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Eleições 2018 - debate governo do RJ | Debates dos candidatos a governador do RJ e na UERJ: uma expressão gráfica da crise

Nos últimos dias 02 e 03 de outubro aconteceram dois debates com os candidatos ao governo do estado do Rio de Janeiro. O primeiro foi transmitido pela Globo, e reuniu praticamente todos os candidatos. O segundo ocorreu na UERJ e estiveram presentes os candidatos do PSOL, Tarcísio Mota, Márcia Tiburi do PT, Pedro Fernandes do PDT, Luiz Eugênio do PCO, e Pedro Vilas Boas do PSTU.

sexta-feira 5 de outubro de 2018 | Edição do dia

No debate transmitido pela Globo houve de tudo. Adaptando o autoritarismo do Judiciário, houve proibição de entrada de pessoas vestidas de vermelho na plateia. Mas o que mais chamou a atenção foi a decadência absoluta dos porta-vozes políticos dos interesses capitalistas, que fez com que o debate a governador do Rio de Janeiro fosse, para usar os termos claramente, uma grande baixaria. Uma expressão gráfica da crise e da decadência, não apenas econômica e política do estado do Rio de Janeiro, mas da própria classe capitalista que está descarregando essa crise que eles criaram nas costas dos trabalhadores e do povo.

Os reacionários Wilson Witzel (PSC), aliado da escória de Bolsonaro, e Índio da Costa (PSD) protagonizaram um show de reacionarismo. Wilson Witzel reafirmou que se eleito faria com que o Estado matasse ainda mais trabalhadores e pobres sob a alegada repressão aos bandidos. Ainda houve a lembrança de que Eduardo Paes, que lidera as pesquisas, seria aliado às milícias, por parte de Índio da Costa, que por sua vez como bom golpista que é defendeu a prisão de Lula. Romário (Podemos) também foi lembrado pela acusação de ter ocultado patrimônio, e trocou ofensas com Wilson Witzel e Eduardo Paes. Eram os sujos falando dos mal lavados.

Nesse contexto Marcia Tiburi foi a única a denunciar com peso a intervenção da Lava Jato e do Judiciário tornando essas eleições uma farsa manipulada, e dialogou com quem assistia aos debates afirmando ser esse um espetáculo patético. Mas escondeu as negociações que Haddad já está fazendo com os mesmos golpistas de 2016, e as declarações de que se eleito seguiria com os planos de ataques, como a reforma da previdência.

Já Tarcísio Motta, apesar de se separar da decadência que permeou grande parte do debate, não defendeu um programa claramente anticapitalista para a crise que assola o Rio de Janeiro. Limitou-se a dizer que haveria que “debater” a questão da dívida pública, sem defender que deixe-se de pagá-la. Como já ocorreu antes, tampouco expressou uma denúncia à intervenção da Lava Jato e do Judiciário nas eleições, e seguiu defendendo o mesmo programa reacionário de “mais inteligência” para a Segurança Pública.

Mas no debate realizado na UERJ na manhã de 03 de outubro, com dois auditórios cheios com um plenário composto em sua maioria por estudantes da universidade, em grande parte negros e negras por ser a UERJ uma das primeiras universidades do país a adotar as cotas, outros elementos chamaram a atenção. Todos os candidatos presentes tentaram se localizar mais à esquerda. A maioria dos candidatos da direita, com exceção de Pedro Fernandes do PDT e Marcelo Trindade do NOVO, não estavam presentes.

O debate sobre o fortalecimento da extrema-direita racista, machista e homofóbica representada pelo Bolsonaro para além das eleições, bem como a necessidade de acabar com a extrema manipulação do Judiciário e da Lava Jato, e a denúncia da absurda falta de respostas há quase 7 meses do assassinato de Marielle Franco e a reivindicação do fim da intervenção federal, que se combina a uma politização crescente do exército, tiveram pouca expressão no debate. Quando parte desses elementos surgiu, principalmente a partir das intervenções do PT isso se deu com a limitação de convencer a votar no Haddad, e não sob a forma de um chamado para a organização dos trabalhadores e dos estudantes para responder a essas questões.

Além disso, mesmo com a ausência de figuras como Eduardo Paes e Romário, também houve muita hipocrisia e promessas de ataques neoliberais no debate da UERJ. Marcelo Trindade, do neoliberal NOVO quis convencer que resolveria o problema do transporte público do Rio com novas licitações e consórcios, algo que só favorece os grandes monopólios capitalistas. Reafirmou que ampliar o metrô da cidade não é “realista” porque não haveria dinheiro, obviamente porque ele defende seguir garantindo a política feita por e para os capitalistas, pois nem lhe passa pela cabeça deixar de pagar a imensa dívida pública ou combater a privatização da Petrobras para garantir Saúde e Educação para os trabalhadores e o povo. Pelo contrário, quanto mais riquezas que deveriam ser dos trabalhadores e do povo forem entregues aos capitalistas melhor, em sua opinião. Um típico político neoliberal, capitalista e de direita, que quer convencer que “atrair capital privado”, o mesmo que ataca os trabalhadores, seria a resposta dos problemas do Rio.

Já Pedro Fernandes do PDT demagogicamente tentou se colocar como um político progressista, chegando inclusive a arrancar aplausos. Dizendo que se “orgulha de não usar os privilégios” como deputado, escondeu que sempre atuou em benefício dos políticos mais corruptos e privilegiados do Rio de Janeiro. Quem o aplaudiu simplesmente esqueceu que Pedro Fernandes, filho da vereadora Rosa Fernandes (MDB), passou quase um ano na Secretaria de Assistência Social de Crivella, mudando do Solidariedade em busca de qualquer partido que o abrigasse, e antes de chegar no PDT tentou o MDB, o PHS e o próprio PRB de Crivella. O PDT do Rio de Janeiro o acolheu porque nada tem de progressista inclusive. A única explicação para isso é a adesão que a candidatura direitista de Ciro Gomes, com Kátia Abreu porta-voz dos latifundiários como vice, vem tendo pelo medo da vitória de Bolsonaro inflado pelas pesquisas do Datafolha, Ibope e da Folha de S Paulo. Porém, Pedro Fernandes foi ex-secretário de ninguém menos que Cabral, Crivella e Pezão, além de defender abertamente os ataques aos trabalhadores declarando que governará com “austeridade”. Além disso, também anunciou que aumentaria a repressão policial, o que significa na prática mais assassinato no povo negro e pobre da favela.

Tarcísio Motta do PSOL emergiu como o favorito do debate. Quando se tratava de temas relacionados ao estado do Rio de Janeiro, denunciou novamente a “máfia do PMDB”, afirmando que os sonhos não cabem nas urnas, mas ao mesmo tempo colocando que “estamos disputando para valer, para mostrar que pode ser diferente do que é”. Sobre a universidade defendeu que era necessário garantir acesso e permanência. No âmbito nacional ressaltou, para responder Marcia Tiburi do PT, que Haddad pactuou com os interesses dos capitalistas, quando esteve nos governos do PT como ministro da Educação. No entanto, se esquivou a colocar claramente que haveria que deixar de pagar a dívida pública, ou lutar por uma Petrobras e o pré-sal completamente estatal, sob gestão dos petroleiros, e com controle do povo para financiar as demandas dos estudantes da UERJ e demais universidades. Tampouco denunciou a absurdidade da Lava Jato e das manobras do Judiciário, que estão impondo eleições farsescas e totalmente manipuladas, agora em favor da escória representada por Bolsonaro.

Márcia Tiburi defendeu que o PT foi a “esquerda que faz”, e que as diferenças que existem entre a esquerda seriam produto de narcisismo, e a necessidade de unificar a esquerda contra o fascismo. Não detalhou as propostas do PT para a universidade, colocando o eixo de sua intervenção na necessidade de “unificar as esquerdas” em torno de Haddad. Foi a única que colocou a denúncia sobre a Lava Jato e o autoritarismo judiciário nas eleições, reafirmando corretamente que essas não são eleições normais. No entanto, não colocou qualquer crítica, como não poderia deixar de ser, aos pactos que Haddad acenou fazer com os golpistas. Quando parte do plenário manifestou apoio a Ciro Gomes, Marcia Tiburi se enervou, mas tampouco pôde responder ao fato de que o PT privilegiou os acordos com a direita golpista e bloqueou a luta dos trabalhadores, o que por sua vez abriu o caminho para o surgimento de uma ultradireita nacionalmente, e no Rio de Janeiro, na figura odiosa de Bolsonaro.

O PSTU buscou se colocar como ala mais à esquerda do ponto de vista programático, colocando a necessidade do não pagamento da dívida pública para garantir Saúde e Educação. No entanto, tampouco expressou qualquer saída clara para o combate à ultradireita que se fortaleceu, como um produto do golpe institucional de 2016 ao qual apoiaram com sua política de “Fora Todos”.

Portanto, apesar do debate da UERJ ter sido bastante distinto que o da Globo que foi uma sucessão de acusações decadentes entre os candidatos dos partidos capitalistas, fez falta uma proposta clara para acabar com o autoritarismo crescente no corroído regime político do país, e o eixo na necessidade de combater a ultradireita de forma independente do PT, através da mobilização dos trabalhadores, ligando de maneira clara às demandas econômicas que precisam ser impulsionadas pelos trabalhadores para que os capitalistas e os corruptos paguem pela crise do Rio de Janeiro. São urgentes, e cumpririam um papel enorme se nessas eleições se debatessem medidas que liguem a necessidade de acabar com o ataque ao direito do voto pelo Judiciário e Lava Jato, com a radicalização desse direito através da eleição de representantes revogáveis em uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana na qual se imponha o não pagamento da dívida pública, a nacionalização do pré-sal sob controle dos trabalhadores, bem como da Petrobras, e a eleição e revogabilidade de todos os juízes e políticos que devem ganhar o mesmo que uma professora.




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