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COLUNA | As ruas podem derrubar Bolsonaro?

A greve do metro de São Paulo e a grande insatisfação popular que se expressou no apoio a greve foram um dos sinais de que algo por baixo pode estar mudando no país. As manifestações desse sábado confirmaram esses sinais. Agora, com novas manifestações sendo chamadas para o dia 19, é preciso assembleias nos locais de trabalho e estudo para organizar as manifestações e exigir das centrais sindicais um grande dia de paralisação nacional para unificar todas as lutas derrotar Bolsonaro

Thiago FlaméSão Paulo

quinta-feira 3 de junho de 2021 | Edição do dia

Pela primeira vez desde a pandemia uma manifestação de rua reúne dezenas de milhares. Esse fato em si tem grande significado. E, diferente de 2019, chega num momento de maior desgaste do governo.

Todos sentiram esses atos do 29M como um sopro de vida, a explosão de um grito há muito entalado na garganta. Certamente é um ponto de apoio, uma mostra de que talvez tenha passado o momento em que fomos obrigados a aguentar tudo calados, um sinal de que a partir de agora os ataques vão encontrar resistência.

Tomando as manifestações como um ponto de apoio muito importante, é preciso também observar seus limites e contradições e como se insere na complexa trama da política nacional. Os atos sem dúvida fortaleceram a posição de Lula e do PT inclusive sem que esses precisassem fazer nada para convoca-los. No seu conteúdo foram amplamente simpáticos a candidatura de Lula e inclusive a CPI, deixando a demanda das federais contra os cortes e as outras demandas contra os ataques do governo num segundo plano.

A greve do metrô de são Paulo, antecedente imediato dos atos, cujo resultado ainda está em aberto, também foi uma mostra muito forte de que a luta de uma categoria tradicional e organizada pode conquistar um apoio que vai além dos votantes de Lula e do PT. A greve também teve, no entanto, seus limites e contradições. Fundamentalmente a linha corporativista da maioria do sindicato, dirigido pelo PCdoB, acompanhado pelo PSOL e PSTU nesse corporativismo, que consiste em não ligar a greve com demandas do conjunto da classe trabalhadora que utiliza o metrô, o que limita a luta pelas demandas da categoria e que essa luta possa despontar como referência e inspiradora para todas as lutas contra Bolsonaro, os governos estaduais e todos os setores empresariais.

A força que se expressou nos atos de sábado e tem que se expressar nas próximas manifestações precisam se expressar no apoio a cada luta de resistência. Nosso lema deveria ser: se atacam um, atacam todos. Os metroviários de São Paulo precisam triunfar contra Dória, as federais lutam pela sobrevivência contra os cortes, e na Amazônia os Yanomamis, os Mundukuru e todos os povos indígenas estão na alça de mira das milícias bolsonaristas e precisam do nosso apoio. Nenhuma dessas lutas pode esperar outubro do ano que vem.

A divisão entre a luta política contra o governo e as demandas econômicas dos diversos setores e as lutas contra ataques concretos do governo que de expressou tanto nos atos como nas greves, não caiu do céu. É parte da própria estrutura sindical herdada do varguismo, que permita aos sindicatos inclusive fazer greves na data base, mas proibia a classe trabalhadora de atuar politicamente, inclusive de se organizar em partido próprio. O PT sempre se apoiou nessa divisão, mantendo as lutas operárias nós marcos corporativos, ficando a política como tarefa dos parlamentares e para as eleições a cada dois anos. Nessa estratégia se inseriram os atos do final de semana, como atos de apoio a CPI e a Lula 2022, e é ela que precisamos superar para virar a mesa contra esse governo a cada dia mais insuportável.

Como escreveu José Dirceu analisando os atos de sábado, "as mobilizações vitoriosas de 29 de maio não descartam a necessidade da unidade de todos os democratas na luta contra Bolsonaro. Nossa vitória em 22 só será possível se combinarmos as mobilizações com a união, em torno de uma candidatura de esquerda, de amplas forças políticas e sociais capazes de derrotar os planos golpistas de Bolsonaro e realizar um governo de mudanças estruturais". A linha do PT não é unificar a luta contra governo Bolsonaro com a luta contra cada ataque do governo. Pretende retomar o governo nas eleições em 2022 e para isso aposta nas negociações com o centrão, na reconciliação com os golpistas e nos acordos com o mercado financeiro de que não vai reverter as reformas e privatizações de Temer e Bolsonaro. Vemos nos governos do PT no nordeste e também na prefeitura de Belém governada pelo PSOL que sem enfrentar o mercado financeiro qualquer governo, mesmo um que se diga de esquerda, vai terminar se submetendo aos ajustes exigidos pelos bancos. Vimos em Recife como o governo do PSB foi cúmplice do bolsonarismo na repressão ao ato nesta capital.

Se as mobilizações seguirem esse caminho, podem até levar a uma vitória eleitoral contra Bolsonaro em 2022, mas não vão derrotar a extrema-direita nem as reformas neoliberais dos últimos anos. As mobilizações de rua precisam se aprofundar e ser ainda maiores no dia 19. É preciso exigir e impor assembleias democráticas para organizar as mobilizações e para que a unidade entre a juventude e a classe trabalhadora tomem as ruas dia 19 contra Bolsonaro, Mourão e os militares, por vacinas para todos, em defesa das federais e da educação e contra todos os ataques. Um grande ato dia 19, organizado a partir de assembleias de base seria um passo para exigir das centrais sindicais que organizem uma grande paralisação nacional, pra que cada setor da classe trabalhadora se some a luta contra o governo carregando suas demandas e mostrando a força da nossa classe.




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