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SEMANÁRIO

Contra a resignação: oito motivos para aderir à luta socialista

Fredy Lizarrague

Raúl Godoy

Contra a resignação: oito motivos para aderir à luta socialista

Fredy Lizarrague

Raúl Godoy

Queremos oferecer um olhar e um horizonte mais elevado diante de tanta politicagem, porque é neste ambiente que as forças políticas do regime constroem a resignação. Queremos dialogar com aqueles com os quais compartilhamos cada uma das lutas de trabalhadores, desempregados, mulheres e jovens e propor-lhes aderir a nossa luta por uma saída de fundo e socialista.

Este artigo foi publicado originalmente na seção argentina La Izquierda Diario, podendo ser encontrado aqui.

Há um grande debate político em nosso país, produto da crise, da inflação, do novo fenômeno de trabalhadores e trabalhadoras pobres, das incertezas que percorrem as televisões, as redes e as rádios. Estamos diante do fracasso do governo da Frente de Todos, que prometeu reverter a queda de salários e a dívida fraudulenta que nos deixou o desastroso governo Macri e Juntos pela Mudança. O governo está nos amarrando ao FMI e seu ajuste eterno, enquanto as grandes empresas seguem lucrando muito.

Queremos oferecer um olhar e um horizonte mais elevado diante de tanta politicagem, circo midiático e discussões de conjuntura, porque é neste ambiente que as forças políticas do regime constroem a resignação. Queremos dialogar com aqueles com os quais compartilhamos cada uma das lutas de trabalhadores, desempregados, mulheres e jovens contra os governos e as patronais. Damos essas batalhas nas ruas, nos locais de trabalho e estudo e com as bancadas que conquistamos em cada província, município e no Congresso.

Através dos deputados da Frente de Esquerda Unidade defendemos um programa que articula uma resposta de fundo para que os capitalistas paguem pela crise. Queremos aqui nos referir aos nossos objetivos mais gerais e propor-lhes aderir a nossa luta por uma saída de fundo e socialista. Referimo-nos aos nossos objetivos gerais, aos nossos fins socialistas.

1. Conquistaremos a liberdade quando terminarmos com a ditadura que sofremos nos locais de trabalho.

A extrema direita (Milei) grita “viva a liberdade” para os ganhadores de sempre, o grande capital mais concentrado. Macri e Bullrich lhe fazem coro dentro do JXC. Porém, sua “liberdade” significa reforçar a ditadura da patronal nos locais de trabalho, onde buscam nos explorar até o último segundo para aumentar seus lucros. Utilizam o desenvolvimento tecnológico para isso, com ritmos mais acelerados e maior controle de tudo o que você faz.

Sendo assim, não se pode nem sequer expressar aquilo que se pensa. Se falar “demais” te demitem, porque a patronal nas fábricas te controla, não apenas para te espremer e explorar, mas também para que trabalhe em silêncio e com a cabeça baixa. Para isso tem seus supervisores, gerentes e a própria burocracia sindical, em sua maioria peronista, que marca e aponta com o dedo os “surdos”, os "rebeldes’’, os “troskos”. Buscam usar os desempregados, a juventude trabalhadora ultra precarizada, como pressão para disciplinar e baixar o nível de vida do conjunto da nossa classe. Querem que compitamos e nos enfrentemos entre nós mesmos.

As direitas, quando falam em liberdade, na realidade querem “liberdade” absoluta para explorar, precarizar, contratar, despedir, discriminar as mulheres e imigrantes. Reforçam a ditadura patronal nas empresas e isso é o capitalismo: toda a sociedade organizada para garantir o lucro como prioridade absoluta. Por isso são também fanáticos pela repressão, por tratar os problemas sociais como problemas policiais. O sistema, a lei e a ordem são a dos ricos e poderosos. Quando falamos de direitas também incluímos setores do peronismo, como Massa e os governadores que pensam da mesma forma, embora façam alianças diferentes, e por isso votaram em todas as leis que necessitou o governo do Macri.

Se falamos sobre liberdade seriamente, temos que dizer a verdade: apenas pode ser conquistada em uma sociedade socialista, em que nós - que produzimos toda a riqueza e conhecimento - poderemos decidir democraticamente o que será feito e de que forma, em benefício de toda a humanidade e retomando uma relação amigável com a natureza. “A libertação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores”, como disseram os fundadores do socialismo científico. Porém não nos adiantemos...

2. A utopia que desmobiliza e constrói a resignação: que o estado dirija o mercado para torná-lo “progressista”.

Do outro lado, o peronismo parece assumir como bandeira própria o lema “não há alternativa”, responsável pela instalação do neoliberalismo, para justificar o domínio do capital financeiro e das multinacionais. CFK nos diz que “o capitalismo se demonstrou como o sistema mais eficiente para a produção de bens e serviços que necessita a humanidade” e põe-nos como como modelo exitoso a China capitalista dirigida pelo Partido Comunista - lá “o estado dirige o mercado”. Esse país teve um forte desenvolvimento graças à garantia de mão de obra barata, da unidade nacional herdada da revolução de 49 e uma ditadura férrea que reprimiu qualquer mobilização operária e popular, como o massacre da Praça Tiananmen em 1989. O controle “do Estado sobre o mercado”, que tanto agrada a CFK, esteve a serviço de permitir que grandes empresas (imperialistas e de burocratas tornados capitalistas) investissem para produzir mercadorias baratas, com lucros enormes. Enquanto isso, se aprofundava a ofensiva neoliberal em todo o mundo. Em outras palavras, essa direção do estado estava armada a serviço de fortalecer o poder de mercado.

Apenas após uma enorme crise como a de 2001 na Argentina, em um cenário de hiper desemprego, de um levante nacional do povo trabalhador que derrubou o governo De La Rúa, de uma desvalorização da moeda de 240% e um boom das commodities no mundo, permitiram que os mercados (as patronais) aceitassem certa regulação do estado. Isso depois de causarem uma verdadeira catástrofe social e econômica com milhões de desempregados, milhares de fábricas fechadas e os salários e direitos pulverizados. Aceitaram porque estiveram a ponto de perder tudo frente à mobilização operária e popular, e porque puderam aproveitar o ciclo econômico internacional para seguir lucrando.

Os governos kirchneristas mantiveram as privatizações, a estrangeirização da economia, o essencial do agronegócio, a precarização do trabalho (reforçando as terceirizações) e o extrativismo, enquanto que a pobreza só caiu para 23% em 2011 e 2013 (nos 70 chegou a 4%), e com a desvalorização da moeda de Kicillof e Cristina em 2014, voltou a subir. Com a desmobilização promovida pelo kirchnerismo, a direita voltou à ofensiva e ao poder. Quando estes últimos não tinham o “estado” para reprimir os que se rebelavam, lá estava o “estado” presente nas mãos do kirchnerismo dando pauladas, como em Kraft (2009), Lear (2014), docentes e outras lutas em várias províncias.

Não por acaso a própria CFK “colocou” Alberto Fernández na presidência após 4 anos de política macrista, tendo como resultado um país endividado por 100 anos. Ela sabia que viria a negociação com o FMI e a administração do país dos baixos salários e da pobreza que Macri deixou. Não se deve surpreender com o desastre que Alberto Fernández e Guzmán estão fazendo, eles que fingem que o capital financeiro internacional, o FMI, os grandes empresários do campo e da indústria, “são bons”, ao ritmo das canções de Litto Nebbia: Creio ninguém pode dar uma resposta, nem dizer em qual porta bater...

Os melhores militantes da resignação são os burocratas sindicais, sociais e estudantis que nos disseram que teríamos que esperar 2019 para recuperar o perdido, e faz dois anos que não movem um milímetro para defender nenhum direito. Por ação ou omissão, são agentes do grande capital e “seu” estado. Mantém a verborragia “combativa e agressiva” apenas contra a esquerda classista.

3. O socialismo revolucionário é a única alternativa realista à crise e à irracionalidade do capitalismo.

Não apenas é possível, senão necessário acabar com um regime social irracional que cria um milionário e um milhão de novos pobres a cada 30 horas (segundo Oxfam), e que joga fora 30% dos alimentos produzidos no mundo. Um sistema capitalista que produz guerras, fome, golpes de mercado, golpes cívico militares e que avança de forma dramática na destruição do meio ambiente, provocando catástrofes que não tem nada de naturais (como a própria pandemia).

Existe uma alternativa a toda essa barbárie capitalista que nasce da história da luta das e dos explorados e oprimidos do mundo: o socialismo. A organização da sociedade em função das necessidades das grandes maiorias, através do governo das e dos trabalhadores, organizado democraticamente desde baixo. É necessário revolucionar de forma completa o modo de produção irracional dominante até hoje e, com ele, toda a ordem social atual, passando de uma produção anárquica e desordenada à planificação da economia. Esse processo implica o cuidado de nossos “bens comuns” como o meio ambiente.

Os regimes políticos de diversos países não conseguem ter estabilidade no seu domínio pelo crescente descontentamento com sua economia, que aumenta a desigualdade social e que condena as novas gerações a viver pior que seus pais ou avós. Este descontentamento é muitas vezes canalizado pela direita, pelo ódio ao imigrante ou pela demagogia “antipolítica” que acusa os palhaços e protege os donos do circo.

Mas há também os povos que se rebelam e a juventude que se mobiliza ao redor do mundo na defesa do planeta e que, em países com os EUA, mostram rechaço ao capitalismo e simpatia pelo socialismo – ainda que se trate de um sentimento difuso, ainda não revolucionário. Uma juventude que deixa uma marca, que impacta milhões sendo parte do levante do povo afro-americano contra a repressão e o racismo em 2020 (Black Lives Matter). Surge ali a nova geração “U” (de “union”, sindicato em inglês) que luta por organizar os locais de trabalho em grandes e emblemáticas empresas como Amazon e Starbucks, e é consciente de que enfrenta os multimilionários que se beneficiam deste sistema.
O movimento de mulheres, que há anos percorre os mais diversos países, tem sido talvez o mais poderoso questionador dos sentidos comuns reacionários deste sistema social capitalista profundamente patriarcal. De nosso país emergiu com força o repúdio à violência machista (Ni Uma Menos) e o lenço verde surgiu como símbolo da luta pelo direito ao aborto. Não é mais “normal” a discriminação das mulheres e as dissidências sexuais nos locais de trabalho.

Assim como surgem tendências à direita e extrema-direita, tendências anticapitalistas, ainda que espontâneas e instáveis, têm surgido a anos na juventude em muitos lugares do mundo, assim como nos movimentos de mulheres, da diversidade e socioambientais. Uma juventude que começa a questionar e a questionar-se e que se propõe a acabar com a fome, com a destruição do planeta e a precarização trabalhista cada vez mais generalizadas. Uma juventude que aprendeu a respeitar nossos povos originários e que levanta as bandeiras de seus direitos na América Latina.

Com essa juventude temos o desafio oposto à resignação: levantar bem altas as bandeiras da luta por uma sociedade socialista, onde o desenvolvimento e a ciência e tecnologia permitam organizar a produção em função de satisfazer as necessidades sociais. Uma sociedade onde possamos acabar com a opressão às mulheres, incluindo uma organização racional, comunitária e não sexista do trabalho doméstico e de cuidados, e das desigualdades de gênero. Uma sociedade que se proponha buscar seriamente uma relação harmônica com a natureza, frente às falsas promessas do capitalismo “verde”, que reconhece a necessidade de reduzir as emissões contaminantes, mas nunca o faz.

Essa transformação revolucionária poderá levar também a um repensar das próprias necessidades e possibilidades de consumo. Questionar, por exemplo, a “obsolescência programada” pelos fabricantes de celulares, eletrodomésticos, automóveis etc., que geram a necessidade de comprar novos modelos em cada vez menos tempo, e uma infinidade de produtos inúteis, supérfluos ou inutilizáveis, incentivando o consumismo.

4. O desejo de reduzir o tempo de trabalho e de não “viver para trabalhar” não pode se resolver sob o capitalismo.

A redução da jornada de trabalho e salários suficientes para a subsistência são demandas que despertam crescente simpatia em diversos países. Na Argentina, a produtividade do trabalho duplicou-se nos últimos 50 anos, a jornada legal de trabalho manteve-se igual desde 1929 e o salário real caiu pela metade desde seu pico em 1974. Hoje, em muitas das grandes fábricas, trabalha-se muitíssimo mais: para chegar ao fim do mês é necessário se matar fazendo horas extras, ou fazer dois turnos no caso dos professores e trabalhadores da saúde.

No outro polo, a juventude trabalha precarizada, por salários de fome, contratada, terceirizada ou como monotributista (MEI argentino), pulando de emprego em emprego, sem saber o que são férias remuneradas ou bônus.

Por sua vez, existe um movimento piqueteiro massivo, de organizações sociais que agrupam desempregados/as e setores de trabalhadores precarizados, que luta pela assistência social do estado, mas também reivindica trabalho genuíno.
Entende-se assim por que a campanha do PTS na FIT-U pela jornada de trabalho de 6 horas, 5 dias da semana, sem redução salarial, para gerar postos de trabalhos para todos e todas, foi e é bem recebida por amplas camadas de jovens e trabalhadores, junto a luta por um salário que cubra as despesas familiares e não se desvalorize frente à inflação.

Entendemos essa luta na perspectiva socialista da redução do tempo de trabalho ao mínimo necessário, repartindo as horas entre todas as pessoas disponíveis, que não só permitirá mais tempo para a formação, a vida social e familiar, o ócio, a arte e cultura, mas também para poder dedicar tempo à gestão democrática dos próprios locais de trabalho, de estudo e da administração de toda a sociedade.

5. As fábricas e empresas podem funcionar sem patrões, não sem trabalhadores. O trabalho coletivo tem uma enorme potência libertadora que necessita romper as barreiras que lhe impõe a organização capitalista da produção.

Existem em vários países grupos de trabalhadores que assumiram a gestão das fábricas e empresas que os antigos patrões pretenderam fechar. Na Argentina temos vários exemplos em distintos ramos, com as fábricas Zanon e Madygraf como dois casos emblemáticos, em que os próprios trabalhadores e trabalhadoras, juntos a profissionais e técnicos, fazem as fábricas funcionarem sem patrões. Ali se vê a falsidade do senso comum que pretendem impor-nos de que são os patrões os responsáveis por fazer as empresas funcionar e que eles nos “dão trabalho”. Se vê a potencialidade e criatividade do trabalho cooperativo, de onde surgem novos projetos, se estuda a forma de gerenciar a produção à serviço da comunidade e a economizar energia para a preservação do meio ambiente. É claro que lhes são impostas as leis do mercado na medida que a economia é dirigida pelos monopólios e bancos capitalistas.

A transformação das relações de produção não pode se dar “empresa por empresa”, mas precisa ser de conjunto. Porém, estes pequenos exemplos permitem imaginar que uma sociedade pode funcionar sem empresários. Não se trata de analisar se existem empresários bons ou maus. Se trata da matriz: todos se veem forçados a buscar o lucro capitalista máximo possível por conta da competição implacável entre eles, ou vão à falência. Por isso seu sistema recria os valores do individualismo, o desperdício e a indiferença pelo outro.

Ao contrário, a ocupação posta em marcha e a gestão operária, com democracia de base para decidir cada passo, para definir a produção e a administração, liberou uma enorme criatividade, um enorme sentido de solidariedade tanto dentro da fábrica como em toda comunidade trabalhadora. Ocorre eleição direta das autoridades da cooperativa, com a rotação permanente dos postos de comando, onde se planifica a produção e se votam os planos em assembleia.

Estes pequenos exemplos foram uma grande fonte de inspiração de artistas, profissionais, de jovens que contribuíram com seus talentos, seu tempo e sua colaboração. Em Zanon, essa prática permitiu que fossem incorporados à fábrica companheiros e companheiras dos movimentos de desempregados em luta, e uniu a luta operária com a luta ancestral do povo mapuche, porque partia do respeito aos povos originários e à natureza. Imaginemos o que seria se organizássemos assim todo o país, planificando democraticamente toda a produção.

6. A propriedade privada capitalista está abolida para a imensa maioria. Necessitamos socializar os meios de produção e de circulação, com governos do povo trabalhador organizados democraticamente, desde baixo, aprendendo com a história das revoluções.

É claro que o grande limite para conquistar uma sociedade assim é a propriedade privada dos meios de produção e de circulação, quer dizer, a propriedade dos meios que permitem a classe capitalista enriquecer, não por seu trabalho, mas pela apropriação do trabalho das pessoas que contratam como assalariadxs. Não estamos falando de uma casa, um carro, eletrodomésticos, poupança e outros bens pessoais. Nos referimos às fábricas, os bancos, o capital das empresas em bens de produção ou em grandes investimentos financeiros.

Como disse Marx: “Vocês estão horrorizados por querermos abolir a propriedade privada. Mas, em sua sociedade atual, a propriedade privada está abolida para nove décimos de seus membros. Nos censuram, portanto, por querermos abolir uma forma de propriedade que só pode existir com a condição de que a imensa maioria da sociedade seja privada de propriedade. Em uma palavra, nos acusam de querer abolir sua propriedade. Efetivamente, é isso o que queremos”.

Essa classe de capitalistas que tem em suas mãos 90% da propriedade, tem seus políticos, seus juízes, suas forças armadas, em cada país e em cada estado.

A história demonstra que o sistema capitalista tende a crises recorrentes e guerras que geram rebeliões das e dos explorados e oprimidos e a revoluções sociais. Os feitos da classe trabalhadora estão repletos de grandes combates, heroísmo, solidariedade, auto-organização democrática e criatividade revolucionária, que as classes possuidoras querem que esqueçamos. Querem nos tirar nossa história porque sabem que ela mostra que esse sistema, assim como nasceu, pode morrer.

Algumas revoluções triunfaram, dando origem a governos de trabalhadores que concretizaram a expropriação dos meios de produção e circulação. Rússia, China, Iugoslávia, Cuba. Na Revolução Russa o poder se organizou em torno dos conselhos de operários, soldados e camponeses (sovietes), surgidos ao calor da revolução, integrados por representantes eleitos pelas e pelos explorados e oprimidos, revogáveis, que decidiam a organização do governo e da produção.

Porém, surgiram burocracias nesses processos, que não eram comunistas internacionalistas, mas castas que se aferraram de forma totalitária ao poder de cada país e buscaram coexistir com o capitalismo imperialista. Não fracassou o comunismo, mas as distintas variantes estalinistas (incluindo o maoísmo) que eram sua degeneração burocrática e nacionalista, conciliadora com o capitalismo.

Apesar disso, a potencialidade da expropriação dos capitalistas e a planificação se evidenciou na transformação da URSS em uma potência mundial e no fato de ter resistido e derrotado a invasão do exército nazista na Segunda Guerra Mundial.
O fracasso do socialismo em um só país se manifestou de diversas maneiras e colapsou, frente à ofensiva capitalista no final dos anos 80, com os burocratas convertendo-se diretamente em capitalistas.

Somos herdeiros orgulhosos de uma corrente política revolucionária que não apenas lutou na primeira linha pela revolução socialista, mas que também sempre lutou contra a burocratização dos estados operários, defendendo a democracia operária (a tradição dos conselhos) como base do poder revolucionário. Essa luta custou a vida de Leon Trotsky e a prisão e perseguição de milhares de pessoas que lutaram junto a ele pelo mundo.

É necessário aprender com a nefasta experiência da burocratização dos estados operários, em que se expropriou os capitalistas (URSS, China, etc.) sob a utopia reacionária do “socialismo em um só país”. A luta pelo socialismo (que usamos aqui como sinônimo de comunismo) é internacional e só pode se concretizar com a derrota do imperialismo. Por isso é necessário um partido mundial da revolução socialista, uma internacional, e partidos revolucionários nacionais.

Na luta por governos de trabalhadores em cada país, será colocada a aposta na mais ampla auto-organização dos explorados e oprimidos, em que os partidos que defendem a revolução possam expor suas posições e lutar por elas. Poderíamos assim dar uma utilidade positiva a multiplicação dos meios de comunicação que socializam a informação, permitindo a organização democrática da planificação econômica com a participação massiva de produtores e consumidores no plano nacional e internacional.

As próprias tendências da internacionalização de capitais, das cadeias de valor que abarcam diversos países e diversas regiões dentro de cada país, de uma produção cada vez mais socializada e entrelaçada com a distribuição (logística) e o consumo, da administração racional dos recursos naturais, suscitam a necessidade de que toda organização democrática “desde baixo” seja parte de uma planificação centralizada “desde acima”, desde o plano nacional e buscando sua extensão internacional.

7. A crise da ofensiva neoliberal e o socialismo como “movimento real’’.

O neoliberalismo foi a resposta à crise capitalista dos 70 e às enormes lutas que colocaram a possibilidade de processos revolucionários socialistas em países centrais (Francia, Itália, Portugal etc.), periféricos (Chile, Bolívia etc.) e inclusive em chamados “países socialistas” (Polônia, antes Hungria, Tchecoslováquia) . Muitos destes processos foram derrotados com golpes e massacres, outros desviados por uma política conciliadora das organizações que estavam à sua frente.

Ele não foi imposto “em paz”. As burocracias estalinistas que dirigiam a ex-URSS, China e o leste da Europa responderam aos levantes democráticos convertendo-se em massa ao capitalismo de mercado. Más o capitalismo é um sistema histórico tão decadente que recuperou força só por um período e a custa de precarizar mais o trabalho, multiplicar a desigualdade, espoliar o planeta e montar uma enorme bolha de crédito para “incentivar” o consumo, que terminou explodindo em 2008.

Os últimos 14 anos foram de estancamento de conjunto (apesar do crescimento relativo da China, arrastando outros países por alguns anos), avanços tecnológicos que se aplicam apenas em determinados ramos, baixo investimento e continuidade da montanha de dívidas públicas e privadas. Veio a pandemia com sua sequela de mortes e negócios multimilionários para os laboratórios. Quantas pessoas poderiam ter se salvado se as patentes fossem anuladas e se produzissem gratuitamente as vacinas?

Agora a Europa e o mundo estão chocados com a guerra na Ucrânia, onde a Rússia invade e massacra um país vizinho que, por sua vez, vem sendo armado e encorajado pelos EUA e a OTAN para “cercar” a Rússia. Isso multiplica a inflação mundial e prenuncia um mundo convulsionado.

As rebeliões que varreram o mundo entre 2018 e 2020 (desde os “coletes amarelos” na França até o movimento Black Lives Matter nos EUA, passando pelo Chile, Colômbia, Irã, Sudão, Líbano, Mianmar etc.) serão o ponto de apoio para novas respostas da luta de classes à ofensiva capitalista de maior precarização laboral e ataques às aposentadorias e direitos sociais que se anunciam aqui e em diversos países, e às guerras.

De tudo isso decorre que o socialismo é, para nós, um fim, um projeto, mas ao mesmo tempo um movimento real, que parte das contradições da própria realidade do capitalismo, de suas crises e da luta de classes. Mas segue sendo uma intenção, um projeto que necessita ser construído com perseverança. Trata-se de uma luta difícil contra as poderosas forças políticas e burocráticas que operam para dividir e integrar ao regime as organizações dos trabalhadores, da juventude, do movimento de mulheres e de todos os setores oprimidos.

Para alcançar a unidade da classe trabalhadora (empregada, desempregada, precária, formal e informal), bem como sua aliança com os demais setores oprimidos da sociedade (pobres urbanos, movimento de mulheres, estudantes, pequenos comerciantes, profissionais liberais e autônomos), para que suas lutas não sejam derrotadas, necessitamos criar instâncias de coordenação das lutas e grandes partidos revolucionários para superar os burocratas conciliadores.

8. Por uma poderosa corrente de lutadoras e lutadores socialistas, da classe trabalhadora, da juventude e da intelectualidade, para travar as batalhas do presente com claros objetivos no futuro.

A Frente de Esquerda Unidade alcançou um reconhecimento massivo por seu compromisso ativo com as lutas da classe trabalhadora, das mulheres e da juventude, assim como o repúdio ao acordo com o FMI e o pagamento da dívida externa. 1.250.000 pessoas nos apoiaram com seu voto nas últimas eleições, com altas votações em Jujuy, na Grande Buenos Aires e em CABA. Nossos deputados e deputadas são referências reconhecidas na realidade política nacional. Por sua vez, milhares de trabalhadores, mulheres e jovens têm participado ativamente de diversas lutas e campanhas que temos impulsionado desde o PTS. O desafio que nos propomos, e que estendemos a todas as forças que se reivindicam da classe trabalhadora e socialista, é gerar uma consciência mais clara possível do programa e dos fins com que encaramos cada uma das lutas que nos cabe viver.
Todas as forças políticas do regime apostam em chegar às eleições presidenciais de 2023 “em ordem” e que surja dali um governo mais forte para aplicar o plano pactuado com o FMI. Mais cedo ou mais tarde, de acordo com os saltos da crise e os ataques que querem realizar, veremos novas lutas e mudanças políticas. O que já está ocorrendo é o amplo questionamento ao regime político. Apostam que será canalizado pela direita, porque temem que se desenvolvam tendências à esquerda, ao questionamento do poder e da ordem dos grandes empresários, banqueiros e latifundiários. Esse é o nosso desafio.

Defendemos a unidade dos trabalhadores e estudantes em cada luta, promovemos sua organização democrática e sua coordenação, mas assumimos a necessidade de articular as demandas do presente com nossos objetivos socialistas do futuro. Cada luta parcial, cada luta por cada um de nossos direitos, por mínimos que sejam, necessitamos pensá-las como parte de uma ponte para a sociedade que queremos construir.

Se colocamos nossas forças, nosso tempo, nossa energia nessas batalhas, que seja pelo objetivo de ganhar tudo. Estaremos formando assim um partido revolucionário que seja poderoso, com militantes conscientes que sejam verdadeiros tribunos capazes de propor, escutar, articular e potencializar as demandas do povo trabalhador no caminho de passar do reino da necessidade ao reino da liberdade.


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Fredy Lizarrague

Dirigente Nacional do PTS da Argentina

Raúl Godoy

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