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Camila FarãoSão Paulo

quinta-feira 6 de agosto de 2015 | 23:43

Ao nos depararmos com a condição das mulheres de hoje, inevitavelmente dois paradigmas se levantam: temos mais poder para conquistar as coisas, mas temos mais tarefas que tornam este poder desigual.

Ao citar poder, será sempre no sentido de verbo. Não se trata do “Poder” substantivado que pouco importa se está na mão do homem ou da mulher. Dentro desta sociedade de classes, o poder que não se propõe a revolucioná-la está fadado a perpetuar a mesma sociedade de privilégios. No entanto, “podemos” conquistar cada vez mais espaços e atitudes que não são consideradas “femininas”, uma vez que estamos inseridas na cadeia produtiva. Exigimos os nossos direitos, entre eles, talvez o mais caro, o direito a nossas vidas, nossos corpos!

O lema-nome “Canelas inteiras, rotinas quebradas”, que o time de futebol das metroviárias levantou no último domingo no I Torneio Operário Intercategorias, resgata um pouco da luta e da poesia das mulheres trabalhadoras, mães, donas de casa. Elas decidiram enfrentar seu cansaço diário, a alienação de seu corpo com o trabalho repetitivo, a tripla jornada, e foram jogar bola com outras mulheres.

Uma tarefa importante deste domingo foi a percepção de sermos mais fortes quando refletimos juntas sobre nossas tarefas. A solidariedade, inerente ao processo de negação do capital, se demonstrou como ponto alto em detrimento da competição. Ou seja, não foi a máquina de produzir riqueza que orientou nossos movimentos, mas a profunda vontade de fazer dos nossos corpos o próprio instrumento de vida que nos é negado.

Em poucos momentos, como participantes de uma greve igual à que enfrentamos em junho do ano passado, por exemplo, criamos consciência de nossa alienação enquanto trabalhadores da cadeia produtiva. Dentro dessas poucas oportunidades, somos levados a agir conscientes e pensamos em nosso trabalho de forma mais profunda. Assim sendo, os laços que nos ligam é a nossa rotina de exploração dentro do Metrô de São Paulo.

Como resistência ao sistema que quer nos impor ódio aos usuários do Metrô, competição entre os funcionários, divisão entre terceirizados e efetivos, temos como arma a nossa solidariedade de classe. Os usuários que embarcam nas linhas do Metrô são outros trabalhadores, mulheres, gays, explorados, etc. A consciência de que trabalhamos num bem público para a população fortalece a nossa luta contra o governo. Da mesma forma, a relação para além do horário de trabalho, entre os trabalhadores, fortalece os laços de solidariedade e amizade que são subtraídos no dia-a-dia extenuante.

No campeonato, a competição é simbólica, o importante é colocar os trabalhadores em campo. Um churrasco, com creche para as crianças, permitiu um maior entrosamento, inclusive para as mães, entre os jogos.

Voltamos para os nossos trabalhos doloridas, pois não é da nossa prática o esporte físico dentro da carga horária elevada de trabalho. Mas felizes e com uma nova tarefa: fazer deste domingo vários domingos. Criar um time, começar a treinar. Mesmo com todas as dificuldades, percebemos desde já que podemos sair da rotina do nosso trabalho. Podemos viver também para outros aspectos da vida, como o lazer. Podemos jogar futebol, sim! Mesmo este sendo um esporte mais masculinizado. E podemos nos unir enquanto trabalhadores de diversas categorias e trocarmos experiências e diversão, pois isto fortalece a nossa luta contra o Capital.




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