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Com a possível saída de Netanyahu, como fica Bolsonaro e o regime brasileiro pós-29M?

Após o cessar-fogo de mais um gigantesco ataque do Estado racista de Israel à Palestina, uma grande frente ampla se formou para tirar Netanyahu do poder e desviar a greve geral palestina. Se isso se concretizar, Bolsonaro tende a ficar mais isolado no tabuleiro geopolítico. Diante das manifestações do 29M no Brasil, a situação pode tornar contornos preocupantes para o negacionista, por isso sua pressa em passar mais privatizações.

Rosa Linh Estudante de Ciências Sociais na UnB

sexta-feira 4 de junho de 2021 | Edição do dia

FOTO: ALAN SANTOS/PR

No dia 21 de maio, foi acordado o cessar-fogo da operação militar israelita “Guardião das Muralhas” sob a Palestina. Foram 11 dias de bombardeio, 253 palestinos mortos (66 crianças) e 2.000 feridos. 74 edifícios públicos desabaram, 1.800 unidades residenciais foram reduzidas a escombros e 14.300 parcialmente destruídas. Infraestrutura danificada, além de famílias dizimadas, dezenas de milhares de refugiados. Essa foi mais uma das investidas militares genocidas do Estado ilegítimo e racista de Israel contra o povo palestino.

O fato é que essa operação, para o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, não saiu tanto como ele desejava. Sob fortes alegações de corrupção que abalaram sua popularidade, a fim de se preparar para as próximas eleições, Netanyahu promoveu essa escalada militar, fomentando ódio racial a partir dos colonos em Jerusalém que expulsavam palestino no bairro de Sheikh Jarrah e mobilizando a opinião pública “contra o terrorismo islâmico”. No entanto, seu tiro saiu pela culatra. Em troca, a resposta do povo palestino foi a retomada de uma profunda união entre aqueles que sobrevivem em Gaza, os que vivem nos guetos da Cisjordânia e os “árabes israelenses” que vivem como cidadãos de segunda ordem no Estado de Israel. Destaca-se uma incipiente união entre árabes e judeus, sobretudo na juventude.

Em uma resposta desesperada de contenção da revolta palestina para que a dinâmica da greve geral não seguisse, formou-se uma aliança para tirar Netanyahu entre o ultradireitista Naftali Bennett, o jornalista de oposição de centro-direita Yair Lapid, membros da Azul e Branco de Benny Gantz - atual Ministro da Defesa e ferrenho oponente de Netanyahu - e os partidos de centro-esquerda do espectro sionista como o Partido Trabalhista e o Meretz (historicamente identificado com a esquerda sionista pacifista). Além disso, haveria apoio da Lista Árabe Unida que possivelmente faria parte do governo, uma traição aberta que apenas mostra as décadas de colaboração de classe da direção da Autoridade Palestina.

Leia mais: Operação militar israelense: efeitos colaterais

A saída de Netanyahu ainda não é certa, mas se ocorrer, Bolsonaro estará ainda mais isolado no tabuleiro geopolítico, como afirma artigo recente da BBC. Nesse sentido, o presidente brasileiro pode vir a ter um ponto de apoio mais débil e menos ideológico no Oriente Médio, além de colocá-lo mais suscetível à disciplina dos Democratas e do golpismo institucional. A relação Brasil x Israel não deixaria de ser pragmática e próxima, ainda mais com um ultradireitista como Bennett, mas os interlocutores árabes podem dar menos espaço para Bolsonaro.

O cessar-fogo articulado por Biden procura “normalizar a situação” no Oriente Médio, o que tende a fortalecer temporariamente o Egito e Catar, principais “patrocinadores” do Hamas no acordo. Diante disso, é possível que as relações comerciais possam sofrer flutuações, já que o “tom” de Bolsonaro deverá baixar para com esses países. O Brasil é um dos maiores exportadores de aves e frangos para o Oriente Médio, sobretudo os Emirados Árabes Unidos e o Irã. Já nas importações, predominam os óleos brutos de petróleo cru e fertilizantes químicos da Arábia Saudita. A cooperação militar entre Israel e Brasil teve saltos nos últimos períodos, mas dificilmente estará profundamente ameaçada.

Carlos França, o ministro das Relações Exteriores sucessor do olavista Ernesto Araújo, vem se mostrando com um tom mais moderado - no dia 21, recebeu uma delegação de embaixadores árabes em Brasília e pediu que o Exército de Israel exerça “contenção máxima” no atual conflito na Faixa de Gaza - tudo o que os Democratas querem. É isso o que querem para Salles, que ontem estava em um evento no Goiás propagandeando o agronegócio racista e patrocinando a privatização da SANEAGO - empresa pública de saneamento básico do estado.

Ainda, no entanto, Bolsonaro é funcional para o imperialismo para que se passe ataques importantes como a reforma administrativa e privatizações na Eletrobrás, Correios e no ramo do saneamento básico. Por isso, Bolsonaro terá de medir e se equilibrar entre a necessidade de passar mais e mais ataques, a fim de unificar o golpismo institucional em seus interesses comuns e mostrar serviço para o imperialismo estadunidense, descarregando a crise nas costas da classe operária - e o descontentamento crescente da juventude e resistências operárias embrionárias. Nesse sentido, as burocracias sindicais cumprem um papel muito funcional ao regime de descompressão da fúria social e sua canalização para saídas institucionais como a CPI da COVID.

Com o 29M, demonstrou-se um desgaste importante do “fica em casa” propagandeado sobretudo pelo golpismo institucional, com os governadores, o STF e a Globo como principais interlocutores. Apenas a unidade das fileiras da classe operária com a juventude pode dar uma resposta de conjunto para a crise e fazer o jogo mudar em seu favor.

Leia mais: 5 pontos para potencializar a mobilização com a força do 29M




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