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MEIO AMBIENTE | Breves considerações sobre socialismo e ecologia

quarta-feira 23 de setembro de 2015 | 22:00

Um dos debates centrais hoje para se construir uma nova visão de mundo, uma nova perspectiva de sociedade, é o debate sobre a relação dos seres humanos com o meio ambiente que os circunda.

Não a toa o debate é relativamente recente; só após um momento de desenvolvimento relativamente amplo do capitalismo em sua época imperialista a humanidade pode perceber que as forças produtivas liberadas pela ação humana associada podem ter efeitos grandemente destrutivos, com capacidade inclusive de ameaçar própria existência da sociedade, se essas forças se desenvolvem de forma anárquica e alienada, como se dá com o modo de produção burguês.

Pelas contradições próprias do processo histórico essa percepção do quão degradante ao meio ambiente é o desenvolvimento capitalista foi praticamente concomitante a derrota do último grande ascenso operário, impedindo assim que se desse a necessária fusão entre o discurso ecológico e a única classe capaz de realizar um desenvolvimento econômico que tivesse como perspectiva uma relação harmoniosa com o ecossistema.

Some-se a isso o papel altamente degradante ao meio ambiente que teve o desenvolvimento da URSS sob a direção stalinista e temos a realidade de que hoje grande parte do discurso ecológico é levado à frente por setores pequeno-burgueses ou diretamente capitalistas (os segundos de forma totalmente hipócrita, para se apropriar do novo fenômeno do "marketing verde") com uma lógica de "desenvolvimento sustentável" que na boca dos mais sinceros só pode soar como uma utopia.

O capitalismo leva necessariamente a destruição do meio ambiente

O que se coloca aqui não é um problema moral, mas da lógica efetiva de desenvolvimento do capitalismo, da relação que este sistema tem que estabelecer entre os seres humanos e, a partir disso, desses com seu meio ambiente. A finalidade da produção capitalista não são as necessidades da maioria da humanidade, o bem estar e a qualidade de vida dos trabalhadores, daqueles que produzem realmente o conjunto da riqueza social, mas a busca desenfreada e irracional de lucro por uma pequena parcela da sociedade, os capitalistas.

Apesar da aparente racionalidade, toda a técnica e ciência utilizada pela burguesia na sua gananciosa caçada pelo aumento de seu capital é irracional. O meio ambiente, a natureza, o ecossistema que nos circunda não é visto como insuperável palco de nossa existência, mas espaço onde se possa realizar o maior ganho, onde se possam efetivar os maiores lucros.

Na relação com a natureza se reflete a relação central que se estabelece entre os próprios seres humanos, relação baseada não no bem estar coletivo e desenvolvimento comum, mas antes na exploração desenfreada.

Assim como a maioria da população mundial é vista pela burguesia como mão de obra barata a ser explorada visando o maior ganho possível posteriormente, a natureza, o ecossistema, é visto como fornecedor de matéria prima, a mais barata e abundante, não importando seus impactos ambientais, visando o lucro capitalista. Se o tempo de reprodução e recuperação do ecossistema é mais lento e não responde aos ditames e necessidades da reprodução ampliada do capitalismo, se para lucrar cada vez mais e mais rápido é necessário desmatar florestas, poluir o ar e os rios, extinguir espécies inteiras: abaixo a natureza e viva o lucro desenfreado!

A única via para que possamos impedir essa degradação do meio ambiente é construindo uma sociedade nova, em que a finalidade da produção seja a qualidade de vida e o bem estar da maioria da população, dos trabalhadores e dos oprimidos em geral. Em que a produção do conjunto da sociedade e sua relação com o ecossistema seja pensada e planejada de forma democrática, a partir dos organismos dos próprios trabalhadores associados visando o bem estar de nossa geração e das gerações futuras e não só as necessidades imediatas e mesquinhas de uns poucos burgueses.

A produção agrícola deve buscar a alimentação da maioria da população e não a especulação e o lucro dos latifundiários. Para tal, o agronegócio deve ser expropriado e gerido por comitês de operários agrícolas. E uma reforma agrária deve ser feita para que todos os sem-terra e os camponeses pobres possam cultivar se assim o quiserem, com o estado garantindo crédito e insumos baratos, e comprando sua produção para abastecer as cidades. A criação de “cordões verdes” no entorno das grandes cidades, a partir da expropriação dos imóveis utilizados para a especulação, constitui um passo fundamental para aliviar o adensamento das favelas e permitir uma solução de fundo para o grave problema habitacional e de saneamento básico que atinge diretamente a natureza. O desenvolvimento científico no campo da agronomia, da pecuária etc., deve estar a serviço da sociedade de conjunto e não de uma pequena camarilha.

Aqueles que podem realmente construir essa alternativa não são os burgueses com discurso “socialmente responsável” ou “ecocapitalistas”. São sim os trabalhadores através de sua organização e ação independente na luta de classes.


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