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INDÚSTRIA | Contra as demissões, redução de salário. Assim é o PPE da CUT

Os trabalhadores ultimamente estão negociando com a faca no pescoço, como é o caso mais emblemático na Mercedes que aprovou na ultima semana a adesão ao PPE depois do anuncio de 1.500 demissões.

Maíra MachadoProfessora da rede estadual em Santo André, diretora da APEOESP pela oposição e militante do MRT

terça-feira 15 de setembro de 2015 | 01:06

Esta adesão já havia sido proposta pela direção do sindicato em acordo com a empresa no mês de julho, onde por maioria esmagadora, cerca de 85% de todos os trabalhadores efetivos haviam recusado a proposta de adesão ao programa. Porém, após o anuncio das demissões e com a direção do sindicato colocando como único objetivo da greve a negociação do PPE, os trabalhadores se viram sem alternativa e foram obrigados a aceitar esse ataque, se tornando a primeira montadora do ABC a implantar o PPE.

Por outro lado, se mesmo os trabalhadores das grandes montadoras foram obrigados, pela empresa e direção do sindicato a aceitar esse tipo de acordo, podemos imaginar a situação dos trabalhadores que estão nas fábricas menores. Em São Bernardo, por exemplo, na Backer – metalúrgica que produz talheres de inox – vários trabalhadores acampam em frente à fábrica, para que a diretoria da empresa não consiga retirar o maquinário e as peças produzidas, a empresa encerrou as atividades em agosto, sem pagar nem os salários e direitos que os trabalhadores têm assegurado por lei, muito menos as indenizações.

A direção do sindicato por meio de seu representante do setor, Genildo Dias Pereira, o Gaúcho, deixa bem claro qual o objetivo da luta nessa fábrica: “Nosso objetivo é negociar a venda desse material para que ninguém fique no pre¬juízo”, prosseguiu. Gaúcho afirmou que as negociações estão difíceis, mas os Metalúrgicos do ABC mantém o diálogo aberto por uma solução rápida. “O Sindicato for¬nece refeições diárias aos acampados e doou 70 cestas básicas”. Ou seja, nas fábricas menores não existe nem PPE para conter as demissões.

Quem sai perdendo nesse momento de crise?

A direção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC gosta de declarar que sempre quer uma saída onde nenhuma das partes saia perdendo, como no caso acima citado, na fabrica da Backer a negociação que o dirigente busca é que os trabalhadores possam vender as peças já produzidas para que, segundo ele, “ninguém fique no prejuízo”. Na Mercedes mesmo os trabalhadores tendo recusado o PPE em plebiscito realizado na fabrica em julho, acabaram sendo obrigados a aceitá-lo um mês depois sob a ameaça de 1500 demissões. Nas outras empresas tudo foi articulado da mesma forma, a empresa anuncia um determinado numero de demissões e a direção do sindicato reverte aprovando a adesão ao PPE, nessa ultima semana foi assim na Prensas Shuler que anunciou 50 demissões, e na Alcoa que anunciou 80.

Mas se o programa de proteção ao emprego é tão bom como a direção do sindicato diz, por que então os trabalhadores primeiro foram ameaçados de demissões para depois aceitarem esse acordo? Com o limite máximo de adesão ao PPE, que é de 50 mil trabalhadores em todo o país, o governo gastaria R$112,5 milhões do FAT e a arrecadação do FGTS que continuaria sendo recolhido pelas empresas seria de R$181,3 milhões, o que daria um saldo positivo de R$68,8 milhões ao governo. Enquanto que se tivesse que pagar seguro desemprego para esses mesmos 50 mil trabalhadores, teria um gasto de R$291 milhões, sem arrecadação no FGTS.

Ou seja, para o governo o Programa permite enxugar e ajustar ainda mais o seguro desemprego de acesso já dificultado pela MP 665 publicada por Dilma e aprovada pelo Congresso Nacional em abril. Para a empresa o ganho é claro e vantajoso de todos os pontos de vista. Em primeiro lugar, reduz em 30% todos os seus gastos, pois pagam 30% a menos de salário e ainda reduzem os gastos de produção em igual quantia ao reduzir a jornada de trabalho.

O segundo ganho da empresa é que reduz os gastos com multas rescisórias de possíveis demissões em massa e os custos de recontratação com o aumento da produção. E o terceiro ganho da empresa é que consegue ajustar sua produção à demanda real, mantendo sua taxa de lucro. E por fim, mantém sua mão de obra qualificada para quando a produção reaquecer.

E para o trabalhador, qual a vantagem? Em nossa sociedade se alguém ganha, outro alguém tem que sair perdendo. Neste caso, se governo e patronal saem ganhando, o trabalhador tem que perder. Quem custeia toda essa economia de empresa e governo, é o salário do trabalhador.

Em momentos de alta da inflação, com o PPE o trabalhador ainda terá parcela de seu salário cortado, perdendo duplamente. E mais, a suposta proteção ao emprego, garante estabilidade após o período de vigência do Programa por apenas 2 meses nos casos em que vigore por 6 meses, e de 4 meses quando a vigência do programa for de 1 ano. Ou seja, o trabalhador tem seu salário atacado e não tem qualquer garantia real que continuará com seu posto de trabalho em seguida.

Uma saída independente é necessária

Frente as demissões os trabalhadores sentem-se obrigados a aceitar a redução de salários que vai para os que estavam sendo ameaçados de demissão e para todos os outros que estão na produção, como foi na Mercedes, a empresa não demitiu 1500, mas reduziu o salário de todos. Portanto essa proposta não pode contentar a necessidade de manter um nível de vida estável e garantir o pagamento das contas no fim do mês. Os salários estão menores.

Os sindicatos governistas como a CUT, acostumados aos últimos anos de crescimento econômico seguem atuando na lógica da barganha com governos e patrões, porém a crise econômica é muito grande e vai pegar a todos, para combater os ataques patronais é preciso exigir que as direções sindicais rompam com o governo e ajudem os trabalhadores a construírem uma saída independente.

Não é de hoje que essas centrais sindicais atuam com um só punho junto ao governo federal, por isso é necessário que os sindicatos sejam retomados para as mãos dos trabalhadores.

Em tempos de crise precisamos exigir que sejam abertos os livros de contabilidade e que as empresas arquem com a crise com os lucros que acumularam nos últimos anos, reduzindo a jornada de trabalho sem redução de salário, além disso para a organização independente é muito importante que os trabalhadores se somem ao ato do dia 18, nem com a direita e nem com Dilma, só assim encontraremos uma saída.




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