmo tem que comprar do próprio bolso os EPI’s necessários para sua segurança. Vimos a trágica consequência disso com a morte de Manoel Nunes de Souza, trabalhador terceirizado e idoso que contraiu a doença por não ter sido liberado pela empresa e pela USP.

A reitoria atua com um tremendo descaso com esse setor da universidade, se escondendo atrás de um contrato terceirizado, “lava as mãos” ao não se responsabilizar por esses trabalhadores e, assim, fica na mão das empresas a responsabilidade, e essas demitem, negam licença, negam material de proteção, perseguem e colocam a vida dessas pessoas em risco em nome de seguir lucrando. Deixamos abaixo os relatos dessas suas trabalhadoras:

ED: Como está a situações de vocês aqui? as pessoas que estão no grupo de risco estão trabalhando ou não, como está essa nova rotina?

Então a gente aqui não tem vírus, nenhuma das meninas da limpeza, não estou sabendo de nenhuma que tenha.

ED: E o grupo de risco mais velho de 60 anos...

Os que têm mais de 60 anos foram liberados deram férias...

ED: Férias!...

Sim, eles deram férias a um senhor que tinha mais de 65 anos e uma senhora que tinha diabetes, pressão alta. Tinha outra menina também que saiu de férias, ela estava com asma. Aí eles liberaram os três de férias.

ED: O equipamento de segurança de vocês mudou em alguma coisa?

Não, nada. Só temos a luva mesmo, não temos máscara nada para proteger a gente, só a luva.

ED: Está tudo "normal" por aqui? Nos prédios, a escala...

Tá, só diminuiu duas horas. A gente entrava das 6h às 15h, aí a gente está entrando das 7h às 13h. Mas tem prédio que não deixa a gente entrar, no F mesmo, não deixa a gente entrar.

ED: Mas por quê?!

Eles falaram que não precisava a gente entrar, porque eles falaram que iriam ajudar a gente a limpar.

ED: Os moradores...

Isso. Tem uns que deixam entrar, outros que não deixam.

ED: Isso implica em algum problema para vocês?

Não, nada. O negócio é que eles têm medo da gente, e nós temos medo deles, porque como eles não sabem se possuímos a doença, a gente também não sabe se eles têm e também não temos nenhuma proteção.

.........

ED: Então não mudou nada praticamente?

Só os banheiros que eu limpo lá, depois manda a gente varrer aqui e acolá e subir nos prédios e pronto, mas a gente tá no horário normal, nós do restaurante e a menina da guarita.

ED: E teve algum caso suspeito entre vocês?

Não, entre nós funcionários? Não teve caso não.

ED: É que é um absurdo né, além de vocês estarem no restaurante que não está funcionando você ainda tem que que vir pegar, sair de casa...

Pois é, é isso que eu acho... reduziu o horário das outras e não reduziu o nosso.

ED: E entre vocês tem alguém que é grupo de risco, que tem alguma doença ou tem mais de 60 anos?

Tem, mas aí ta afastado... ta de férias.

ED: Ta de férias?

Deram férias, foi, não deixaram em casa.

ED: Então quer dizer que a pessoa não vai poder sair de férias depois né?

Não, a pessoa ta em casa mas tá de férias.
......

Em outro depoimento afirma:

“A empresa falou para nós pra gente comprar porque a empresa não tem pra fornecer pra nós, eles têm que dar a máscara. A luva, passamos duas ou três semanas com a mesma luva. Quando pedimos a encarregada fica enchendo o saco, então acho que eles deveriam fornecer luva suficiente, máscara e álcool em gel para nós, porque é necessário”.

Como dito em outro depoimento por uma dessas trabalhadoras:

“quantas terão que morrer até que sejamos liberadas?”, a atividade de limpeza dos espaços comuns da universidade não é um serviço essencial, uma vez que as atividades estão paralisadas. Nada além de um profundo elitismo e racismo explica a situação na qual se encontram. Dois funcionários da USP já morreram pelo Coronavírus, um efetivo e outro terceirizado, o primeiro, Viola, negro, de 43 anos, sem doença prévia, trabalhador da Escolha de Artes Ciências e Humanidades (USP Leste), e o último, Manoel, com mais de 70 anos, e que não foi liberado até morrer.

Viola Presente!! Manoel Presente!!




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