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NENHUMA DEMISSÃO NA FORD | Barrar as demissões na Ford: que as centrais sindicais construam uma forte luta nacional

Colocando a manutenção de seus lucros acima da vida de milhares de trabalhadores, a Ford anunciou o fechamento de suas fábricas no país. Como os trabalhadores podem se organizar para vencer essa luta em defesa de seus empregos?

quinta-feira 21 de janeiro de 2021 | Edição do dia

A Ford anunciou o fechamento das últimas três fábricas que possui no país, alegando sofrer os impactos da pandemia que reduziram o consumo, uma mudança na estratégia da empresa para produção de carros elétricos e car share e o custo da mão de obra brasileira. Depois de receber isenções fiscais bilionárias durante mais de 100 anos no país, deixará sem emprego mais de 12 mil trabalhadores diretos, mais que o dobro de terceirizados e na soma de todo o ramo produtivo e toda a cadeia indireta ligada à Ford o impacto pode ser na casa de 119 mil famílias. A Ford, assim como as demais patronais, se sentem à vontade para reduzir jornada e salários, demitir e romper acordos coletivos [1]. Isso porque os trabalhadores sofreram enormes ataques aos seus direitos trabalhistas e de organização sindical com a aprovação das reformas trabalhista e da previdência, da lei da terceirização irrestrita e da MP936 de Bolsonaro que facilita as demissões e redução de salários em meio à pandemia. A aprovação de todos esses ataques contou com a unidade entre Bolsonaro, Maia, judiciário, militares, a grande mídia e todos os partidos da direita e do centrão.

Em primeiro lugar destacamos nossa total solidariedade a todos os trabalhadores da Ford, efetivos, terceirizados, indiretos e a todas as famílias que estão sendo ameaçadas por essa multinacional imperialista. Esse ataque aos trabalhadores da Ford é um ataque a toda classe trabalhadora brasileira por que além de todos os impactos econômicos que evidenciam um plano profundo de desindustrialização, desemprego, informalidade e rebaixamento de direitos e condições de vida da nossa classe, também é um ataque histórico a tradição de luta da classe trabalhadora brasileira que em fábricas como a Ford se organizou pela base, elegendo seus representantes nas comissões de fábrica e atuou bravamente contra a ditadura militar na década de 70. O capital internacional junto a todos os seus capachos como Bolsonaro querem mais do que nunca acabar com essa história, com todos os direitos conquistados por essa tradição e assim - com a correlação de forças a seu favor - virar para todo o restante da classe trabalhadora e dizer: nós vamos dividir, fragmentar, informalizar e esmagar vocês! Vamos transformar cada gota do seu suor e sangue em lucratividade direta nos nossos bolsos imperialistas. É extremamente importante vermos a profundidade estratégica desse ataque, o que a Ford conseguir vai servir de exemplo para todos os empresários, acionistas e para a burguesia como um todo. Nessa batalha o contrário também será completamente verdadeiro, o que os trabalhadores conseguirem impor contra os planos dessa patronal vai irradiar para toda classe trabalhadora. Exatamente por isso queremos neste artigo colocar nossa visão de qual resposta estratégica dos trabalhadores é necessária para impedir a Ford de dar esse passo e assim golpear com força os planos do capital imperialista para o país.

Como os trabalhadores da Ford podem vencer?

1 - Ampliar os apoios e organizar um fundo nacional de mobilização e solidariedade às famílias dos trabalhadores, construindo uma forte frente única dos trabalhadores

Para derrotar essa multinacional em meio ao governo reacionário do Bolsonaro e um regime autoritário pós-golpe, é preciso a maior solidariedade possível e atuação unificada de todas as categorias. Os sindicatos precisam organizar arrecadações e levantar fundos para construir a mobilização e garantir que os trabalhadores possam manter os acampamentos e o sustento de suas famílias por que assim que os salários não caírem a pressão fica mais forte. É preciso organizar os trabalhadores em cada fábrica, empresa por empresa, tanto da cadeia produtiva quanto de outros ramos, para colocar de pé uma solidariedade ativa de toda a classe. Organizando atos e paralisações conjuntas, campanhas de fotos em apoio e tantas outras medidas criativas que surjam para potencializar o apoio, como mostrar para a população que os trabalhadores da Ford podem produzir respiradores, e diversos outros equipamentos para contribuir com o combate da pandemia. A CSP-Conlutas que organizou assembleia na GM de São José dos Campo e na Chery de Jacareí em apoio a Ford, deve exigir que a CUT e CTB organizem ações coordenadas entre as diversas categorias que dirigem para fortalecer a luta em defesa dos empregos, sem isso os trabalhadores da Ford ficarão isolados. Assim como buscar a unidade com os trabalhadores da Ford Ceará, que são dirigidos pela Força Sindical.

Um plano de lutas como esse permitiria fortalecer e ampliar a mobilização dos trabalhadores da Ford e construir uma frente única do conjunto de nossa classe para barrar o fechamento das fábricas, as demissões e os ataques.

2 - Unificar efetivos e terceirizados

Os terceirizados que trabalham na limpeza, segurança, restaurante, inspeção e fornecimento de peças, inspeção de qualidade, na casa de força, logística, também são trabalhadores da Ford e ficarão sem emprego, mas ninguém fala deles. Porque essa foi uma forma eficiente que a burguesia aprendeu para dividir os trabalhadores, lição tirada justamente das greves operárias dos anos 70 e 80. É preciso fragmentar para enfraquecer. Em Taubaté são 830 trabalhadores diretos e pelo menos 600 terceirizados. Em Camaçari, são cerca de 5 mil trabalhadores diretos e outros 8 mil terceirizados. É preciso unificar batalhando todos juntos contra o fechamento da fábrica e por iguais direitos e salários para os terceirizados.

3 - Exigir a abertura da contabilidade da Ford, organizar comissões de base e transformar as vigílias em ocupações

Os trabalhadores da Ford precisam exigir que toda a contabilidade da Ford seja aberta, assim como a lucratividade de seu acionistas para que fique evidente para todos os trabalhadores e a população que dinheiro eles tem, e muito, que a saída da Ford do país não está ligada falta de viabilidade econômica e sim a um plano de ataque às condições dos trabalhadores. É crucial também recuperar a tradição de organização de base, montando comissões com representantes votados pela base para garantir todo o necessário para que os piquetes e vigílias sejam fortes fazendo com que a empresa veja que os trabalhadores estão firmes na decisão da defesa dos empregos. As vigílias, como as da planta de Taubaté, foram fruto de uma decisão da primeira assembleia e podem ser fortalecidas com comissões que organizem – mantendo todos os cuidados sanitários – atividades políticas e culturais com os trabalhadores, familiares e apoiadores. Medidas como essas poderiam ser exemplo para se transformarem em um acampamento permanente em todas as unidades, assegurando que a Ford não retire as máquinas, aumentando o apoio da população e mantendo os trabalhadores firmes e preparados para qualquer nova medida que seja necessária, como a ocupação das plantas da Ford.

4 - Organizar uma luta nacional pela proibição das demissões

Todas essas iniciativas precisam ser articuladas pelas centrais sindicais como parte de um mesmo plano de lutas contra todas as demissões em meio a pandemia e a crise econômica, culminando na preparação de um dia nacional de paralisação pela proibição das demissões. Com os parlamentares de esquerda colocando sua tribuna a serviço de fortalecer a luta extraparlamentar, colaborando para transformar numa causa nacional.

5 - Conquistar a estatização da Ford sob controle dos trabalhadores

Dessa forma, potencializando a mobilização dos trabalhadores da Ford, transformando numa luta nacional em defesa dos empregos, seria possível avançar para estatização da Ford sem nenhuma indenização a montadora, colocando a fábrica sob controle dos trabalhadores, única forma de desvincular o destino dessas dezenas de milhares de famílias da ganância especulativa de capitalistas mundo à fora, e colocar a sua produção a serviço do bem estar geral, como poderia ser feito reconvertendo a produção para atender a necessidade de respiradores e outros materiais necessários no combate à pandemia. A resistência na Ford seria um importante ponto de apoio para resistir a todos ataques que Bolsonaro e os demais atores do regime golpista buscam descarregar sob nossas costas em nome de aprofundar a sangria da classe trabalhadora brasileira para os capitalistas de todo o mundo.

Para organizar essa luta decidida, não serve a estratégia das centrais sindicais, CUT/PT e CTB/PCdoB, de esperar 2022 para derrotar Bolsonaro nas eleições para presidente, é preciso organizar a força dos trabalhadores para que construam um caminho de defesa de seus empregos e direitos impondo que sejam os capitalistas que paguem pela crise.

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[1] Os trabalhadores da Ford, em Taubaté, firmaram um acordo coletivo que prevê estabilidade no emprego até 31/12/2021.




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