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VESTIBULAR, UM FILTRO SOCIAL | Começou a segunda fase da FUVEST 2016, vestibular que seleciona para a chamada melhor universidade do Brasil, a USP

De acordo com dados do Censo da Educação Básica do Inep/MEC de 2014, no Brasil 8.300.189 jovens estavam matriculados no ensino médio. Desses, pouco mais da metade terminam o Ensino Médio em idade adequada (54,3% - Pnad de 2013). A Fuvest 2016 teve 142 mil inscritos; 25.967 candidatos passaram para segunda fase; e destes apenas 9.688 entrarão.

terça-feira 12 de janeiro de 2016 | 00:00

Do número de jovens que se formam no Ensino Médio, quantos sequer sabem ou veem como possibilidade o Ensino Superior, mais especificamente o público? Daqueles que se inscreveram para FUVEST, quantos serão excluídos? São destes que a mídia e a universidade nunca se reportam que gostaríamos de falar neste breve texto.

VESTIBULAR, UM FILTRO SOCIAL

Não precisa de muito esforço para visualizar o filtro que o sistema educacional representa, essencialmente aparatos como o vestibular. O que na maioria das vezes não fica claro é que esse filtro social é excludente economicamente e (também por isso) racista.

A democratização da educação básica conseguiu colocar todos os setores sociais na escola, claro que com diferenças qualitativas exorbitantes e determinantes. Todas as restrições ligadas ao Ensino Superior (número de escolas, custeio, políticas de permanência, vestibular, etc) colocam uma ínfima minoria em possibilidade de real contato, quanto mais ao acesso pleno. Assim como só a Educação Básica pública pôde ser democrática, ainda que tenha até hoje diversos problemas, somente o Ensino Superior Público também poderia garantir acesso irrestrito a um centro do conhecimento tão decisivo na vida de qualquer pessoa.

Nessa lógica, o empecilho mais tangível à qualquer jovem é o vestibular. Não precisamos ir muito longe para percebermos que isso não é uma utopia (entenda o fim do vestibular na Argentina), mas sim algo muito concreto, sobre o qual se debruçam a defender até setores mais demagógicos da alta casta da sociedade (cujos filhos e eles próprios sempre tiveram acesso assegurado à educação de qualidade), como podemos ver nos artigos do jornal O Globo e do Estadão.

Acontece que, ainda com este primeiro passo decisivo de eliminação do vestibular, ainda nos esbarramos e nos esbarraremos nas raríssimas vagas do Ensino Superior Público e, quando dentro, na falta de condições para permanecer estudando, como a necessidade de trabalhar na falta de pais que possam ajudar financeiramente (e outras, como moradia estudantil, restaurantes, auxílio aluguel – imagine quem vem de longe e não tem dinheiro, quem estudará em cursos integrais e, por isso, não pode trabalhar, quem faz parte dos setores sociais mais marginalizados, como negros, mulheres e lgbts?). É o segundo filtro social no caso dos poucos filhos das classes mais pobres da sociedade que adentram a universidade pública.

Diante disso, é necessário, sim, construção de mais universidades, fomento às que já existem em situações precárias, mas, acima de tudo, tomar para mãos daqueles que não acham que a educação deva ser entendida como mercadoria, mas como um direito, fruto de acúmulos de tudo que a humanidade já produziu, os centros de ensino em posse da iniciativa privada, conhecidos tubarões de ensino. A existência desses tubarões inviabiliza diretamente todo sonho de uma educação de qualidade, pois seus interesses representados pelos políticos nas câmaras e afins se contrapõem à gratuidade da educação.

A necessidade de lucro prevalece sobre nosso direito. Lutar por transformar tudo isso em patrimônio do Estado como a USP e UNICAMP hoje são, mas sob gestão daqueles que mais conhecem esses espaços, trabalhadores e estudantes, é imprescindível para o acesso pleno à educação. Sendo apenas a educação pública capaz de democratizar o acesso ao conhecimento, para que esse conhecimento esteja de fato ao nosso lado e servindo aos interesses da população, é preciso que essas instituições estejam nas mãos dos trabalhadores e estudantes.

A EDUCAÇÃO NÃO PAGARÁ PELA CRISE!

Em momentos de crise econômica, sabemos que o primeiro alvo dos patrões e governos são nossos direitos sociais. O corte orçamentário a nível federal pelo governo Dilma de 13 bilhões na educação e a medida de “reorganização” escolar que o Governo Alckmin tentou impor às escolas da rede estadual no final do ano passado são provas irrefutáveis de que não são os trabalhadores e a juventude que ambos representam.

O bom é que exemplos de resistência e luta por mais não nos faltam, a começar pelo movimento de ocupação das escolas da rede estadual de São Paulo contra a “desorganização escolar” imposta por Alckmin que nos lembrou que nossa classe tem métodos de organização próprios e independentes, que a luta em defesa da educação é de interesse de todos os trabalhadores, não somente daqueles que estudam, que temos a moral daqueles que se indignam e se rebelam diante de toda injustiça e constroem um mundo que não se baseie na exploração e opressão. Esse belo exemplo de luta já se espalha pelo Brasil, como podemos ver nas ocupações de escolas em Goiás.

Pra aqueles seletos 9 mil e pouco (ou 10 mil e pouco devido às vagas do ENEM) que adentrarão a Universidade de São Paulo é preciso dizer o que raros espaços nestas instituições dirão: a crise na educação se expressa aqui também através de incontáveis cortes orçamentários, precarização do trabalho docente, falta de políticas de permanência e acesso democrático (como cotas raciais), falta de funcionários técnico administrativos, etc. É preciso construir uma luta forte e unificada aos demais setores para não só assegurar nosso direito à educação de qualidade, sobretudo o direito da humanidade usufruir de tudo o que ela produziu até então. Nossos inimigos estão aqui dentro na forma da casta burocrática de professores que administra essa universidade a mercê de seus próprios interesses, na esfera Estadual e Federal.




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