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CRISE INDÚSTRIA | Crise generalizada na indústria e ajustes em Minas Gerais

O quadro geral da indústria é bem negativo, o fato de serem quedas generalizadas por setores e por regiões do Brasil, levam a certeza de que não vivemos apenas um cenário de chantagem patronal nas fábricas, mas estamos diante de uma conjuntura concreta de crise no setor produtivo no país. Com dados comparáveis aos de 2008-2009 quando a crise internacional atingiu mais fortemente a indústria brasileira.

Flávia SilvaCampinas @FFerreiraFlavia

domingo 19 de abril de 2015 | 00:05

Os últimos dados do IBGE mostram uma queda generalizada na produção industrial em quase todos os estados do país (exceto o Espírito Santo), a média nacional foi de 9,1% de queda em fevereiro de 2015 em comparação ao mesmo período de 2014. Ou seja, o quadro geral da indústria é bem negativo, o fato de serem quedas generalizadas por setores e por regiões do Brasil, levam a certeza de que não vivemos apenas um cenário de chantagem patronal nas fábricas, mas estamos diante de uma conjuntura concreta de crise no setor produtivo no país. Com dados comparáveis aos de 2008-2009 quando a crise internacional atingiu mais fortemente a indústria brasileira.

Porém, isto não quer dizer que os patrões não vão empurrar o custo para os trabalhadores ou que também não aproveitam o momento de crise produtiva para tentarem impor maiores ajustes, como a terceirização (basta vermos a campanha desta semana da CNI, FIESP e outras entidades patronais intitulada “#terceirizaçãojá”) para aumentar a exploração do trabalho, para assim manterem seus altos lucros, com o argumento de busca por “competividade” do produtos brasileiros para a exportação (veja mais aqui).

Com relação ao emprego industrial, as quedas foram verificadas nos 18 ramos pesquisados pelo IBGE. No último bimestre, os números são de –11,8% no setor de máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações; –8,8% no de produtos de metal; –8,3% em outros produtos da indústria de transformação; – 8,2% no de transporte; –7,0% no de calçados e couro; –6,0% no de metalurgia básica; –5,9% no de refino de petróleo e álcool; –4,5% no de máquinas e equipamentos; e –4,3% no de madeira.

Na comparação com igual mês do ano anterior, o valor da folha de pagamento real mostrou queda de 6,1% em fevereiro de 2015, com resultados negativos nos 18 ramos investigados, com destaque para meios de transporte (-10,2%), indústrias extrativas (-12,4%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (-12,6%), máquinas e equipamentos (-5,8%), produtos de metal (-11,2%), metalurgia básica (-7,0%), outros produtos da indústria de transformação (-8,1%), minerais não-metálicos (-5,2%), borracha e plástico (-4,1%) e calçados e couro (-7,7%).

O número de horas pagas na indústria em fevereiro, na comparação com igual mês do ano anterior, registrou recuou de 5,2%, em média. Este último número, junto com o dado da CNI de queda no uso da capacidade instalada na indústria, evidencia a paralisia no setor industrial do país, pois as empresas estão contratando menos e produzindo menos com menor tempo médio de produção, com mais máquinas paradas por mais tempo.

O movimento da indústria agora é de adaptar os estoques de mercadorias à redução no consumo interno (gerado pela queda na oferta de crédito as famílias, pelo aumento da inflação e custo de serviços, aumento nas demissões e pela expectativa maior de crise economia que leva as pessoas a consumirem menos produtos supérfluos) e nas exportações. É claro que esta adaptação tem um custo para a patronal, e este custo, como vemos pelos dados, já estão caindo sob as costas dos trabalhadores, com a redução nas contratações e no tempo de trabalho.

Os números de Minas Gerais: as demissões já começaram

Em MG, estado onde a indústria representa cerca de 29% do total do PIB (terceiro maior PIB industrial do Brasil) e 25,7% do total do emprego com carteira, a produção indústria em fevereiro apresentou uma queda de 10,6% na comparação com o mesmo mês de 2014, segundo os números do IBGE. Os principais setores industriais do estado são a indústria de alimentos, a metalurgia e a extração de minerais metálicos. Este último ramo produtivo corresponde à 55,5% do total das exportações do estado de MG.

No mês de fevereiro, os setores da indústria que mais apresentaram quedas na produção nos meses de janeiro de fevereiro de 2015, foram os de veículos automotores com queda de 29,1%, máquinas e equipamentos com queda de 29,5%, produtos de metal (-15,0%) e bebidas (-13,5%).

O ED apurou informações de que as indústrias metalúrgicas de Minas já estariam iniciando suas demissões, particularmente, temos o caso da Vallourec/Mannesman que já iniciou suas demissões a conta gotas para se ajustar a crise. A empresa no Brasil, fabrica tubos e componentes para a exploração de petróleo no Pré –Sal, numa importante pareceria com a Petrobrás e também está no setor de autopeças e demais produtos de metal. As dificuldades financeiras desta empresa multinacional de capital francês são mundiais e estão relacionadas com a queda no preço do petróleo, principal atividade global da empresa.

É uma empresa de atuação mundial cuja maior parte das vendas de 2014 veio do setor de petróleo e gás natural (66,6%) e o destino das vendas são os EUA seguidos pela Ásia e Oriente Médio. Em 2013, era a América do Sul, com destaque para o Brasil, que ocupava o segundo lugar em relevância de vendas para a empresa, em 2014 esse número caiu para 16,1% do total da vendas (e a tendência daqui para frente é de queda nesse número na medida em que se aprofundar a crise na Petrobrás com as investigações de corrupção na estatal com a Lava-Jato e se o quadro de queda no preço do petróleo continuar, assim como a recessão econômica no Brasil).

Qual a maior preocupação da Vallourec? A multinacional está preocupada com a perda de caixa (perda em valor de vendas e em valor de seus investimentos) por causa da forte queda mundial nos preços do petróleo e derivados. Isto que gera uma situação em que tende-se a reduzir o dinheiro total da empresa acumulado, ou seja, o que está acontecendo é uma "desvalorização dos ativos" da Vallourec.

Estes resultados financeiros e produtivos (operacionais) ruins aparecem nos números dos lucros da patronal com relação à produtividade e à capacidade de geração de recursos (queda da margem EBITDA), além de uma redução nos novos investimentos (redução no índice CAPEX).

Então qual seria a estratégia da patronal diante disto? Basicamente, é o corte de custos, com reestruturação produtiva e de “gestão”, dentro disso, a unidade no Brasil preocupa a empresa. Pela atual conjuntura de crise na Petrobrás e de recessão econômica no país, com queda no PIB e na produção de automóveis (fato que atinge fortemente o setor automobilístico no estado de MG) o que já se reverte em demissões nas plantas da empresa; é a famosa “flexibilização”, “adaptação”, que no caso específico será de 15% de redução nas horas trabalhadas (que como vimos é uma tendência geral da indústria) e a redução de aproximadamente 7% da força de trabalho em 2015 em comparação com 2014. Esta adaptação também inclui redução de custos com funcionários administrativos, nas contratações e o uso de lay-off.

Sabemos que para a patronal passar estes ataques irá contar com um verdadeiro regime ditatorial dentro das fábricas (que busca impedir a auto-organização dos trabalhadores) e com a chantagem “jogando” com o sentimento de medo dos trabalhadores de serem demitidos e não encontrarem outro emprego facilmente como se poderia imaginar nos últimos anos de crescimento econômico, que chegaram ao fim [veja mais aqui http://www.esquerdadiario.com.br/Brasil-nas-trilhas-da-recessao].

Diante desta realidade, de ajustes, demissões, retirada de diretos dos trabalhadores e ataques históricos como o PL 4330, que os patrões e os governos querem empurrar goela abaixo dos trabalhadores e do povo pobre, é fundamental construirmos uma alternativa de organização política dos trabalhadores e uma terceira via de luta. Nem com o PT e nem com PSDB e cia.

É preciso uma resposta dos trabalhadores para a crise, para que sejam os capitalistas que paguem por ela, a luta deve passar pela exigência de abertura dos livros de contalibilidade das empresas, assim todos veremos os altos salários e privilégios dos executivos e como são altos os lucros dos capitalistas, é de todo este dinheiro que deverá ser pago os custos da crise, e se os capitalistas não podem administrar suas fábricas, que os trabalhadores tomem para si o controle da produção. Com esta luta também será possível barrarmos as demissões, reduzirmos as horas de trabalho sem de redução de salário para que todos possam trabalhar. Esta luta por uma resposta operária e popular para a crise dos capitalistas,só será possível na luta coletiva em cada local de trabalho por meio da organização pela base e na luta para se recuperar os sindicatos como ferramenta de luta dos trabalhadores contra os ajustes dos patrões e aos ataques dos governos.




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