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DESIGUALDADE | Baixa renda é fator de risco maior que a idade no país do golpismo judiciário ou militar

No Brasil, o maior fator de risco para morte diante do novo
coronavírus é o endereço. Dados de pesquisa da ONG Rede Nossa São Paulo e da
Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, houve um aumento de 45% nas mortes nos
20 distritos mais pobres da cidade e de 36% nos 20 mais ricos.

sexta-feira 8 de maio de 2020 | Edição do dia

As notícias e os dados que chegaram dos países já acometidos pela pandemia de Covid-19 alertavam para o risco de morte, principalmente, na população idosa e que apresenta comorbidades e/ou doenças respiratórias. Mas dados sobre a doença no Brasil, segundo uma pesquisa realizada pela ONG Rede Nossa São Paulo, mostram que as infecções pelo novo coronavírus que resultaram em morte se concentram nas periferias, sem se ater à faixa etária ou histórico de saúde anterior quando se trata da população pobre do país.

Ainda que o Morumbi, bairro nobre da zona sul de São Paulo, apresente o maior
número de casos registrados (332 até o dia 06/05/2020), o número de óbitos é de 7
pessoas; enquanto em Brasilândia, na zona norte, já são 67 mortes, incluindo as
confirmadas e suspeitas, e fontes apontam 89 casos confirmados da doença, em meio à subnotificação que vem ocorrendo em todo o país. Esses dados foram apresentados por um levantamento da prefeitura e mostram que o real fator de risco para a Covid-19 no Brasil é o endereço.

Fonte: Divulgação

No mapa acima, elaborado pela prefeitura de São Paulo, é possível ver que essa
realidade alarmante não ocorre apenas se compararmos Brasilândia e Morumbi, mas é uma regra no estado mais populoso do país, podendo se repetir em todo território
nacional.

Condições precárias de moradia e trabalho e o descaso dos governos geram uma maior taxa de transmissão e mortalidade

A prevenção da infecção pelo novo coronavírus está relacionada a questões básicas de higiene e habitação, uma vez que são necessários a higienização das mãos e o
distanciamento social. Tais medidas se tornam cada vez mais escassas e indisponíveis a medida que nos aproximamos dos bairros mais pobres da cidade, com acesso à água potável limitado ou inexistente e condições habitacionais precárias e superlotadas. Além disso, os postos de trabalho ocupados por essas pessoas aumentam sua exposição ao perigo de infecção pelo vírus e aumentam também as possibilidades de transmissão dentro e fora de casa, uma vez que ocupam os postos de trabalho mais precários. Diante disso, quanto menos estrutura e possibilidade da população adotar as medidas preventivas, maior é taxa de transmissão ali.

A pesquisa também mostrou que, no Brasil, ter menos de 60 anos não significa estar
menos exposto ao risco de morte. Quando tratamos dos bairros mais ricos da capital e outras regiões com melhores condições socioeconômicas, 90,4% das mortes ocorrem nas faixas etárias acima de 60 anos, mas se você mora nas periferias de São Paulo e tem de 40 a 44 anos, já enfrenta um risco 10 vezes maior de morrer por Covid-19 do que quem mora nas regiões ricas ou melhor condicionadas.

Os governos vêm transferindo a maior parte da responsabilidade no combate e
prevenção da Covid-19 para a população, como se fosse responsabilidade individual a higienização das mãos, a boa alimentação e a permanência em casa. Ignora as condições miseráveis que grande parte da população brasileira vive e segue com seus discursos cheios de demagogia, sem garantir que toda a população tenha acesso a medidas de prevenção e condições para um isolamento social racional, com testes massivos e uma renda mínima de, pelo menos, 2 mil reais, ou garantindo moradias dignas e alimentação saudável para todos.

Mas esse descaso é histórico e se reflete também na distribuição de leitos em UTI nas regiões da capital paulista, que, além de escassa, é desigual. 60% dos leitos em UTI do SUS está localizado nas regiões mais ricas e centrais da cidade, como Sé, Pinheiros e Vila Mariana; enquanto nas periferias, onde está concentrada 20% da população (2.375.000 pessoas), não há um leito sequer. A combinação dos dois fatores citados, impossibilita o tratamento adequado aos doentes, levando a um maior número de mortes em decorrência da Covid-19 nas periferias.

A classe trabalhadora, que tudo produz, é quem mais sofre com a pandemia

A situação nas periferias de São Paulo mostra o quanto os patrões e os governos
colocam os lucros acima das vidas dos trabalhadores, literalmente, e como essa lógica vem de muito tempo, quando observamos a forma com que as cidades são construídas de modo a excluir cada vez mais a nossa classe e a população majoritariamente negra das periferias de uma condição de vida minimamente respeitável.

Todo esse recorte social e geográfico feito pela pesquisa escancara ainda mais que a
classe trabalhadora é quem move o mundo e, ainda assim, são explorados e oprimidos pelos capitalistas que querem sair ilesos e saudáveis da crise econômica, social e sanitária que eles mesmo criaram.




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