Flavia ValleProfessora, Minas Gerais
quarta-feira 3 de agosto de 2016 | Edição do dia
Nas últimas semanas a educação mais uma vez tomou os debates. E dessa vez foram os múltiplos rechaços à tentativa de impor a censura nas salas de aula por via do projeto “Escola sem Partido”.
O PLS 193/2016 foi apresentado ao Congresso pelo Senador Magno Malta do PR e tem como apoiadores Eduardo Cunha, Jair Bolsonaro e Marco Feliciano, conhecidos por suas posturas de direita, LGBTfóbicas, machistas e racistas. Além de ter sido bandeira de Alexandre Frota, ator acusado de estupro. A censura ganha e a educação perde quando defensores dos torturadores e estupradores falam sobre o que deve existir ou não nas escolas e nas salas de aula.
A Procuradoria Geral da República já declarou que o projeto é inconstitucional. Em consulta recorde através de portal digital do Senado, a população votou massivamente contra o “Escola Sem Partido”. A campanha da “Aula Protesto” contra o projeto, lançada pelo Esquerda Diário, recebeu vídeos de professores de várias regiões do país.
Segundo esse projeto, as proibições exigirão uma postura “neutra” do professor em questões políticas, socioculturais e econômicas, impedindo debates fundamentais para a formação da juventude e reprimindo duramente os professores. Não é possível ser neutro diante de eventos da realidade como o preço do feijão, o desemprego recorde, os assassinatos de jovens LGBT, o racismo, os casos de bullying, a destruição da Bacia do Rio Doce por uma empresa mineradora, etc...
Se for aprovado, não serão apenas as aulas de História, Artes, Sociologia, Filosofia e Anatomia as que poderão virar casos de polícia. Também as aulas de Matemática e Português uma vez que toda iniciativa do professor em contextualizar o conteúdo da disciplina com a realidade sociocultural dos alunos poderá ser entendido como uma forma de “doutrinação”.
O obscurantismo é um traço da educação medieval que tem como protagonistas alguns senadores e referentes políticos a serviço dos interesses capitalistas na privatização do ensino e na manutenção da escola pública como um lugar de formação de mão de obra barata e longe de qualquer ensino crítico.
Uma juventude apática e professores criminalizados por fomentar debates sociais e políticos: esses são os reais objetivos do “Escola Sem Partido” que não por acaso surgem depois dos protestos de 2013, das ocupações das escolas em vários estados e do golpe institucional que vive nosso país.
Contra todo esse projeto reacionário e contra o “Escola Sem Partido”, lutemos por uma educação realmente livre, laica e a serviço dos trabalhadores.