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INQUÉRITO CONTRA MARCELLO PABLITO | Com audiência adiada, USP será ré por discriminação racial e ato anti-sindical

segunda-feira 6 de julho de 2015 | 15:47

Nesta segunda-feira, dia 06 de julho, ocorreu a audiência inicial do inquérito aberto pela Universidade de São Paulo contra Marcello Pablito, trabalhador negro dos restaurantes da USP e diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP, responsável pela Secretaria de Negros, Negras e Combate ao Racismo. A audiência foi adiada para 15 de dezembro deste ano.

Na audiência inicial, a Reitoria da USP propôs um acordo que significaria a demissão sem justa causa de Marcello Pablito, o que foi recusado pela defesa. Ao mesmo tempo, os advogados de defesa entraram com alguns pedidos que foram deferidos pela juíza.

O Esquerda Diário falou com Luis Carlos Moro, advogado de Marcello Pablito: "Solicitamos que o Sintusp seja parte do processo, uma vez que entendemos que o pedido de rescisão do contrato de Pablito com suposta justa causa fere a coletividade sindical dos trabalhadores da USP, que democraticamente o elegeram para o posto de dirigente sindical da categoria. Assim, o Sintusp tem interesse próprio em defender a manutenção da integridade no histórico funcional do Pablito e a estabilidade da diretoria eleita, o que o inclui".

Moro completou dizendo que "A juíza deferiu deste pedido e também deferiu o processamento da reconvenção que apresentamos, na qual a Universidade de São Paulo figura como acusada de discriminação por motivação racial e prática de atos anti-sindicais. Isso significa que, neste inquérito aberto na Justiça do Trabalho, a USP também será ré e terá que responder judicialmente pelas ações e omissões na asseguração dos direitos decorrentes do princípio da não discriminação".

Marcello Pablito esteve acompanhado por uma importante delegação. Estavam as diretoras do Sintusp Neli Wada, representante legal do Sindicato, e Diana Assunção, e também a companheira Dulce Helena, representante dos trabalhadores da USP no Conselho Universitário e única integrante negra deste órgão. Gabrielly Oliveira, estudante e integrante da Ocupação Preta também esteve presente e será uma das testemunhas de defesa pois compôs a comissão de estudantes e trabalhadores que solicitaram ser ouvidos pelo Conselho Universitário sobre a adoção das cotas raciais - pedido que foi negado.

Uma importante solidariedade à Marcello Pablito se expressou nos restaurantes da USP, com videos, notas e depoimentos de dezenas de trabalhadores. À audiência também se apresentaram as testemunhas Vilma Maria, que trabalha há mais de 20 anos na USP e atualmente como auxiliar de cozinha no restaurante da Física; Paulo Rogério ("Batata"), auxiliar de cozinha e ex-representantes dos trabalhadores do restaurante Central e Isaque Lopes, auxiliar de serviços gerais.

Ao final da audiência, Marcello Pablito declarou ao Esquerda Diário que considerou positivo o primeiro resultado. "O ataque a mim é um ataque ao Sintusp e a todos os trabalhadores da USP. E também entendo como um ataque a todo o movimento negro, estudantes e trabalhadores negros. As páginas da minha defesa e acusações que fazemos a USP, elaboradas pelos advogados Luis Carlos Moro e Daniela Muradas, são um verdadeiro dossiê do racismo institucional da USP bem como das dezenas de atos anti-sindicais. Espero que o meu caso possa contribuir para enfrentar essa ordem racista que ainda vivemos dentro da Universidade, que deveria ser um espaço contra qualquer forma de preconceito".

ENTENDA O CASO

Em maio deste ano a Reitoria da USP reuniu o Conselho Universitário para votar medidas sobre a estrutura de poder e acesso da universidade, sem debate com a comunidade universitária. Uma comissão de estudantes e trabalhadoras negras solicitou à Reitoria que permitisse apresentar ao CO a reivindicação de cotas raciais. A Reitoria recebeu a comissão, porém negou a apresentação das reivindicações ao CO. Os manifestantes que aguardavam em ato ao lado de fora entraram no local onde estava ocorrendo o Conselho, para protestar contra a negativa da Reitoria.

A resposta da USP foi o caminho da perseguição política e ação anti-sindical, com um primeiro inquérito na Justiça do Trabalho contra Marcello Pablito. Desde então, são centenas de manifestações contrárias à demissão de Pablito, com um importante abaixo-assinado que contou com a assinatura de Leci Brandão, Adriano Diogo, Carlos Gianazzi, Zé Maria, Raul Marcelo, Izalú, Beatriz Abramides, GOG, UNEAFRO, Juntos, CSP-Conlutas, Quilombo Raça e Classe e dezenas de outras entidades e movimento.

A campanha também conta com um manifesto assinado por dezenas de intelectuais, professores e juristas que denunciam a lógica persecutória na USP. O manifestou tem com a assinatura de Jorge Luiz Souto Maior, Marcus Orione, Luiz Renato Martins, Ruy Braga, Ricardo Musse, Ricardo Gebrim, Oswaldo Coggiola, Gilberto Bercovici, Lincoln Secco, Jorge Grespan, Henrique Carneiro, Sean Purdy e muitos outros.




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