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quinta-feira 4 de junho de 2015 | 14:47

A mobilização foi gigantesca no Congresso nacional, onde se realizou a manifestação central, mas também superou todas as estimativas em mais de 70 cidades do país. E não apenas isso: se alastrou ao Chile, Uruguai e México.

Em pleno centro portenho (Buenos Aires), alcançou tanta massividade que era quase impossível caminhar e até se fez necessário “esperar a vez” para poder marchar. Segundo cálculos globais estima-se que a manifestação reuniu entre 300 mil e 500 mil pessoas, configurando uma das maiores concentrações da história recente. Às 18h30, enquanto vários milhares começavam a deixar a Plaza de los Dos Congresos, outros tantos tentavam chegar aí. Os manifestantes tomavam toda a praça, mas também se espalhavam pela Avenida de Mayo até a Avenida 9 de Julio e várias quadras pelas ruas laterais, em todas as direções.

Quem marchou contra a violência machista?

A manifestação teve um caráter amplamente representativo. Diferente dos que se manifestaram no 18F apoiando os promotores que denunciavam o governo nacional, as classes médias altas foram quase inexistentes nesta manifestação. Na maioria jovens estudantes, trabalhadoras e trabalhadores com seus uniformes que deixavam as fábricas, escritórios, hospitais, escolas, e também profissionais liberais.

Presentes organizações feministas, sindicais, estudantis, sociais, de bairros e políticas entre muitos que marcharam individualmente. A poucas quadras da praça, dezenas de ônibus indicavam os que chegavam organizados de cidades da Grande Buenos Aires. Também era notório que para muitas e muitos a mobilização era uma experiência absolutamente nova, pelas perguntas sobre quais eram as ruas percorridas pela marcha.

Foi uma grande multidão rechaçando os femicídios e a violência contra as mulheres. Diante do palco, num local separado, encontravam-se famílias das vítimas de femicídio com fotos das mulheres assassinadas penduradas no pescoço. Nos rostos, a tristeza, a dor, a emoção se misturavam com a alegria de sentir-se cercada pela solidariedade de centenas de milhares de pessoas em todo o país.

“Vamos para algum lado” dizia uma garota para a outra quando ainda eram 16 horas. Nesse momento uma coluna do sindicato ATE ingressava à praça. Não conseguiria. Ficaria na metade do caminho, barrada pela multidão.

Poucos minutos depois, no outro extremo da praça chegavam as trabalhadoras ferroviárias. Na Avenida de Mayo se formava uma coluna de La Cámpora, encabeçada pelos ministros Florencio Randazzo e Agustín Rossi, entre outros funcionários do governo nacional. Atrás, os “guarda-costas” que lhes protegiam.

Pode-se ver vários políticos de partidos patronais que, inclusive, utilizaram seu aparato como, por exemplo, a deputada Dulce Granados, esposa do ministro de Segurança do governador Scioli, trazendo um coração desenhado na mão direita e estava acompanhada por dezenas de militantes com cartazes – com o nome da deputada!

O governo aderiu à mobilização convocando nos últimos dias, procurando evitar que se convertesse numa clara manifestação de oposição. A presidente, no dia da marcha, pela manhã, emitiu algumas opiniões por twitter, mesmo que não tenha feito nenhuma menção à manifestação nem ao alto índice de femicídios em cadeia nacional transmitida ao meio-dia, de Mendonça. A candidata a governadora desse estado, Noelia Barbeito, do PTS na FIT, criticou a presidente Cristina por dar as costas às reivindicações de milhares.

Também estiveram presentes vários famosos: o estilista Roberto Piazza, as atrizes Andrea Bonelli e Alejandra Darín, os atores Gonzalo Heredia e Arturo Bonín, entre outros nucleados na Asociación Argentina de Actores.

Nas esquinas eram improvisadas representações teatrais: jovens em balões de nylon, pessoas com cartazes com letras que terminavam formando a frase #NiUnaMenos. Fluía a grande criatividade da multidão.

A amplitude da manifestação estava expressa nos cartazes e nos que a convocavam. Atrás do palco havia um cartaz escrito: “Disse Jesus: Eu vim para que tenham VIDA e para que a tenham em ABUNDÂNCIA”. Algumas centenas de metros e milhares de pessoas, na mão de uma jovem se podia ler “Se ser PUTA é ser livre e dona do meu corpo, SOU PUTA, e daí?”.

As vozes que ecoaram no palco

O discurso lido pela atriz Erica Rivas e o ator Juan Minujín, insistiu que o machismo é uma construção cultural, mas quando falamos de violência contra as mulheres também nos referimos ao impedimento que têm para decidir sobre seus próprios corpos, às redes de exploração das mulheres, ao assédio nas ruas e a outras tantas formas de violência social e institucional, nas quais as forças de segurança também estão envolvidas.

Em seguida, a desenhista e caricaturista Maitena leu um a um os pontos de um abaixo-assinado que as organizações pediam que os políticos assinassem comprometendo-se com a luta contra a violência de gênero. Entre outros pontos, exigia: implementar todos os recursos necessários e monitorar o Plano Nacional de Ação para a Prevenção, a Assistência e a Erradicação da Violência contra as Mulheres, tal como estabelece a Lei 26.485; que as vítimas tenham acesso a assistência jurídica gratuita durante todo o processo judicial; elaborar o Registro Oficial Único de vítimas de violência contra as mulheres para que haja estatísticas oficiais e atualizadas sobre femicídios; que se garanta a Educação Sexual Integral em todos os níveis educativos etc.

A esquerda denunciou os responsáveis

Em todo o país, a esquerda se somou à exigência de #NiUnaMenos, mas também se incorporou à denúncia das múltiplas formas de violência contra as mulheres e também das instituições que são responsáveis por legitimá-la, reproduzi-la e justificá-la. A grupo feminista socialista Pan y Rosas, integrado por militantes do PTS e mulheres independentes, mobilizou mais de 3 mil mulheres nesta manifestação central que ocorreu no Congresso nacional e mais de 7 mil em todo o país, além da participação do Pan y Rosas do Chile, México e Uruguai, países que replicaram esta mobilização.




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