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As 5 mortes no CEU Heliópolis escancaram insegurança do retorno às aulas imposto por Covas

Há pouco mais de uma semana educadoras e educadores faziam ato em frente ao CEU Heliópolis na cidade de São Paulo, homenageando 5 trabalhadores da unidade mortos pela Covid e pela reabertura insegura das escolas pelas mãos de Doria e Covas (PSDB). No mesmo dia a Câmara dos Deputados aprovou lei que considera educação serviço essencial para impedir o fechamento das escolas no meio da pandemia. Uma semana depois circula a denúncia de que mais 4 professores do CEU Heliópolis estão contaminados, e ainda assim a escola não foi totalmente fechada pela Diretoria Regional de Ensino do Ipiranga – região da escola, seguindo aberta e recebendo alunos.

sexta-feira 30 de abril de 2021 | Edição do dia

Foto do ato realizado dia 20/04 no CEU Heliópolis recebida via whatsapp de trabalhadores municipais em greve

Dia 20/04, mesma data em que a Câmara dos Deputados aprovava o PL5595 (ontem (30/04) retirado da pauta no Senado) que visa tornar a educação atividade essencial para que escolas e universidade não possam ser fechadas durante a pandemia, educadoras e educadores faziam um ato em frente CEU Heliópolis na cidade de São Paulo para homenagear e denunciar a morte de 5 pessoas que trabalhavam na escola pela Covid desde que a escola foi reaberta.

Trabalhadoras da educação vítimas do coronavírus, mas também vítimas da política assassina de reabertura insegura das escolas pelas mãos do prefeito Bruno Covas (PSDB) e do governador João Doria (PSDB) em São Paulo, mas que não é exclusiva do estado de SP mas incluí os governos irresponsáveis que por todo o país colocam os lucros e a normalização de um contexto onde beiramos 400mil mortes acima das vidas dos trabalhadores e da população.

O ato reuniu educadoras e educadores, parte deles em greve desde 10/02 contra o retorno inseguro das aulas na rede municipal de ensino, na frente do CEU, com faixas e carro de som, homenageando os colegas de trabalho que não estarão mais dividindo os corredores e salas de aulas.

Após denúncias nos grupos de facebook e whatsapp da categoria, nós do Esquerda Diário conseguimos confirmar com trabalhadores da EMEF da unidade que realmente já são mais 4 casos confirmados.

Print das denúncias que circularam em grupos da categoria dia 26/04 confirmadas pelo Esquerda Diário.

O CEU Heliópolis atende o seguimento de EMEI e EMEF, e segundo membros da comunidade escolar ao menos 2 dos 4 casos se deram no seguimento de EMEF que foi fechada apenas por 1 dia e não por 14 dias conforme manda o protocolo de segurança sanitária elaborado pela SME – Secretaria Municipal de Educação. Uma mostra do desprezo pelas vidas da comunidade escolar. Também soubemos pela comunidade escolar, que graças a repercussão negativa da situação calamitosa da unidade, a EMEI foi fechada pela vigilância sanitária dia 26/04, mesmo dia que circularam as denúncias na internet, e seguirá até 10/05.

Questionamos por que não foi adotado o mesmo procedimento em relação a EMEF, de isolamento e acompanhamento dos casos confirmados, mas não só, como também de todos os contactantes – procedimento que não foi adotado diante dos casos confirmados neste seguimento. E tendo inclusive, conforme denunciam trabalhadores da unidade, se expressado um questionamento dos contaminados sobre como contraíram a COVID, como se estes fossem responsáveis pelo adoecimento, quando na verdade estão sendo expostos à pandemia com a política de reabertura insegura das escolas levada à frente pelo PSDB que só no CEU Heliópolis levou 5 pessoas à morte.

Passadas algumas semanas desde que as escolas foram reabertas no município Covas e seu secretário de educação Fernando Padula endureceram os critérios para que unidades que tivessem casos confirmados pudessem fechar suas portas, burocratizando ainda mais essa medida que já vinha sendo negligenciada a exemplo da denúncia que trazemos aqui. Pode acontecer, por exemplo, de casos serem confirmados em uma turma, mas apenas a pessoa sintomática ou aquela turma ser dispensada das aulas presenciais, como se nas escolas públicas fosse possível implementar o sistema de “bolhas” que as escolas particulares mais caras implementam.

Os interesses que levam Covas a manter as escolas abertas de forma insegura impera na Câmara que contribuiu para que a educação seja tida como “essencial” na pandemia

É emblemático, como parte da mesma política irracional e “genocida” levada a frente pelo Governo Federal com Jair Bolsonaro, que no mesmo dia em que os 5 trabalhadores mortos do CEU Heliópolis foram homenageados a Câmara Federal tenha aprovado o reconhecimento da educação básica, em formato presencial, como serviço essencial. Para impedir que escolas sejam fechadas durante a pandemia . Uma grande mostra hipocrisia desses parlamentares, herdeiros do golpe institucional, para quem a educação nunca foi tratada como “essencial”. São parte dos anos e anos de desmonte e precarização que a educação pública no país vem sofrendo. E ainda tivemos que ouvir o deputado, líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR) dizer que os “professores não querem trabalhar”. Canalha!

Esse Projeto de Lei, PL5595, teve sua tramitação no Senado interrompida ontem, 29/04, mas é preciso dizer que não sabemos até quando e não desarmar o questionamento e enfrentamento necessário a essa medida que atende muito bem aos interesses privados.

Veja o tweet da professora Flávia Valle de MG e parte do Movimento Nossa Classe Educação.

Os parlamentares e governadores que, pelo país todo querem transformar a educação em serviço essencial, como Doria e Eduardo Leite (PSDB-RS), querem se apoiar nessa medida não só de imediato, mas a longo prazo, garantindo os interesses dos empresários da educação e se valendo dessa artimanha parlamentar disfarçada de preocupação com a educação, para avançar também contra o direito de greve das educadoras. Pois mesmo em greve os trabalhadores de serviços essenciais são obrigados a manter 20% ou 30% de atividade dependendo da categoria.

Ou seja, há um ataque evidente ao direito de greve, que os parlamentares e governadores estão aproveitando da pandemia para passar. Por exemplo, se a lei já estivesse em curso greves como dos educadores municipais de São Paulo (desde fevereiro deste ano), ou a greve sanitária dos educadores de Belo Horizonte contra o retorno inseguro das aulas pelas mãos do prefeito Kalil (PSD) que se inicia, já estariam ameaçadas e podendo ser julgadas como ilegítima.

Não é de se estranhar ver esses parlamentares, prefeitos e governadores, como Kalil, Covas, Doria e Leite implementarem ataques assim contra a educação e lançarem ao mesmo tempo os trabalhadores para contaminação em escolas inseguras ou transporte público lotado, aqui cabe aquela visada frase que combina muito bem com esses tempos: “enfim, a hipocrisia!”.

Afinal de contas há muito que sabemos que não são estes políticos uma alternativa ao negacionismo de Bolsonaro. Mas infelizmente também chama atenção ver parlamentares do PT e PSOL, como Luciana Genro (MES) apoiarem projetos de lei assim como fizeram no Rio Grande do Sul em meados de março quando Eduardo Leite aprovou em nível estadual uma lei com o mesmo teor - que torna educação infantil e fundamental das redes pública e privada como atividades essenciais. Além de apoiarem o retorno inseguro, na prática apoiam um ataque ao direito de greve dos trabalhadores.

Saiba mais: Educação como serviço "essencial", com apoio do PT e PSOL, é um ataque brutal ao magistério

Da mesma forma é absurdo que até agora a CNTE, filiada à CUT que é dirigida pelo PT, e os principais sindicatos da educação do país como o SINPEEM e a APEOESP também dirigida pelo PT, não tenham encampado um movimento de luta nacional contra a reabertura insegura das escolas e em defesa do direito de greve questionado por medidas autoritárias como de Covas que cortou o salário das educadoras em greve mesmo sem qualquer julgamento de ilegalidade na greve. É mais que urgente que sindicatos e centrais se mecham para nacionalizar e unificar a luta das educadoras em todo o país, com a perspectiva de se juntar também a outras categorias de trabalhadores para enfrentar Bolsonaro, governadores, prefeitos e o conjunto do regime do golpe institucional que nos fazem pagar pela crise econômica e sanitária com nossas vidas.

Leia também: Por um 1º de Maio Classista e Independente, que unifique e coordene os focos de resistência pelo país!

Nós do Movimento Nossa Classe e do Esquerda Diário nos solidarizamos aos colegas e familiares dos 5 trabalhadores do CEU Heliópolis que como tantos outros educadores e até mesmo alunos perderam suas vidas não simplesmente pela Covid, mas pelas mãos de governantes como Covas e Doria que impõe a reabertura insegura das escolas em meio ao descontrole da pandemia.

Adriana, Levi, Reginaldo, Renata, Silvana e tantos outros colegas da educação mortos pela COVID, presentes!




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