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OPINIÃO | Beltrame e o Estado carioca incitam a violência contra jovens negros e pobres

Neste domingo ocorreram cenas chocantes em Copacabana, pessoas, supostamente moradoras da Zona Sul pararam ônibus que iam a zona norte para linchar jovens. Esta violência e a impunidade de grupos armados na Zona Sul para atacar jovens não tem como base o aumento no número de assaltos na região mas uma política deliberada do Estado no Rio de Janeiro para justificar a maior repressão.

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

terça-feira 22 de setembro de 2015 | 12:27

Com a desculpa de arrastões ocorridos em Botafogo no dia anterior grupos de supostos moradores da região pararam ônibus que ligam a Zona Sul à Zona Norte para agredir jovens negros e pobres que estavam nestes ônibus. O veneno racista e fascista destas ações é propagado não por um suposto aumento dos assaltos mas fruto de uma política deliberada de Beltrame e do Estado no Rio de Janeiro, envolvendo governo estadual e municipal em aumentar e muito a repressão aos jovens negros e pobres para tornar a cidade e particularmente a turística Zona Sul em um lugar mais branco e “seguro” aos turistas.

Por que os arrastões e assaltos são desculpas?

É evidente que ocorrem frequentemente assaltos e arrastões nas praias. Isto não é uma novidade no Rio. Estes fatos em toda história recente são muito expandidos para acelerar uma resposta repressiva do Estado. Os governos junto a mídia criam uma histeria seletiva, que escolhe os locais onde lhe chama mais atenção que esteja ocorrendo uma violência para agir ali.

Nas redes sociais há intermináveis relatos de arrastões e assaltos no Rock in Rio, porque não há uma linha editorial ou televisiva sobre isto?

A resposta a pergunta retórica feita é meio evidente. O Rock in Rio é um megaevento que não pode ter sua “segurança” comprometida e questionada, afetando um importante fluxo de turismo. E a atenção particular com a Zona Sul escancara uma preocupação de qual cidade Paes, Beltrame, Pezão, com ajuda da Globo querem construir. Não à toa a maioria das UPPs, concentram-se justamente nesta mesma região e não de acordo com os mapas de violência da própria polícia.

Beltrame e o Estado estão incentivando esta violência

A inaudita violência ocorrida neste domingo, se desenrolou aos olhos das televisões e da polícia, impunemente. Grupos organizados atacavam jovens. Isto não aconteceu espontaneamente, foi planejado e ocorreu aos olhos de todos. Inúmeras imagens mostram a polícia assistindo enquanto ocorriam linchamentos, enquanto ônibus lotados eram depredados.

Os grupos de supostos moradores, segundo matéria do Extra de segunda-feira nenhum comerciante já tinha visto estes supostos moradores, se organizou por whatsapp e grupos no facebook. Circulam nas redes sociais novos chamados para um banho de sangue neste novo final de semana.

Tudo isto ocorre impunemente sem que um destes supostos moradores de Copacabana seja preso. Segundo comentários das redes sociais incentivando esta violência há polícias militares e policiais civis envolvidos nesta “justiça”.
Esta “mobilização” reacionária de PMs, civis, vigilantes, seguranças (muitas vezes PMs de folga) ocorreu poucos dias depois de Beltrame lavar as mãos publicamente do policiamento da Zona Sul.

Após o escândalo de detenções de menores que iam a Zona Sul sem flagrante, a justiça proibiu o Estado de deter menores sem flagrante. Beltrame então publicamente disse que não podia fazer nada. A deixa estava dada para surgirem estes grupos e frente ao banho de sangue que se anuncia Beltrame vir com a solução: um imenso aumento da repressão de jovens, sobretudo negros e pobres, bem ao sabor do tema da redução da maioridade penal.

Nesta terça-feira a nova declaração de Beltrame é que ele voltará com a triagem preventiva dos jovens que vão da Zona Norte à Zona Sul. Queira a justiça ou não, sem flagrante, serão detidos conforme o olho racista de uma polícia que surgiu para caçar os negros que se rebelavam (a primeira função da polícia no Rio em 1808 era caçar “escravos fugidos”).

Embranquecer a Zona Sul não é uma política só de Beltrame, é de Estado

Os eventos reacionários deste domingo são somente uma ponta do iceberg da política de Estado de reprimir os jovens, sobretudo negros e pobres, e erguer uma cidade ao sabor dos grandes eventos e especulação imobiliária.

O prefeito Eduardo Paes, junto a seu vice do PT, irão cortar várias linhas de ônibus que ligam a Zona Norte à Zona Sul, com a desculpa de dar maior racionalidade no transporte, para multiplicar os lucros dos empresários, e de quebra fazer todos os jovens terem que trocar de ônibus no centro, para fazer a “triagem” ali de quem pode seguir viagem. A primeira triagem será no dobro do preço de passagem a pagar, a segunda ficará a cargo da polícia.

Sem ônibus que liguem as regiões da cidade a Prefeitura e o Estado atacarão pelo bolso e pela repressão buscando dar uma nova “ordem”, racista ao uso da praia na cidade.

Este novo controle aos pobres e negros na Zona Sul culmina um projeto iniciado com as UPPs que tinham como desculpa o combate o tráfico e submetem os moradores de morros e favelas a uma repressão diária. Junto às UPPs ocorreu um processo de regularização fundiária das favelas e instalação de relógios de luz e água atuando para expulsar, aos poucos, pelo bolso os moradores mais pobres. No Vidigal já há áreas claramente turísticas e com forte presença de turistas.

É este jogo de fundo que o Estado carioca está jogando, nem que para isto tenha que fazer muito mais sangue negro correr. Dando corda e impunidade para bandos reacionários e racistas para depois conter esta violência com muito mais repressão. O local supostamente democrático, as praias, nas mãos de Beltrame, Paes, etc, não serão um local de lazer para toda população mas somente daqueles que o filtro racial e econômico deixar.




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