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ELEIÇÕES 2020 | Com liderança de empresários bolsonaristas, dinheiro de grandes capitalistas segue dominando eleições

Assim como em campanhas anteriores, Rubens Ometto e irmãos Mattar estão no topo da lista dos grandes doares.

terça-feira 24 de novembro de 2020 | Edição do dia

(Foto: Amanda Perobelli/Reuters)

Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, o dinheiro privado nas eleições de 2020 já chegou a R$ 1,2 bilhão, superando o patamar de 2018 que ficou de R$ 1,1 bilhão (em valores já corrigidos). Entre os maiores financiadores da campanha, estão os irmãos Mattar, da Localiza, Rubens Ometto, da Cosan, e o senador Eduardo Girão (Podemos-CE).

Apesar da decisão tomada em 2015 pelo STF, que proíbe doações de empresas para campanhas eleitorais e partidos, os donos e executivos das empresas ainda podem fazer doações, limitadas a 10% de seus rendimentos, o que faz com que o poder dos grandes empresários capitalistas continue bastante influente no campo eleitoral. Essa situação escancara como mesmo com a proibição de doação das empresas são os capitalistas, por meio de suas doações, que continuam determinando os vencedores na democracia burguesa, eleitos com o objetivo de servirem aos interesses de seus financiadores.

De acordo com o STE, as doações de pessoas físicas, que incluem empresários, pessoas comuns e vaquinhas virtuais totalizam R$830 milhões. Já os candidatos que se autofinaciaram são responsáveis pela aplicação de R$370 milhões.

No topo da lista de doadores, com R$ 3,5 milhões, está o fundador da empresa de aluguel de veículos Localiza, José Salim Mattar Jr., bilionário responsável pela exploração de milhares de trabalhadores, e que, até agosto, foi secretário de Desestatização do governo Jair Bolsonaro e seu irmão Eugenio Pacelli Mattar, diretor-presidente da empresa.

Nas eleições municipais de 2016, Salim Mattar fez doações no total de R$ 370 mil. Já nas eleições gerais de 2018, doou R$ 2,9 milhões, com destaque para Zema, que recebeu R$ 700 mil e que exerce um mandato com duros ataques a direitos, como na reforma administrativa do estado de Minas Gerais. Cabe destacar que a Localiza é sediada na capital mineira.

Nas eleições municipais de 2020, embora tenham feito doações para políticos de vários partidos, especialmente de centro e de direita, os principais nomes apoiados pelos irmãos não se desempenharam bem nas urnas. Mendonça Filho (DEM), ex-ministro da Educação, ficou de fora do segundo turno da disputa pela Prefeitura do Recife; Rodrigo Paiva (Novo), ficou na quinta colocação na disputa pela prefeitura de Belo Horizonte, com apenas 3,63% dos votos válidos.

O segundo na lista dos maiores doadores é o empresário Rubens Ometto Silveira Mello, presidente do conselho de administração da Cosan, empresa do ramo de energia e combustíveis, que se configura como uma das maiores empresas do Brasil.

Nas eleições de 2018, Silveira Mello foi o principal financiador privado, aplicando R$ 7,5 milhões. Nas eleições municipais de 2020, Silveira Mello doou R$ 2,3 milhões, também a vários candidatos, mas especialmente a Bruno Covas (PSDB), que atualmente disputa o segundo turno em São Paulo, ao Cidadania de São Paulo, que está na coligação de Covas, e a Mendonça Filho (DEM).

Covas, o atual prefeito de São Paulo, tem até o momento a campanha mais cara do país, com R$ 18,4 milhões de receita, sendo 82% dela de origem pública e 18%, privada. Entre os doadores de sua campanha uma lista de empresários, na qual se encontram Jorge Mitre, fundador do Hospital de Olhos, com R$ 230 mil, e Ometto, com R$ 200 mil.

O terceiro da lista de doadores é o senador e empresário Eduardo Girão (Podemos-CE), com R$ 1,7 milhões, que aplicou recursos principalmente na campanha de Capitão Wagner (PROS) a prefeito de Fortaleza, que agora disputa o segundo turno, e na campanha de Emilia Pessoa (PSDB), que ficou em terceiro e está fora da disputa pela Prefeitura de Caucaia (CE).

Até as eleições de 2014, bancos, empreiteiras e outros pesos-pesados do PIB nacional respondiam pela maior parte do financiamento empresarial. Na eleição daquele ano, o gasto declarado pelos candidatos ficou em torno de R$ 5 bilhões (valor da época). Tendo cerca de 60% saído dos cofres de empresas como JBS, Odebrecht e Bradesco.

Nos últimos anos, JBS e Odebrecht tornaram-se pivôs dos maiores escândalos de corrupção no Brasil, sob suspeita de repassar propina a políticos em troca de vantagens na máquina pública.
Em 2015, o STF proibiu o financiamento empresarial das campanhas considerando que a prática desequilibrava a disputa e representava a captura da política pelo poderio econômico.

Entretanto, além do limite de 10% dos rendimentos do doador permitir que os grandes capitalistas direcionem quantias consideráveis para as campanhas, não há impedimento para executivos de uma mesma empresa que desejarem fazer doações em conjunto, prática verificada em 2016, 2018 e também em 2020, o que fortalace mais ainda os representantes da burguesia.

Após a proibição do STF, em 2016 os gastos eleitorais no país continuaram a ser majoritariamente privados, mesmo que em menor volume, R$ 1,13 bilhão de autofinanciamento e R$ 1,35 bilhão de doações de pessoas físicas, especialmente grandes empresários.

Em 2016, os principais doadores foram os irmãos Alexandre e Pedro Grendene, com R$ 6,6 milhões, em valores da época, para vários partidos e candidatos. Os irmãos também fizeram expressivas doações em 2018 (R$ 2,1 milhões) e, em 2020, já fizeram doações que somam R$ 1,2 milhão.

Em 2018, com a criação do Fundo Eleitoral, nas eleições gerais o dinheiro privado deixou, pela primeira vez, de ser a principal fonte dos candidatos. Ao lado do Fundo Partidário o Fundo Eleitoral tornou-se a principal fonte de receita. Os dois fundos somam, atualmente, cerca de R$ 3 bilhões de orçamento.

Por trás destas medidas eleitorais, está o fato de que o Brasil passa por uma profunda crise econômica capitalista e os grandes empresários e banqueiros buscam eleger candidatos que tenham o perfil de impor ajustes e retirada de direitos para fazer com que esta crise seja paga pelos os trabalhadores. Nós lutamos, na direção contrária, para que sejam os capitalistas que paguem pela crise e por isso defendemos uma assembleia livre e soberana imposta pela força da nossa mobilização.




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