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CORONAVÍRUS | Coronavírus: A falta de saneamento básico coloca a vida de milhões de brasileiros em risco

terça-feira 7 de abril de 2020 | Edição do dia

A crise do coronavírus chega ao Brasil trazendo a tona uma série de problemas estruturais que são anteriores à pandemia, e um dos mais preocupantes, sem dúvida, é a falta de saneamento básico nas periferias do país. No último dia 26, o reacionário presidente da república, Jair Bolsonaro, deu uma declaração criminosa em uma de suas tentativas de minimizar o que vem sendo os impactos da COVID-19 na vida dos brasileiros ao afirmar que o brasileiro “pula em esgoto, mergulha, e não acontece nada”.

Essa fala de Bolsonaro escancara como a brutal realidade de milhões de famílias sem acesso a tratamento de esgoto e água potável é tratada dentro do sistema capitalista. O que se torna imprescindível ressaltar aqui, é que a desconsideração da vida do trabalhador negro e pobre não surge com essa pandemia.

Num sistema onde o lucro dos capitalistas vale mais que a vida dos trabalhadores, a negligência com a população periférica faz parte da receita. Estudos mostram que mais 70 milhões de pessoas no Brasil não tem saneamento básico, e isso é uma condição construída ao longo de décadas por uma burguesia que sempre reservou aos trabalhadores, em sua maioria negros, as piores condições de vida. Enquanto obriga centenas de milhares de trabalhadores a continuarem a trabalhar sem o mínimo de estruturas para prevenção, essa mesma burguesia nos exige agora que façamos quarentena, mas em quais condições?

Por mais que vários governadores e parlamentares tentam se distanciar de falas como essa de Bolsonaro, nunca se preocuparam em atender às necessidades básicas da classe trabalhadora e agora usam força policial para obrigar pessoas que vivem com esgoto a céu aberto a se isolarem em suas casas. De fato, muitas organizações e associações dentro das favelas e comunidades vem tentando informar sobre cuidados preventivos e auxiliar os moradores na redistribuição de água potável, entretanto, com o avanço da contaminação nesses locais, essas iniciativas serão insuficientes, pois a falta de políticas públicas efetivas ao longo dos anos nos levará a um cenário caótico dentro das periferias brasileiras.

Em meio a tudo isso, a mídia burguesa tenta sempre ressaltar que essas moradias são irregulares ou construídas em áreas de risco, como se o trabalhador também fosse culpado disso. Essa intenção de empurrar a culpa pro colo da população em situação de vulnerabilidade também se expressa quando o governador do Rio de janeiro Wilson Witzel afirma que já fez a sua parte ao decretar quarentena, e que se houver algum aumento do contágio seria culpa da população. Ora, e qual posição este governador tão “proativo” tomou quando CEDAE estava distribuindo água contaminada? Pois para passar meses em isolamento social, mantendo hábitos básicos de higiene pessoal precisa, no mínimo, água limpa.

Contradições como essa são inerentes ao sistema capitalista, e é sobre as contradições deste modelo que precisamos refletir. A falta de saneamento básico é uma arma a favor do coronavírus, e é uma arma projetada para manter a classe trabalhadora subjugada a condições indignas de vida. Nos últimos 10 anos, o atendimento de esgoto no país aumentou apenas 1,3% e o de água, ridículos 0,3%, enquanto 1,3 trilhão foi retirado da pasta da saúde para “engordar” a perversa dívida pública. Esses números são a exemplificação do modus operandi do capital, do lucro acima da vida.

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Por isso, mais do que nunca é preciso dar uma resposta de fundo a essa crise, se organizar enquanto classe e exigir que toda a economia seja voltada para garantir a vida, com controle operário da produção para garantir todos os materiais e equipamentos necessários para combater o vírus, acesso massivo a testes nas favelas e comunidades, para todos aqueles que tenham sintomas, ou queiram fazer o teste, salário integral para garantia de alimentação adequada e moradia para cumprimento da quarentena, interrupção da cobrança de luz, água, internet e etc. É preciso exigir também que haja abastecimento real de água durante a pandemia e além dela, mas também exigindo obras públicas de saneamento básico imediato, privilegiando a contratação de desempregados e moradores das favelas e periferias, sendo essa uma das maneiras de garantir que a população tenha condições imunológicas de lidar com o codiv-19, garantindo acesso á moradias dignas que não tenham esgoto passando na sua porta.

Não aceitemos a miséria imposta por esse sistema. Nossas vidas valem mais que o lucro deles!




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