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MORTE DE FIDEL CASTRO | Claudia Cinatti: "Fidel simbolizou a revolução, mas no entanto instaurou o partido único"

A dirigente do PTS-FIT (organização irmã do MRT na Argentina) coordenadora por sua vez da seção Política Internacional deste diário. No último sábado esteve como convidada no programa da C5N Rémix de notícias, compartilhando o painel com Adonis Torres Zamora, presidente da União de Residentes Cubanos na Argentina e Margarita Pecora, residente cubana.

terça-feira 29 de novembro de 2016 | Edição do dia

Transcrição da entrevista com Cinatti e parte do debate com os outros entrevistados.

A vitória de Trump vai fazer retroceder alguns avanços com a proximidade que havia estabelecido nos últimos tempos Raul Castro como Barack Obama?

Acho que tem grande probabilidades de que isso suceda. Nas primeiras horas depois do anúncio da morte de Castro, Trump fez eco de que apoiavam os veteranos da velha brigada da intervenção na Bahia Cochinos de 1961. Evidentemente há uma troca da orientação política, nunca ficou muito claro o ocorrido, mas Trump vai ter uma política diferente da de Obama.

Seria bom esclarecer que a política do Obama não era uma política de tolerar a decisão que havia tomado o povo cubano de fazer uma revolução, de expropriar e de construir uma sociedade distinta. Estados Unidos teve uma política durante muitíssimos anos de fustigação, de um bloqueio econômico que era uma guerra comercial. A respeito da imigração teve outra política de guerra, chamada de " pés secos", que é dar aos cubanos que chegam por terra a cidade estadunidense condições de vida proveitosa.

Então vc não vê com bons olhos essa proximidade entre Obama e Raul Castro?

Essa proximidade era parte de uma política norte americana com interesses estratégicos de conseguir cambiar as relações sociais em Cuba mas por outro lado, dizendo "bom, durante 60 anos mantivemos um bloqueio, tentamos matar 600 vezes Fidel Castro, fizemos intervenções militares direta, etc, e não resolveu, então a via é outra: abramos o diálogo".

É que a revolução tem tido conquistas que não conhecemos em outros países da América Latina, como a saúde, a educação, a formação de recursos humanos, e saber planejar construir outro tipo de sociedade que não está regida pela ganância capitalista.

Como se analisa que tanta gente vá embora deste país e que, além disso, haja postura muito a favor e muito contrária mas nada mais ou menos?

Em primeiro lugar tem um elemento econômico que vai ocorrendo. A situação em Cuba é muito complicada. Porque se por um lado estão as conquistas da revolução, o regime político está questionado desde dentro. Enquanto ao cubanos lhes custa muito a vida cotidiana, com um salário de R$S 24 ao mês ( ajudado por uma saúde, educação, vida, medicamentos e transportes acessíveis), tem um regime que vive muito melhor que a população, sobre tudo as Forças Armadas. E isso se percebe. Em condições muito difíceis, o setor que está no poder, sem ser proprietário dos meios de produção mas por sua vez sem o controle da população já que não tem possibilidades de que tenham suas próprias organizações, impede que haja uma democracia de quem produz a riqueza.

Como acha que o mundo vai lembrar de Fidel castro?

É um líder contraditório. Compreendo a profunda dor que sente amplíssimos setores dos trabalhadores e jovens pelo que representa, já que é símbolo da única revolução triunfante na América Latina. Mas por sua vez estabeleceu um regime de partido único, onde se os trabalhadores querem organizar-se de outra maneira não o podem fazer. Isso sim, a Igreja Católica sim se organiza.

Então, nos momentos em que tem que tomar decisões que afetam a vida de todos e as relações de propriedade em Cuba, acho que essa falta de democracia não é somente um problema de liberdades individuais, é um problema do destino da revolução. Porque os que fazem e bancam a revolução tem que ter o direito de discutir até onde se abre a economia, quem paga o custo maior dessa abertura.

Temos visto como nos países que tem regime de partido único, como a União Soviética ou na Europa, teve a volta do capitalismo.




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