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INTERNACIONAL | Boris Johnson é derrotado no Parlamento britânico, e crise política pode levar a eleições gerais

Nessa terça (3), no retorno do recesso parlamentar, o primeiro-ministro Boris Johnson sofreu uma derrota importante, depois que 21 conservadores “rebeldes” se alinharam com a oposição para retomar o controle da agenda legislativa e impedir uma saída do Reino Unido da União Europeia (UE) sem algum tipo de acordo. A medida foi aprovada por 328 votos a 301, permitindo à coalizão de partidos da oposição ao brexit sem acordo definir a agenda parlamentar a partir dessa quarta (4).

Artur LinsEstudante de História/UFRJ

quarta-feira 4 de setembro de 2019 | Edição do dia

Nessa terça (3), no retorno do recesso parlamentar, o primeiro-ministro Boris Johnson sofreu uma derrota importante, depois que 21 conservadores “rebeldes” se alinharam com a oposição para retomar o controle da agenda legislativa e impedir uma saída do Reino Unido da União Europeia (UE) sem algum tipo de acordo. A medida foi aprovada por 328 votos a 301, permitindo à coalizão de partidos da oposição ao brexit sem acordo definir a agenda parlamentar a partir dessa quarta (4).

Na prática isso significa que o Executivo, ocupado pelo ultradireitista e xenófobo Boris Johnson, não passará ter o poder de definir os temas a serem votados pelo parlamento. Com essa medida, a oposição, conformada pelo Partido Trabalhista, Liberais Democratas, Verdes, Partido Nacional Escocês e os 21 deputados conservadores rebeldes e ainda muito fragmentada, buscou frear a manobra autoritária do primeiro-ministro na semana passada, ao suspender o parlamento por 45 dias para dificultar os movimentos da oposição em impedi-lo de sair da UE sem nenhum acordo. Nesta quarta o Parlamento britânico votará uma legislação para barrar um "no-deal Brexit", ou seja, impedir legalmente que Boris Johnson retire o Reino Unido da UE sem um acordo no dia 31 de Outubro.

Johnson já afirmou que se o Parlamento bloqueia o Brexit sem acordo, convocará eleições gerais antecipadas para 14 de Outubro. A oposição, encabeçada pelo líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, afirmou que aceitará a convocatória (que precisa da aceitação de dois terços do Parlamento) apenas se a legislação que impede uma saída sem acordo for aprovada.

Outra derrota importante de Boris Johnson foi a perda da escassa maioria parlamentar do Partido Conservador. Isso ocorreu com a ruptura do ex ministro da Justiça Phillip Lee, que saiu dos Conservadores para entrar no Partido Liberal Democrata.

Em dias anteriores ao retorno do recesso parlamentar, se esperava que teriam conservadores que se rebelariam e se alinhariam com a oposição, no entanto, a surpresa foi o elevado número de rebeldes. E devido a esta derrota importante, Boris Johnson anunciou que irá solicitar ao parlamento que lhe dê apoio para a realização de eleições gerais antecipadas para o dia 15 de outubro->https://www.theguardian.com/politics/2019/sep/03/boris-johnson-suffers-commons-defeat-as-tories-turn-against-him], necessitando de dois terços dos 650 parlamentares.

Como dizemos em edição do dia anterior, Boris Johnson sabia desde o início que sua solução de sair da UE custe o que custar não teria apoio de nenhuma maneira no parlamento, pois apesar da fragmentação da oposição, ela tem como minimo denominador comum a saída do mercado europeu com algum tipo de acordo, sendo que cada vez mais surgem vozes que questionam o proprio referendo do Brexit.

Por outro lado, Johnson não tem a legitimidade do voto popular para levar adiante tal plano. Nesse sentido que desde o início de seu mandato Boris Johnson procurou polarizar e dividir o Reino Unido com a saída dura da UE e se colocando como o polo aglutinador dos partidários da saída e da extrema-direita xenófoba, preparando um clima propenso a uma candidatura eleitoral sua, se aproveitando da fragmentação dos partidos de oposição, inclusive polarizando com o opositor com mais chances de substituir o governo dos conservadores: o trabalhista Jeremy Corbyn.

Não à toa quando Johnson soube da posição de seus correligionários, chamou a moção parlamentar impedindo uma saída sem acordo como a “moção da rendição de Jeremy Corbyn”. Ainda sobre a moção, o primeiro-ministro disse que se aprovada “o povo desse país terá que escolher [o seu governo]”.

Por outro lado, Jeremy Corbyn, principal líder da oposição no Reino Unido, e dirigente principal do Partido Trabalhista - figura que até agora deu governabilidade aos Conservadores durante toda a crise política - afirmou que seu partido irá apoiar a moção impedindo um Brexit sem acordo, porém também não é contrário a realização de eleições gerais. Inclusive, há na imprensa empresarial liberal, como os clássicos The Guardian e The Observer, posições editoriais que defendem a conformação de um governo de caráter provisório com o apoio de toda a coalizão por um Brexit pactuado, tendo à frente o trabalhista Jeremy Corbyn, para que este negocie com o bloco europeu pela fração burguesa britânica mais cautelosa com as soluções da extrema-direita.

A crise política no Reino Unido segue num caminho cada vez mais incerto. O impasse em torno da saída da UE está mobilizando ativamente a opinião pública do país, com debates intensos no parlamento, na imprensa e em manifestações nas ruas contra a manobra autoritária de Johnson e da extrema-direita em solapar os mecanismos minimamente democráticos do carcomido parlamentarismo britânico para contornar suas crises.

Trata-se de um problema sem solução simples para o imperialismo britânico, em franca decadência e marginalizado nos processos decisórios europeus. Nem a extrema direita xenófoba, nem o republicanismo neoliberal são alternativa para a crise, que tem raízes profundas na Grande Recessão de 2008 e a crise capitalista mundial.




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