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CONUNE: arte e poesia nas fileiras da Faísca!

Redação

CONUNE: arte e poesia nas fileiras da Faísca!

Redação

Na semana passada, milhares de estudantes de todo o Brasil se reuniram na capital do país para o 59° Congresso da União Nacional dos Estudantes. Quais expressões artísticas poderiam sair do seio do Movimento Estudantil reunido a nível nacional?

Existe enorme potencialidade e força no encontro de estudantes para o 59° Congresso da principal entidade estudantil do Brasil. Em diversos momentos, a organização do Movimento Estudantil foi linha de frente de processos de luta, e também vanguarda artística na explosão desses eventos históricos. Nesse sentido, a Juventude Faísca Revolucionária veio discutindo, durante todo o processo de eleições para delegados do CONUNE, qual seria o impacto da luta dos estudantes se ela se ligasse à da classe trabalhadora. Nas campanhas das Chapas Comunistas, foi levantado que seria necessário, portanto, uma entidade independente do governo e das reitorias para fortalecer a luta pelas demandas estudantis, unindo ela à luta da classe que move o mundo.

Infelizmente, a direção burocrática da UNE, composta pela UJS e pelo PT, afunda a entidade em paralisia, não organizando os estudantes contra o Arcabouço Fiscal e o Novo Ensino Médio. Desse modo, o Congresso da UNE serviu para legitimar a subordinação da entidade ao governo que aplica esses ataques. No entanto, a Faísca Revolucionária interveio no CONUNE com a política de independência ao lado dos trabalhadores, dando batalhas para que construir um bloco de oposição na entidade que rechaçasse a frente ampla com a direita e a conciliação. Apesar das condições, de direito à voz talhado para intervenções da oposição, da precariedade dos alojamentos e da falta de comida garantida para todes participantes, essa batalha que alcançou repercussão nos principais veículos da mídia foi essencial para apresentar aos estudantes a alternativa que os comunistas defendem.

Assim, não poderia ter deixado de tocar profundamente a subjetividade de tantos estudantes, que, por meio da arte e da poesia, expressaram sua apreensão sensível desse 59° CONUNE. Publicamos aqui alguns dos poemas de jovens que participaram da delegação da Faísca Revolucionária, para que essa arte envolta na experiência política do Congresso possa retornar à realidade e contribuir aos debates a partir da expressão e da poesia.

Luíza (estudante de Serviço Social na UNB):

"Nada grandioso no mundo foi feito sem paixão."

dividimos a paixão de uma nova vida, e ardentemente gritamos e lutamos por ela todos os dias.

nos batuques queremos ecoar o som da luta,
Da nossa classe, a que tudo pode mudar.

os tan-tans fazem tum-tum!
planalto treme,
a burguesia, teme.

juventude irredutível com fome de tudo - fome de vida, essa é a "deselegância trotskista".

"Dê um futuro a juventude, dê um futuro ao mundo!"

faísca do novo mundo queremos ser.
Para que ele deixe de ser cinza e se torne das mais variadas cores possíveis.

...ela virá! - e trará não somente o direito ao pão, mas também à poesia (e às rosas).

somos comunistas até o final! orgulho de dividir essa luta com vocês, camaradas! seguimos na batalha pela independência política da UNE e nossas entidades dos governos e reitorias ao lado dos trabalhadores, sem arrego pra direita e golpista! esses últimos dias foi uma escola de uma atuação revolucionária no movimento estudantil.

avante!

Rosa (estudante de Relações Internacionais na UNB):

A energia caótica comprimida
se organizando para desorganizar
fazer tremer os inimigos
ruir a ordem das coisas
virar o mundo do avesso
sem pedir licença
ao som se um desejo íntimo
de tocar o sol e as nuvens e o céu
fome de tudo.

Nosso futuro não se negocia
não podem nos comprar
nem como todo ouro do mundo.
Nossa alma é de concreto armado,
mas maleável como a águas e suas contradições
é fogo que arde e se vê
nas barricadas, piquetes e greves.

Tudo é possível quando a alma não é pequena
A história vibra
e na bruma leve das paixões que vem de dentro
anuncia-se os novos episódios
da luta de classes mundial.
Para o terror dos donos do mundo,
nós estaremos lá
nas tribunas e lutas
para alastrar o incêndio
aos explorados e oprimidos.

Não bastam palavras.
O sopro de liberdade viverá
até o dia em que a vida
seja tão bela
quanto a própria poesia.

Mafê (estudante de Psicologia na UFMG):

vocês, camaradas:
a materialização das ideias mais bonitas desse mundo
que por terem os olhos tão abertos
tem plena convicção de que um outro nascerá que sabem que para isso precisamos ser os fios de aço
de continuidade do marxismo
os fios que amarram nossas faixas
os dos nossos instrumentos
os fios de linho que encadernam nossos livros
e os de carne das nossas gargantas
vocês que insistem em denunciar o velho
fantasiado de novo
porque acreditam e confiam verdadeiramente no novo

ver ônibus vindos do norte ao sul
e ouvir: “eles chegaram”
ver nossas batalhas moralizando uma categoria de trabalhadoras
e dizer:” elas agradeceram”
ver o potencial de uma política com independência de classe
e saber: “ela virá”

Felipe (estudante de Letras na UFRN):

Tese 11

Quando em 1791
os negros e negras escravizados no Haiti
romperam os grilhões de seus pés
e os grilhões de seu tempo
gritamos Castro Alves
pela boca de C.L.R. James:
"Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!"
"O lugar do negro é na própria vanguarda
do movimento revolucionário
pelo socialismo"!

Quando em 1844
os tecelões se levantaram na Silésia
cantando pela boca de Heine
"Voa a lançadeira, range o tear
Tecemos sem parar, dia e noite —
Velha Alemanha, tecemos tua mortalha"

cantamos com eles!

Quando em 1871
os communards entoaram La Marseillaise
e as incendiárias nas ruas
tomaram por assalto o céu parisiense
e pela boca de Rimbaud
"Desfaleceram, sonhadoras,
Ao sol do amor que então surgia
No bronze das metralhadoras
Pela Paris que se insurgia!"

sonhamos com elas!

Quando em 1917
trabalhadoras e soldados invadiram
o palácio de inverno
entoando Maiakóvski
"Come o ananás, mastiga a perdiz
teu último dia está chegando, burguês"

entoamos com elus!

Quando nos anos 30
espanholas na linha de frente
cantavam com seus fuzis
"que la tortilla se vuelva
que los pobres coman pan
y los ricos mierda, mierda"

cantamos com elas!

Quando nos anos 40
um agente enviado por Stalin
assassinou Leon Trótski
mas não sua certeza inquebrantável
de um futuro comunista
fizemos nossas suas palavras gritando
"A vida é bela
que as gerações futuras
a limpem de todo o mal
de toda opressão
de toda violência
e possam gozá-la plenamente!"

Quando nos anos 70
A Liberdade e luta gritou na vanguarda
"Abaixo
a
Ditadura!"

nosso coração saltou à boca
e com o samurai polaco
recitamos "Me enterrem com os trotskistas
na cova comum dos idealistas
onde jazem aqueles
que o poder não corrompeu"!

Quando em 2022
milhares de jovens
les pétroleuses iranianas
às ruas queimando hijabs
gritam
Jin, jiyan, azadi!
gritamos com elas!

Quando no mesmo ano
as Atlas de macacão que sustentam a federais brasileiras
que carregaram junto ao lixo a fome,
da angústia fizeram revolta
e da revolta fizeram salário
cantamos seus gritos
gritamos seus cantos
entre punhos e prantos

Hoje, quando um golpista entra convidado
no seio da massa estudantil
um raio rosa rompe o barulho surdo do silêncio
quando gritamos "Fora!"
e não gritaríamos senão "FORA!"
quando executamos nossos versos
na flauta de nossas próprias vértebras.

Enquanto a luta mover a história
Enquanto o motor imparável
não der meia-volta
enquanto houver futuro
nos olhos da revolta
haverá versos
nos corações e bocas
haverá lixo
pelo piso das reitorias
haverá punhos
erguidos além do sol
haverá neve
como em Petrogrado aquele dia.

Bianca (estudante de Letras na USP):

[Rouco, seco] - 2023

As margens do poema
E da luta de classes
Sempre criam novos significados
Que fogem aos dicionários
E suas definições estanques.

"Rouco", nos dicionários:
Seria aquele que possui som grave,
Cuja voz é áspera,
De aspecto desagradável.
Sozinho, sua voz sequer pode ser ouvida.

Verbete nenhum, porém, é capaz de explicar
O bonito que é ouvir, em uníssono
A rouquidão cansada mas nunca desistente
Daqueles que lutam e gritam junto comigo
Até parecer que não teremos mais voz.

Então redescobrimos
Um pouco mais de força no outro
E no outro
E segue a música, e segue a bateria
Dançamos
E nos damos conta de que
Coletivamente
Não se desafina.

"Seco":
Seria aquilo que é desprovido de umidade,
Enxuto, grosseiro.
Cenário rarefeito no qual nada parece florir.

Mas respirando fundo a secura de Brasília
Com o nariz sangrando, as pernas doendo
Olho pra aqueles que compartilham comigo
As mesmas trincheiras.

Os vejo transgredir,
Transbordar
O que era apenas sertão.
Atrás deles, um pôr do sol arde
Vermelho
Encharcando toda nossa visão.
Mergulhamos juntos sabendo,
Mais que nunca,
Que poderemos apanhar a flor viva.

Laura (estudante de Letras na USP):

Se no mundo existe um segredo supremo, guardado a sete chaves, com a força de todos os exércitos do mundo para protegê-lo, essa oculta revelação é que:
— é possível! é sim possível!
“O quê? O quê?!”
— almejar a vida! almejar o mundo! almejar saber e sentir! conquistar a vida plena!
Sim, é possível uma vida que irrompa todas as barreiras que conhecemos, toda a miséria e o desgaste ao qual vamos progressivamente nos acostumando e resignando!
— ela não é um sonho! ela é possível!
Mas, é preciso contar também, que ela é uma árdua tarefa a ser construída.
Enquanto segredo, nunca nos será levianamente revelado por nossos carrascos. Enquanto aspiração, é necessário arrancar esses sonhos das mãos tirânicas e difundi-los ao horizonte dos sujeitos todos. Enquanto dever, é uma tremenda responsabilidade histórica manter acessa a chama do possível, e alastrar-lhe o incêndio: para que queime cada resquício do Velho Mundo - do mundo de classes, o mundo que não serve - e inicie a verdadeira história da liberdade humana.

O causo a ser contado, é uma singela faísca_ de como fazer, de porque lembrar que os preceitos dos déspotas não nos servem e que são frágeis suas mentiras.
Dos empoeirados porões - os empoeirados subsolos onde foram jogados os trotskistas - saem os corpos revolucionários, a se unirem em fileiras, a se unirem em blocos.
Ela - a burocracia - tentou nos esconder, jogando o jogo dos senhores. Não conseguiu. Irrompemos o silêncio com nossa bateria, nossos sinalizadores, nossas bandeiras e nossas vozes!
“Quem eram aqueles que, sendo tão poucos, faziam tanto barulho?”
— éramos nós!
“Gritavam o quê? O quê?”
— as respostas fundamentais!
Que somos inimigos declarados dos donos do mundo! Não daremos as mãos em festa, nem um voto de confiança sequer na traição dos nossos algozes.
— gritamos essa convicção!
Não eram, porém, as vozes de milhares. Mas eram vozes firmes, roucas, cansadas, convictas de passar a própria chama adiante, até tocar mais um coração humano, dois, três. Para que este se junte as fileiras que se postam ao lado de quem tudo controla, incitando com essas faíscas o incêndio tão necessário.
— para que seja possível! porque é possível!
Não havia, também, qualquer elegância ou heroísmo em fazê-lo. Não no sentido que conhecemos, burguês e individual, da trajetória do herói. Havia carne, havia febre, havia luta dos corações que somente encontram amparo na realidade — e na sua possível transformação!
Com a vitória, talvez, ao significante heróico seja acrescido, para além do seu Velho significado que rememonta às épocas de grilhões, um significado Novo, coletivo_ revolucionário, que ainda iremos conhecer.
Um mundo de possibilidades_ Seu, Nosso fim máximo.
Se existe um sonho, e uma necessidade de construí-lo. Devemos dizer também, que_
Não importa o elitismo dos mecenas. É verdade, não há maior poesia do que nos corações que vislumbram um mundo onde a arte seja livre e de todos.
Dos subsolos e das valas onde tentaram nos enterrar: daí ressurgira o incêndio!
|Ela virá, a revolução, e trará ao povo, não só direito ao pão, mas também à poesia. - Leon Trótsky.|

Giovan (Estudante de Pedagogia na USP):

Essa coisa toda se chama trotskismo. O partido nos tomando por inteiro e etc.
É que tem uma coisa que não sai da minha cabeça, uma coisa que acho que foi minha camarada Mari que me disse uma vez. Que é que o partido ganha um militante, mas o militante também ganha um partido.
E o que é o partido? Ele não fica num escritório com telefones etc como já nos revelou certa vez nosso camarada Brecht. O partido é um corpo orgânico constituído por seres humanos.
Nós, que cansamos, cujos narizes sangram, cujos corpos apodrecem debaixo da terra, nós humanos, que sentimos dor de amor e de barriga, que perdemos juventude e cabelo e ganhamos rugas.
Nós, que adquirimos doenças por esforço repetitivo e também adoecimento psicológico.
O partido é um corpo constituído de corpos, de seres com mentes nas quais se dá uma disputa ideológica, camaradas que capitulam, que se adaptam, que erram e acertam.
A ciência fina e dialética que é se apropriar daquilo que ganhamos, o partido, e usá-lo coletivamente uns pelos outros liberando sua máxima possibilidade.
É tirar de um bocado de instrumentos meio velhos e de um bocado de jovens meio sem ritmo uma bateria que parecia vir de escola de samba.
É magia? Não
Esticar seu limite de cansaço, de fome, fazer ressurgir a voz que já se perdeu na hora de gritar na cara da direção burocrática que ali há comunistas.
É magia? Não.
É o que faz a adrenalina da convicção revolucionária, ela tira de nós aquela reserva de energia ou de saúde cuja a qual não conhecíamos, faz um corpo resistir a picada de escorpião como se não fosse nada sério.
Insisto, não é magia.
Pouco nos interessa a magia poética que dissimula nossa potência. Me irrita o indivíduo que ao olhar uma escultura impecável ou uma sinfonia emocionante clama que "Deus é maravilhoso".
Não, o ser humano é que é.
Pouco me interessa fingir que não somos capazes. Àqueles que abraçam o capeta para não confiar na força revolucionária e no potencial de SUJEITO da classe trabalhadora, eu não estendo minha mão companheira.
"O inimigo da colossal classe obreira, é também meu inimigo fidigal"
O que fizemos camaradas, e isto é a parte mais linda, não é magia nem presença divina.
O que fizemos e fazemos é nada mais do que uma parcela do que nosso corpo humano e nosso corpo partidário é capaz. Somos uma organização, somos um grupo, somos um corpo.
"Ele veste sua roupa, camarada, e pensa com a sua cabeça
Onde moro é a casa dele, e quando você é atacado ele luta."
Sabemos que não é tempo maravilhoso por aqui, que há ainda muita confusão e ideologia burguesa na mente da classe operária.
Mas não estamos a sós, eu aqui em São Paulo, você aí em Natal, ou no Rio de Janeiro, ou na Alemanha, na França, na Argentina.
Estamos todos juntos, de uma forma que eu insisto mais uma vez camarada, não é mágica.
É puramente científica, forjada historicamente, apreendida coletivamente.
Nós temos uma arma, nós mesmos, nosso partido, nosso corpo militante.
E nossa arma está apontada na cara do sossego burguês.
Eu sei e você sabe, mas não custa repetir: ela virá, e seremos nós que vamos trazê-la.

Fotografia da edição: Bruno Portela/Esquerda Diário

Além disso, a arte permeou a atuação inteira da Faísca Revolucionária nessa semana de CONUNE, como não poderia deixar de ser citado aqui também as enormes faixas com consignas políticas e estética própria e as músicas e ritmos para agitar palavras de ordem. Que a insubordinação, a subversividade e as inúmeras referências de cada estudante do norte ao sul do país possa se transformar em arte e poesia! Com uma UNE independente essas e tantas outras formas de expressão artística poderiam explodir do encontro de jovens estudantes para se colocarem como os sujeitos de pensar a política e construir a vida!


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