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SARAHAH | Aplicativos e sexualidade: geração millennial

Correndo o risco de ficar na contracorrente em meio a maré de mensagens azuis nas redes sociais que gerou o aplicativo Sarahah, é necessário parar a bola e pensar estas novas aplicações e as novas formas de relações.

sexta-feira 18 de agosto de 2017 | Edição do dia

O anonimato

Esse novo aplicativo, Sarahah, que significa “honestidade” em árabe, surge para que os empregados de uma empresa possam dizer o que realmente pensam sobre seus chefes, sem correr o risco de um “castigo” no local de trabalho, já que as mensagens com anônimas e não tem maneira de descobrir quem as enviou. Ninguém pode negar que pode ser uma chance para os jovens que são os mais expostos aos trabalhos preconizados com patrões que se aproveitam apoiando-se em uma larga fila de desempregados que já esperam lá fora conseguir qualquer trabalho.

Porém, a utilização que se dá agora ao aplicativo, que já tem mais de 4 milhões de usuários e 330 milhões de mensagens na nuvem, mudou. Se incorporou as aplicações de anonimato.

Junto com Ask.com e Curiou Cat, o App Sarahah é utilizado para mandar perguntas e comentários aos teus “amigos”, algumas vezes criticando e outras, em sua maioria, utilizadas para “a paquera”. Em síntese: uma aplicação para dizer o que não se atrevem cara a cara.

O curioso, é que essa relação de anonimato, tem como garça e fim último, ser publicada em outras redes sociais para que todos os “amigos” possam ver as propostas, desejos e fantasias que tem com um e os elogios que intensificam o que somos. Não só nos expomos e nos mostramos como pessoas nas redes sociais, sem que, além disso, necessitamos expor frases que comprovam e afirmam que esse produto que estamos mostrando é realmente assim.

A histeria

Sem bem que esse não é um App criado para “a paquera” – como é o Tinder, onde solteiros se encontram para marcarem encontros; sua versão da diversidade sexual como é o Grindr o Happend a aplicação permite reencontrar com gente que cruzou na rua – não podemos negar que uma grande porcentagem das mensagens enviadas e recebidas por Sarahah confessam fetiches, prazeres, já que a moral que predomina não permite e reprime que se digam abertamente. São meras expressões de desejo, canalizados por essa rede, mas que não tem como fim concretizar-se.

O sexo e a Geração Millennial

Surpreende, nesse sentido, um estudo da revista Archives of Sexual Behavior, publicado há alguns meses, onde mostrava que a geração dos millennial, teriam menos relações sexuais que a geração anterior, indo contra o sentido comum que pensaria que estas aplicações, aumentariam o número.

De 26.707 casos de pessoas entre 20 e 24 anos nascidas nos anos 90, se revelou que 15% não teve relações sexuais antes dos 18 anos, a diferença da geração anterior que o número baixa a 6%.

Jean Twenge, uma das investigadoras neste tema assinalou que “embora aparentemente a tecnologia e as aplicações para ligar, em teoria, ajudam aos millennial a encontrar parceiros sexuais mais facilmente, pode também ter um efeito contrário sendo que os jovens passam tanto tempo conectados online que interagem menos com pessoas, e consequentemente, não mantem relações”.

Ryne Sherman, coautora da investigação, acrescenta neste sentido que “o fácil acesso a pornografia também poderia estar desempenhando um papel. O acesso a pornografia pode ser capaz de aliviar o desejo sexual”.

A indústria pornográfica alcança no dia de hoje, cifras enormes. Se estima que atualmente roda em torno dos 13 mil milhões de dólares, com um aumento considerado nos últimos tempos pelas condições criadas por novas tecnologias, a revolução das comunicações e a internet. Como bem explica Andrea D’atri em seu artigo “Pecados Capitales” na revista Ideas de Izquierda “deste pujante negócio, surgiram (...) os subgêneros críticos do modelo heterossexual e misógino que se representa habitualmente nesses filmes – como a pornografia feminista, a pornografia gay, lésbica, etc”.

Dentro deste grande negócio entra tudo que possa dar lucros milionários, incluindo os mais diversos gostos.

Outra questão a colocar sobre a mesa na hora de falar da geração millennial, é que, é a geração que está exposta aos trabalhos mais precários. Os call center, fast food, trabalhos de repositor, entre outros tantos, que geram stress e até mesmo enfermidades no corpo.

Mas além disso, estes trabalhos, se caracterizam por terem menos instabilidade e salários mais baixos. Portanto, cada vez, se resulta mais difícil economicamente deixar as casas “dos pais” para passar a viver sozinhos com os amigos. Sobre este aspecto esclarecem que podem ser que esteja “potencialmente sufocando a vida sexual” deste setor.

Sem embargo, a geração millennial em nosso país, é a que nasce na vida política e sexual com a Lei de Matrimônio Igualitário e a Lei de Identidade de Gênero, conquistados e arrancados do estado por uma incansável luta de anos. É também a geração do “Nem uma a menos” que fez mobilizações massivas nos lugares mais longínquos do país (Argentina). E é a que na Capital Federal impulsionou um novo fenômeno que foi a aparição de centenas de comissões de mulheres em escolas, universidades e lugares de trabalho.

Um dado interessante que dá a luz a investigação é que acharam que o 2,3% das mulheres nascidas na década de 1960 são sexualmente inativas, em comparação com o 5,4% das nascidas nos anos noventa. Há um claro aumento das relações sexuais “pré-matrimoniais”.

É a geração que vai deixando os preconceitos e onde mais fieis perdem a moral religiosa, sem embargo, isso não se transforma mecanicamente em mais relações sexuais tanto heterossexuais, como diversas, senão, mais bem parece que se vai criando novas formas de relações e entender (de maneiras mais ou menos consciente) o próprio corpo e a sexualidade.

Tradução Douglas Silva




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