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MINERAÇÃO – MINAS GERAIS | Barão de Cocais à beira de ruptura de barragem da Vale: 3 pontos para um plano de urgência

A Vale notificou a comunidade de Barão de Cocais de que um talude está cedendo e a barragem Sul Superior da mina de Gongo Soco pode se romper entre os dias 19 e 25 de maio, deixando em alerta cerca de 6.000 pessoas. Há ainda uma segunda barragem que pode se romper com um “efeito cascata”.

segunda-feira 20 de maio de 2019 | Edição do dia

Barragem Sul Superior, em Barão de Cocais. Foto: divulgação/Vale.

Neste texto colocamos propostas urgentes para defender as vidas e a dignidade da população de Barão de Cocais contra a poderosa mineradora que se tornou conhecida pelos crimes bárbaros de Mariana e Brumadinho, que mataram centenas de trabalhadores e destruíram o meio ambiente, contando a cumplicidade dos governos e da justiça.

A população de Barão de Cocais vive uma verdadeira tortura psicológica por culpa da Vale nos últimos dias, com o alerta de iminente ruptura emitido pela empresa. Mas há mais de 3 meses a situação é degradante, já que a partir do dia 8 de fevereiro 500 moradores dos distritos de Piteiras, Socorro, Tabuleiro e Vila do Gongo foram evacuados com urgência durante a madrugada por risco de ruptura da barragem. No final de março a barragem localizada na cidade de Barão de Cocais chegou ao nível 3 de risco de ruptura, o nível máximo.

O Rio Doce também pode ser atingido, aumentando o impacto ambiental que a mineradora já causou sobre o rio, que destruiu o modo de vida e o sustento de ribeirinhos, quilombolas e indígenas que vivem próximos às margens.

Tudo isso ocorre com a mais completa conivência do governador Romeu Zema (NOVO), um amigo dos empresários que já chamou o crime de Brumadinho de “incidente” e que ainda não disse nada sobre a situação de Barão de Cocais, tendo estado nos últimos dias em viagem para Nova York para bajular empresários para que invistam em Minas Gerais – ou seja: prometendo muita exploração e privatizações no estado a empresários tão gananciosos como os próprios donos e acionistas da Vale.

A maior parte da população de Barão de Cocais vive com medo de ser atingida por um rio de lama tóxica; alguns sofreram a evacuação e perderam suas casas, e agora vivem em hotéis; e há ainda os que se separaram de suas famílias deixando em área segura parte dos familiares enquanto seguem vivendo nas áreas de risco, sem ter nenhum tipo de auxílio da gigante mineradora.

Declarações dos moradores à imprensa são ilustrativas da situação degradante em que estão. Cristina Vieira, afirmou à BBC: “A cada hora do dia, a gente conversa entre si: se o alarme tocar, nos encontramos no ponto tal. Já falei para a minha filha mais velha que, se algo acontecer, vou buscar a mais nova e depois nos encontramos em um local combinado.” Fernando Batista disse: “O medo está nos olhos das pessoas. Muitas famílias estão deixando a cidade e indo para Santa Bárbara e outras cidades próximas”. Sandra Regina da Silva Nascimento, moradora da zona secundária de risco, que não teve direito a deixar sua casa com auxílio financeiro da Vale, afirmou a O Tempo que: “Não tenho sossego para dormir… Se ela se rompesse durante o dia, eu pelo menos poderia contar com a ajuda das pessoas da região. Mas, e se for à noite? Como vou sair daqui no escuro? Por isso, eu prefiro sair antes, porque tenho sentido muita angústia e desespero”.

Cidade de Barão de Cocais. Foto: Ramon Bitencourt/O Tempo.

Na simulação de evacuação de sábado (18), a população protestou. “Bento Rodrigues nunca mais. Brumadinho nunca mais”, gritavam os manifestantes, que foram à simulação vestidos de preto e com faixas de protesto.

3 propostas para um plano de emergência

Frente a essa situação, é necessário em primeiro lugar que os moradores tenham plena autonomia para decidir, a partir de assembleias e discussões soberanas em cada bairro, as medidas a serem tomadas para proteger as vidas dos trabalhadores e de toda a população da cidade, lutando ao lado da organização dos trabalhadores da mineração, a ser impulsionada pelos sindicatos. Juntos são a única força capaz de se contrapor ao controle da situação pela Vale em aliança com os governos.

Essa coordenação do plano de ação deve decidir as melhores e mais seguras medidas, com a ajuda de especialistas, engenheiros e pesquisadores das universidades, como a UFMG, não ficando à mercê dos funcionários e especialistas a mando da empresa, e quebrando também o sigilo sobre as informações hoje controladas exclusivamente pela Vale.

E que todos os gastos com mudanças, aluguel de casas, alimentação e transporte sejam pagos diretamente pela Vale, e que a empresa seja obrigada a oferecer vagas de emprego para todas as famílias que já estão sofrendo a estagnação econômica da região.

Em segundo lugar, essa coordenação do plano de ação deve dirigir um plano de obras públicas para reconstruir toda a cidade em uma região fora de risco, com materiais para as obras e salários financiados por meio do confisco dos bens e recursos da empresa, assim podendo haver uma retomada do emprego e do comércio na cidade, retomando a dignidade da população que poderá finalmente dormir sem o medo de ser afogada em lama junto a seus familiares durante a noite.

Em terceiro lugar, é preciso travar uma luta mais ampla junto a toda população de Minas Gerais e do país, lutando para tirar a Vale das mãos assassinas dos empresários e acionistas que a controlam depois da privatização, estatizando a empresa sob gestão dos trabalhadores e controle da população junto a especialistas e ambientalistas.

Esta é a única maneira de quebrar a supremacia do lucro sobre as vidas na mineração, uma lógica perversa e assassina que Bolsonaro e Zema querem piorar ainda mais, que já havia sido acentuada a partir da privatização da Vale do Rio Doce pelo PSDB em 1997, e com a manutenção da privatização e da impunidade pelo PT. Estatizando a Vale será possível fazer com que as riquezas minerais do estado de Minas Gerais e de todo o país sirvam para melhorar a vida do povo trabalhador, investindo mais nos serviços públicos, diversificando a economia para acabar com a dependência da atividade minerária e transitando para um modelo de mineração sustentável com a natureza e com os trabalhadores.

Os sindicatos e entidades estudantis, como a CUT e a UNE, precisam impulsionar esse plano de emergência junto à campanha pela estatização da Vale sob gestão de trabalhadores e controle popular, denunciando esta absurda situação da cidade de Barão de Cocais, que tem a conivência da justiça e do governador Romeu Zema.

Essas medidas só serão garantidas completamente por meio da luta de classes, e por isso devem se inserir como parte da luta nacional que a juventude e os trabalhadores estão travando contra o governo Bolsonaro, os cortes na educação e a Reforma da Previdência, mobilização em que viemos batalhando para que as centrais sindicais antecipem o dia de greve geral para o 30 de Maio (30M) unificando com a juventude contra todos os ataques do governo Bolsonaro.

Leia também: 2 meses do crime da Vale em Brumadinho




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