O novo delator da Operação Lava Jato Carlos Alexandre de Souza Rocha, o Ceará, confirmou à Procuradoria-Geral da República o pagamento de R$ 10 milhões ao ex-presidente do PSDB senador Sérgio Guerra (PE) - morto em 2014 - para "abafar" a CPI da Petrobras de 2009, às vésperas do ano das eleições presidenciais em que Dilma Rousseff (PT) chegou ao Palácio do Planalto.
quinta-feira 7 de janeiro de 2016 | 00:36
A revelação sobre o repasse milionário ao então número 1 do PSDB foi inicialmente feita em agosto de 2014 pelo primeiro delator da Operação Lava Jato, engenheiro Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras. Segundo Costa, o dinheiro foi providenciado pela empreiteira Queiroz Galvão. O doleiro Alberto Youssef, que também fez delação, já havia confirmado o pagamento ao PSDB.
Ceará fez dezenove depoimentos à Procuradoria-Geral da República, entre 29 de junho e 2 de julho de 2015. No trecho em que fala dos R$ 10 milhões para o PSDB, ele apontou o ex-deputado José Janene (PP/PR), morto em 2010 e apontado como mentor do esquema de propinas na Petrobras. "José Janene falou claramente o seguinte: ’A CPI terminou em pizza’". Segundo Ceará, o ex-deputado do PP era um dos cabeças do esquema de corrupção instalado na Petrobras.
Foi Ceará quem apontou em sua delação a entrega de R$ 300 mil ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) por um executivo da empreiteira UTC - uma das líderes do cartel que atuou na Petrobras entre 2004 e 2014, corrompendo e superfaturando preços em contratos bilionários, em conluio com políticos e executivos da estatal petrolífera.
"Em 2009, Alberto Youssef disse que, para ’abafar’ a CPI da Petrobras, teria que entregar R$ 10 milhões para o líder do PSDB no Congresso Nacional, além de outros valores para outros políticos", registra a Procuradoria-Geral da República. "Parte desse dinheiro deveria ser retirado do ’caixa’ do Partido Progressista, formado com propina oriunda de contratos de empreiteiras com a Petrobras."
A acusação não causa surpresa pois é apenas mais uma mostra de que a lama da corrupção envolve todos os partidos da ordem. Como já discutimos em diversas ocasiões, não se trata de casos isolados, mas de um regime político que se baseia na propina, na troca de favores, e nas jogadas milionárias para garantir seus negócios. Não se trata apenas da índole de um ou outro político, mas de uma democracia degradada que funciona sistematicamente assim.
Não é a toa que a maioria dos trabalhadores se indigna com todos os políticos, e sente que não pode confiar em ninguém. No entanto, saber que todos os partidos da burguesia aceitam e precisam das mesmas regras sujas para proteger e alavancar seus lucros, sempre sobre as costas dos trabalhadores, não significa que precisa continuar assim. É evidente que a Lava-Jato e os políticos e empresários acusados e condenados até agora são apenas uma ponta do iceberg. Precisamos questionar profundamente as bases deste regime, que é apenas uma cara de um Estado que só serve pra manter uma maioria explorada e espoliada por uma minoria corrupta e privilegiada. No Esquerda Diário temos divulgado a proposta de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana imposta pela força da mobilização da juventude e dos trabalhadores. Isso poderia questionar desde os privilégios dos políticos e seus métodos corruptos de governar, e muito mais, poderíamos discutir todos os temas nacionais importantes – como saúde, educação, moradia, transporte – e também discutir a serviço de que devem estar as verbas, as empresas, os meios de transporte – da ganância dos empresários, ou da população trabalhadora?
Com informações da Agência Estado
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