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CASO MIGUEL | Delegado do caso Miguel já prendeu injustamente um jovem negro e um trabalhador

A morte do menino Miguel será tratado por um delegado que tem histórico de expor sem provas acusados e prender injustamente jovens negros. É preciso uma investigação independente.

domingo 7 de junho de 2020 | Edição do dia

“Se eu não tivesse ido à delegacia, só iria saber da detenção do meu irmão pela TV”, disse familiar. O caso Wilson tomou repercussão nas redes sociais. Foi preso injustamente e só solto 9 meses depois. O Delegado é o mesmo que tratará da morte brutal do menino Miguel.

A família do acusado e os advogados acusam os policiais comandados pelo delegado Ramon Teixeira de mentirem para os suspeitos no ato da condução para a delegacia. Bruno, outro homem que também é negro, teve o mesmo tratamento.

Segundo o inquérito policial comandado por Ramon Teixeira, os nomes dos dois constariam de cadastro da Secretaria de Defesa Social de praticantes de atos ilícitos na região. Mas nem Wilson nem Bruno haviam sido detidos ou respondido a qualquer ação na Justiça antes de serem presos pelos policiais da Delegacia de Boa Viagem.

O crime teve ampla repercussão na mídia por atingir um grupo empresarial importante, dono de uma das principais imobiliárias do Recife. Também trazia outros elementos midiáticos, como o fato de o assalto à mão armada – executado por pelo menos quatro homens – ter acontecido num bairro nobre em plena luz do dia.

“Quando você compara as imagens captadas no assalto com as imagens do rapaz preso você vai ver que não é a mesma pessoa. O formato do rosto é distinto… Trata-se de um erro judicial claro e nós, para chegarmos a essa conclusão, fizemos uma ampla análise da investigação, do processo, inclusive a investigação produzida pela defesa é muito mais consistente do que a conclusão a que chegaram o Judiciário e a polícia”, explicou o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, Cláudio Ferreira ao Marco Zero Conteúdo.

A prática do delegado indica que ele expõe qualquer corpo negro e os acusa de crimes que não cometeram para dar respostas para a opinião pública de uma suposta eficiência da polícia. O fato é que isso viola o princípio de que o suspeito não é culpado até que se prove o contrário.

É tão grosseiro essa prática que um trabalhador do Pará foi indiciado no PE pelo delegado Ramon Teixeira, que foi detido por um mês e quatro dias em Santarém, em meados de 2019. O pedreiro nunca havia saído do Pará e não poderia ter cometido qualquer crime em junho de 2018 em Boa Viagem, no Recife. A Justiça acabou o inocentou das acusações apresentadas no inquérito policial.

O mesmo tratamento foi dado pelo delegado em julho de 2019, a duas mulheres negras que foram presas pela equipe de Ramon e acusadas de assalto em outro bairro nobre do Recife, o Poço da Panela, na zona Norte. As duas foram expostas no dia da detenção para a imprensa com banner da Polícia Civil em destaque atrás delas. Suas imagens compuseram as matérias de algumas TVs da cidade.

William Xavier da Silva, irmão de Wilson, que foi preso injustamente, está preocupado com a condução da investigação da morte do menino Miguel por esse delegado:

“O tratamento dado a uma suspeita branca e milionária de família influente é completamente diferente daquele dado a um suspeito preto, de classe operária e de família humilde. Embora os dois casos estivessem com a mesma pessoa, o centro da balança é o mesmo, mas o peso é diferente. No caso do meu irmão, Wilson, a polícia repassou o nome completo e foto para a imprensa e até em grupos de Whatsapp. Teve matéria de imprensa em que nem tomaram cuidado de usar termos como suspeito ou investigado. Usaram o termo assaltante e criminoso. Cabe agora a todos nós unirmos forças para apoiar dona Mirtes porque ela está no mar remando num barquinho cheio de tubarões em volta. É esse o meu sentimento.”

O mesmo racismo que matou João Pedro, Miguel e George Floyd é o que mata por COVID-19. O caso de Miguel, uma criança de apenas 5 anos que morreu pelas atitudes criminosas de uma mulher rica, patroa de sua mãe, enquanto esta passeava com os cachorros da mulher que permitiu que seu filho caísse do nono andar, é mais uma face desse racismo. É uma história que conta muito: fala do maior batalhão da classe trabalhadora em nosso país, o das empregadas domésticas, mais de sete milhões – quase todas mulheres negras – que seguem sofrendo a mais inclemente exploração em meio à pandemia. Um “serviço essencial”, segundo os setores da classe dominante que, apesar de lhe pagarem salários miseráveis, não conseguem viver sem uma trabalhadora que cozinhe, lave, passe, cuide de seus filhos, passeie com seus cachorros.

É muito significativo da continuidade da trama racista desse caso que seja um delegado com esse histórico tome o inquérito. É preciso uma investigação independente desse caso. Que o Estado garanta recursos e todas as condições para a realização de uma investigação independente, disponibilizando todos os materiais, arquivos que possuir para organismos de direitos humanos, peritos especialistas comprometidos com a causa, representantes de organismos de direitos humanos, de sindicatos, de movimentos de favelas, etc, que sejam parte da investigação.

Com informações da Ponte Jornalismo.




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