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CORONAVÍRUS NO BRASIL | Com 954 mortes e 18.145 infectados, Brasil só identifica 0,95% dos casos de Covid-19 segundo estudo

Segundo um estudo da Universidade de Göttingen, na Alemanha, divulgado nesta 3ª feira (7), Milhões de pessoas infectadas pelo novo coronavírus podem estar de fora das estatísticas das autoridades. Os cientistas responsáveis pelo estudo, Christian Bommer e Sebastian Vollmer, calculam que apenas 6% das infecções foram detectadas em todo o mundo. No Brasil, o percentual seria de apenas 0,95%, enquanto nos EUA seria de 1,6% e no Reino Unido de 1,2%. Todos os percentuais se referem à situação em 31 de março.

Virgínia GuitzelTravesti, trabalhadora da educação e estudante da UFABC

quinta-feira 9 de abril de 2020 | Edição do dia

(Stephanie Keith/Getty Images)

Segundo este estudo, no Brasil, o número real de casos seria de cerca de 602 mil, enquanto o Ministério da Saúde registrava apenas 5.717 no dia 31 de março. Ainda que os números em si possam ser questionados, a questão concreta é que, sem testes massivos, é obvio que haverá muitas subnotificações e uma falta absoluta de controle do rastro do vírus, o que tornam as quarentenas indiscriminadas levadas a frente pelos governadores uma política completamente insuficiente.

Ainda assim, os números oficiais não são menos alarmantes. Segundo o último boletim do Ministério de Saúde divulgado nesta quarta-feira, 800 pessoas no país já morreram desde 26 de fevereiro em decorrência da COVID-19. Foram 2.210 diagnósticos a mais de terça (7) para quarta-feira (8), aumento de 16,1%, e um aumento percentual ainda maior no número de mortes: 19,9%. O número total de óbitos é 954, acréscimo de 287 em relação ao dia anterior. No total, 18.145 pessoas já foram infectadas pelo coronavírus no país, o que significa que a COVID-19 já fez mais vítimas em 43 dias do que a dengue, o H1N1 e o sarampo mataram ao longo de todo o ano passado.

A sobrecarga do SUS é fruto dos ataques neoliberais

Outra questão muito preocupante é a combinação entre a pandemia do coronavírus e os já conhecidos problemas de dengue e H1N1. De acordo com o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, neste ano (até o dia 28 de março), 148 pessoas morreram em decorrência da dengue, 64 delas no Paraná (a secretaria de saúde paranaense, no entanto, registrou mais cinco mortes, subindo para 69 óbitos).
O índice de aumento, ainda que relativamente baixo, é muito preocupante quando se leva em conta que, desde o ano passado, a curva de crescimento da doença vem aumentando. Ao longo de 2019, foram 1.544.987 casos de dengue no país (e 782 mortes), um aumento de 488% em relação ao ano anterior. Segundo uma pesquisa assinada por especialistas da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e pelo secretário Nacional de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson Oliveira, o pico de hospitalizações por dengue e gripe (influenza) em 2019 ocorreu justamente entre março e maio.

A previsão de enorme colapso dos sistemas de saúde em todo o mundo, e especialmente no Brasil, é fruto direto dos diversos ataques neoliberais que ocorreram nos sistemas de saúde público nos últimos anos. No Brasil, desde a constituição do Sistema Único de Saúde, o mesmo não recebeu as verbas prometidas e foi sistematicamente sucateado. A combinação entre o Teto de Gastos aprovada pelo golpista Temer em 2017, que congelava os investimentos da saúde por 20 anos, tem como consequência que, neste momento tão urgente, 43% dos municípios não têm leitos no SUS.

A situação dos leitos de UTI não é menos grave. A média de leitos do país é de 21 a cada 10 mil habitantes, sendo do SUS 1 a cada 10 mil. Hoje 75% dos brasileiros usam o SUS e apenas 25% têm plano de saúde, sendo que os hospitais privados têm uma proporção de leitos de 4,8 por 10 mil segurados. 

Em 11 anos, desde a pandemia do H1N1 em 2009 até os dias de hoje, o Brasil perdeu cerca de 34,5 mil leitos de internação, indo de 460,92 mil para 426,38 mil. Esse número é referente ao SUS, que perdeu quase 50 mil espaços de atendimento nesse período. Já a iniciativa privada aumentou o número de leitos em 14 mil no mesmo período. 

O Ministro da Saúde, Luiz Mandetta, que manteve seu cargo graças a intervenção dos militares, tem aparecido com uma suposta "racionalidade" para enfrentar a pandemia. Isso fica fácil quando seu comparativo é com um lunático como Bolsonaro, que ainda hoje menospreza os impactos internacionais da COVID-19. Todavia, esse reacionário ministro foi, ao longo de toda sua trajetória política, um claro inimigo do SUS e um defensor incansável dos convênios particulares e das privatizações. Aquele que já foi presidente da “cooperativa” Unimed é um alinhado dos governadores estaduais, da alta cúpula dos Militares, e do Congresso Nacional na figura de Rodrigo Maia e também do STF. Muito longe de qualquer racionalidade, é este Ministro que continua sem garantir testes massivos para a população que anunciou um afrouxamento das quarentenas.

Para oferecermos uma saída comprometida com os verdadeiros interesses da maioria da população e da classe trabalhadora, é preciso levantar uma política independente que não recaia em defender nenhum "mal menor". Por isso, nós do Esquerda Diário temos feito uma campanha sistemática pelos Testes Massivos Já, assim como pela distribuição de máscaras massivamente, pela proibição das demissões e um mínimo de 2000 reais para todos os afetados pelo desemprego, pela reconversão da indústria para o combate à pandemia, pela centralização do sistema de saúde público e privado pelo Estado, pelo controle operário mais amplo possível de todo o processo de produção, entre outras medidas que viemos levantando. Assim como para que as direções do movimento operário, a começar pelas centrais sindicais, sejam parte de impulsionar essas demandas.




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