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CÚPULA DAS AMÉRICAS | Atenuando asperezas antes da Cúpula

Juan Andrés GallardoBuenos Aires | @juanagallardo1

sexta-feira 10 de abril de 2015 | 00:01

Em um breve comunicado de imprensa o Ministério de Relações Exteriores venezuelano, confirmou oficialmente a presença de Shannon em Caracas, que antes havia sido admitida por fontes diplomáticas dos EUA em Washington.

A viagem de um funcionário de tão alto escalão da parte dos Estados Unidos, que segundo Washington responde a um pedido do próprio presidente venezuelano, Nicolás Maduro, não esconde a necessidade de Obama de baixar o nível de tensão gerado pelo decreto presidencial que no mês passado declarou que a Venezuela era uma “ameaça para a segurança nacional” dos EUA e determinou sanções para sete de seus funcionários.

Para que fique claro, na véspera da viagem de Shannon, desde a Casa Branca haviam esclarecido que “os Estados Unidos não acreditam que a Venezuela represente uma ameaça”, e em um giro político a dias do início da Cúpula das Américas, referiram-se ao decreto de Obama como um mero tecnicismo para poder implementar determinadas sanções. O assessor adjunto de Segurança Nacional da Casa Branca, Ben Rhodes, disse na terça-feira que o uso do termo "ameaça" simplesmente forma parte da linguagem estabelecida para formular o tipo de ordens executivas como a emitida por Obama.

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, "saudou" estas declarações dos assessores do mandatário estadunidense, que qualificou de "interessantes", durante uma transmissão televisiva.

As sanções de Obama contra funcionários venezuelanos, que podiam ser lidas como uma concessão aos Republicanos dentro dos Estados Unidos, para apaziguar os ânimos frente às negociações que a Casa Branca mantém com Irã e Cuba, foram rechaçadas por um amplo arco político na América Latina. Este espectro ia desde o bloco da UNASUR e da ALBA, até a própria direita venezuelana que entendia que o ataque de Obama dava a Maduro uma “desculpa ideal” para ganhar força em um momento de profunda crise política e econômica. O conflito aberto pelo decreto de Obama contra a Venezuela corria o risco de tornar-se o tema central da Cúpula no Panamá.

Nestes marcos a viagem de Shannon a Caracas, a dias do início da Cúpula onde vão participar tanto Obama como Maduro, tem o objetivo de baixar as tensões para que este conflito não tape o acordo diplomático dos EUA com Cuba. Um acontecimento que, junto aos acordos com o Irã, pretende ser mostrado por Obama como um legado de seu governo.

Maduro por sua vez já havia declarado em um discurso anterior que suas intenções estavam longe de um enfrentamento com Obama e que seu caminho era o do diálogo, pedindo aos Estados Unidos que enviasse um alto-funcionário para demonstrar que a Venezuela não é ameaça para os Estados Unidos. Um novo enfrentamento com os Estados Unidos não parecia estar entre as necessidades de Maduro, golpeado pela crise econômica e política, o que não significa que não tenha usado o fato politicamente para tentar ganhar ar e golpear a direita local, como com a campanha pelos 10 milhões de assinaturas contra o decreto de Obama que lançou na última semana.

No comunicado emitido nesta quarta-feira à tarde pelo Ministério de Relações Exteriores da Venezuela não se menciona se Shannon se reunirá com o presidente Nicolás Maduro. Segundo a agência Efe, um porta-voz do Departamento de Estado que pediu o anonimato assinalou que “o Governo venezuelano convidou recentemente o Governo estadunidense a enviar um funcionário de alto escalão a Caracas para reunir-se com o presidente Maduro antes da Cúpula das Américas". Por isso se espera que finalmente esta reunião aconteça.

As próximas horas serão chave para saber se os Estados Unidos conseguem seu objetivo de reduzir ao mínimo as exigências da Venezuela e fazer com que o reestabelecimento de relações diplomáticas com Cuba seja o eixo da Cúpula das Américas. Não é coincidência que ao mesmo tempo que Shannon viajava a Caracas, funcionários estadunidenses declaravam que o Departamento de Estado se encontrava perto de apresentar a Obama uma resolução para eliminar Cuba da lista de países patrocinadores do terrorismo, uma das principais exigências de Havana nas atuais negociações às portas da reunião no Panamá.




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