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COTIDIANO OPERÁRIO | Debaixo de sol ou chuva, a sede de lucro dos aplicativos não para

Relato e denúncia de um cotidiano operário no Rio de Janeiro.

segunda-feira 28 de setembro de 2020 | Edição do dia

Nesta semana que passou vimos uma série de temporais que pegaram em cheio a vida de trabalhadores em algumas capitais pelo país, principalmente aqueles que moram em favelas e periferias, que por falta de um plano de urbanização e planejamento seguem sofrendo com as chuvas, perdendo casa, tendo suas ruas alagadas, etc. Além disso, muitos entregadores seguiram trabalhando “normalmente” mesmo sem nenhum equipamento, sendo obrigado pelos aplicativos a arriscarem suas vidas no meio dos temporais. Chocou ver a cena de um entregador atravessando a avenida Jardim Botânico no Rio de Janeiro totalmente alagada, colocando em risco a própria vida por entregas que muitas vezes não passam de 3,50.

Segundo uma denúncia de um entregador da Rappi ao Esquerda Diário, que prefere manter seu nome em sigilo por medo de ser bloqueado pelo aplicativo, nos dias de chuva não pararam de chegar “promoções” da empresa, muitas delas adicionando 3 reais por entrega. Ou seja, o entregador, seja de moto ou bike, que nem sequer ganha uma capa de chuva, expõe seu corpo ao frio durantes horas de trabalho, podendo cair e se ferir gravemente por conta da visão embaçada e das ruas escorregadias, por uma entrega que no melhor dos casos não chega a 7 reais. Essa é a lógica das empresas como Uber Eats, Rappi, Ifood e tantas outras, colocam uma taxa de entrega baixíssima por entrega e você é literalmente obrigado a trabalhar todos os dias, incansavelmente, faça chuva ou faça sol.

Nos dias de chuva, entre um pedido e outro você tem que se esconder embaixo das marquises pra poder esperar a próxima entrega, debaixo de frio, muitas vezes molhado. Quando cai o pedido sabe que vai encarar alguns quilômetros debaixo de chuva. Nessa hora também se lembra que as contas chegam todo mês, que o arroz tá caro e no final do dia tem que ter alguma coisa pra botar na mesa. Essa vida de muitas trabalhadoras e trabalhadores de entrega por aplicativo, a realidade da juventude negra que, quando não está desempregada, arrisca sua vida pedalando horas por dia sem o mínimo de proteção como vem sendo durante toda a pandemia. Isso mostra que o entregador que precisa trabalhar debaixo de chuva ou sol, todos os dias, não é um microempreendedor que escolhe seus dias e horários de trabalho, como as empresas de aplicativos querem que a gente acredite. Isso é uma grande mentira a precarização do trabalho faz com que o entregador tenha que sair de casa pra poder comprar de comer pra família, pagar suas contas, mesmo com a cidade toda alagada, como foi semana passada. Por isso dizemos que nossas vidas valem mais que os lucros deles!

Na verdade, as empresas e os burgueses querem impor que esse é o novo normal, onde trabalhamos durante horas e ganhamos muito pouco. A precarização do trabalho é a forma como eles tentam descontar nas nossas costas a crise em que vivemos, Bolsonaro minimiza as quase 140 mil mortes por covid, vírus que pegou em cheio os trabalhadores da linha de frente, as terceirizadas, as domésticas, trabalhadoras da saúde, garis, motoristas de Ônibus e tantos outros. Essas mortes não apenas tem classe, mas também tem cor, são em sua maioria negras, são das periferias e favelas de todo país, e não vemos de nenhuma instituição do regime sequer comoção com nossos mortos.

Seguimos trabalhando normalmente, muitos de nós foram demitidos esperando um auxílio que mal chega direito e agora vai ser cortado pela metade por Bolsonaro e Guedes. Se os de cima estão junto pra nos atacar, temos que nos organizar também, vamos nos organizar e juntar nossas forças sem confiança nenhuma nesses políticos burgueses, construindo uma rede de trabalhadores contra a precarização do trabalho, denunciando os abusos dos patrões, os assédios morais de cada dia, a exploração e o racismo que vivemos diariamente nos nossos locais de trabalho.




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