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OPINIÃO | Das ocupações de escola para às ocupações de fábrica

Um debate com o PSTU de como fazer a luta da Sun Tech de São José dos Campos triunfar

quinta-feira 10 de dezembro de 2015 | 02:06

Foto: Lucas Lacaz

As ocupações das escolas estaduais protagonizadas pelos estudantes secundaristas do estado de São Paulo contra a reorganização escolar mostraram, ainda que inicialmente, que os estudantes, junto com os professores e funcionários, podem construir uma nova escola. Para o Estado pagar a dívida externa e interna, cumprindo seus compromissos com os bancos e grandes empresas, ele tem que atacar direitos básicos dos trabalhadores, como a educação, mostrando que nem ele e muito menos a iniciativa privada podem decidir os rumos da educação pública.

É fundamental extrair as lições sobre as ocupações das escolas. Os estudantes, organizados nas suas comissões, conseguiram decidir questões sobre a limpeza da escola, segurança, a organização de atividades e aulas, comida e as normas da escola, mostrando que não é preciso ter “pessoas iluminadas” para poder decidir os rumos da educação pública. As ocupações das escolas estão ocorrendo num período onde o país passa por uma crise econômica. Para fazer com que os trabalhadores e a juventude paguem pela crise, o governo federal e os governos estaduais realizam imensos cortes na educação, saúde, transporte e moradia, mas também estamos vendo uma forte onda de demissões e fechamento de inúmeras fábricas. Perante a este cenário cabe o seguinte questionamento: como enfrentar as demissões e o fechamento das fábricas?

Tudo que é produzido na nossa sociedade é feito pela classe trabalhadora e também é ela que tem o conhecimento de como é produzido. Por sua vez, os meios de produção, que a classe trabalhadora utiliza para locomover a sociedade, estão nas mãos da burguesia, que vive de lucrar com o trabalho alheio. Os grandes empresários e os bancos, para se manterem como tal, precisam impor a fome e a miséria para a grande maioria da sociedade e com isso gerando grandes crises econômicas.

Quando falamos de fechamento de fábrica, os patrões alegam que não tem dinheiro para continuar funcionando e com isso a saída é fechar a porta e mandar milhares de trabalhadores pra rua. Mesmo lucrando com a exploração de milhares de trabalhadores para poder se manter, se o patrão não consegue gerir a fábrica, então é preciso que os trabalhadores façam como os estudantes secundaristas de São Paulo e comecem a ocupar as fábricas, colocando pra produzir sob controle operário.

Frente ao cenário de crise e demissões que o país vive, é preciso construir um movimento nacional contra os ajustes, a partir da CSP-Conlutas, Intersindicais, e todos os sindicatos e oposições da esquerda, em conjunto com a juventude e os demais setores oprimidos da sociedade. Esse movimento contra os ajustes tem que se contrapor tanto a fração da burguesia que está no governo e que é apoiada pela CUT, mas também se colocar contra a fração da burguesia, que é oposição ao governo e que é apoiada pela Força Sindical.

Sabemos que dentro do movimento operário estas duas centrais sindicais, mas também a CTB, UGT e CGTB, estão cumprindo um papel nefasto contra os trabalhadores, deixando os patrões demitirem e atacarem, fechando fábricas e o governo Dilma realizando seus cortes. Um exemplo é a CUT, que realiza nas fábricas onde ela tem influência votação para que os trabalhadores aceitem um plano para poder rebaixar os seus salários com a desculpa de ser uma medida para impedir as demissões, o tão falado Plano de Proteção ao Emprego (PPE).

Diferente das centrais sindicais burocráticas, temos a CSP – Conlutas, majoritariamente dirigida pelo PSTU, que dirige o sindicato dos metalúrgicos de São José dos Campos, um importante pólo industrial que está passando por vários processos de ataques e demissões, como que está ocorrendo na fábrica da General Motors, mas também por processo de fechamento de fábrica, como está ocorrendo na Sun Tech, terceirizada da LG.

Apesar do SINDMETAL de São José dos Campos denunciar os ataques do governo Dilma, diferentemente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, não vem dando exemplo para os trabalhadores do Brasil inteiro de como enfrentar as demissões. Na luta da GM que ocorreu neste ano, o resultado foi um adiamento para o final de 2015 das demissões que iriam ocorrer na metade do ano. E para os trabalhadores da Sun Tech estão defendendo somente que a empresa pague os direitos dos trabalhadores antes da fábrica ser fechada.

O PSTU faz muita propaganda da greve geral, mas concretamente luta somente por questões imediatas sentidas pela classe trabalhadora. De um lado, é correto que os revolucionários tem que estar na linha de frente destas reivindicações, mas também é necessário um programa capaz de responder mais a fundo as demandas dos trabalhadores, forjando assim uma ala revolucionária e dando exemplos concretos de que é possível os trabalhadores de maneira independente responderem a atual crise.

Outro elemento que chama atenção no comunicado do SINDMETAL de São José dos Campos é total confiança, que o sindicato alimenta nos trabalhadores, apostando todas as fichas nas instituições jurídicas. Taticamente é valido utilizar a lei ao nosso favor para ajudar a impulsionar a luta, porém nunca utilizando como objetivo estratégico na luta, como está fazendo o PSTU, ao afirmar que a luta é apenas para conseguir os direitos trabalhistas que a empresa não quer pagar.

A Sun Tech, e a patronal de conjunto, usam as supostas perdas econômicas para justificar as demissões e o fechamento de fábrica. Para enfrentar essas chantagens é necessário defender a abertura imediata dos livros de contabilidade da empresa. O Estado e a justiça burguesa não vão garantir os direitos dos trabalhadores, somente o controle operário da produção, pode combater as chantagens e a ganância assassina dos capitalistas.. Essas demandas e a divisão das horas de trabalho, sem redução de salários, são absolutamente atuais e necessárias para este momento de ataque profundo da burguesia e seus governos.

Mesmo sendo correto chamar o ato do dia 18/08 como um “ponta pé” inicial para poder construir um terceiro campo que represente os trabalhadores, o PSTU comete o grande erro em não dar exemplo nos lugares onde estão estruturados para construir esse movimento nacional contra os ajustes e independente do governo. É preciso que o PSTU faça um balanço de como começou a sua atuação no conflito, para que possa de fato construir o terceiro campo que se contrapõe as centrais sindicais pelegas.




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