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EDUCAÇÃO | Apenas contar e ler: sociologia não é conhecimento para Bolsonaro

Após o reacionário presidente afirmar, nessa sexta, 26, que iria diminuir investimentos nos cursos de filosofia e sociologia por não ter "retorno imediato", ele deu como justificativa que o conteúdo do ensino público não deve ir muito além de ler, escrever e fazer conta. Uma declaração cinicamente explícita de que o projeto de educação de seu governo é transformar as gerações futuras em oferta de mão de obra barata, disciplinada e acrítica para ser explorada pelo imperialismo, que conduziu Bolsonaro ao poder e avança em sua tentativa de reversão neocolonial de toda a América Latina.

sexta-feira 26 de abril de 2019 | Edição do dia

Na manhã de hoje (26), Jair Bolsonaro anunciou através do Twiiter o fim dos investimentos federais em faculdades de filosofia e ciências humanas, investimentos esses que serão “descentralizados” a fim “focar em áreas que gerem retorno imediato ao contribuinte, como: veterinária, engenharia e medicina.”

Veja aqui: Bolsonaro vai cortar verbas de cursos de filosofia e sociologia, perseguindo pensamento crítico.

O reacionário presidente ainda acrescentou que o conteúdo do ensino público não deve ir muito além de ler, escrever e fazer conta, uma declaração cinicamente explícita de que o projeto de educação de seu governo é transformar as gerações futuras em oferta de mão de obra barata, disciplinada e acrítica para ser explorada pelo imperialismo, que conduziu Bolsonaro ao poder e avança em sua tentativa de reversão neocolonial de toda a América Latina.

A publicação se segue à live feita na noite anterior (25), em que, junto a Bolsonaro, Abraham Weintrab exaltou o Japão, onde o curso superior de filosofia é privilégio de quem pode pagar. Também nomeado pelo obscurantista Olavo de Carvalho, o novo ministro da educação em nada difere de seu antecessor, Ricardo Vélez Rodriguez, a não ser por ter mais relações pessoais com o mercado financeiro. Não é surpresa para ninguém, mas não deixa de ser revoltante que o governo queira privar de tal maneira a juventude, especialmente a pobre, preta e periférica, do acesso às principais conquistas científicas e civilizatórias da humanidade e condenar a ampla maioria da população à ignorância e aos trabalhos mais brutalizantes, elitizando o conhecimento de tal maneira que eleva à outra potência aquilo que dizia Marx, em 1845, sobre as ideias dominantes de uma sociedade serem sempre as ideias da classe dominante porque é esta a proprietária dos meios de produção intelectual (A Ideologia Alemã).

Longe de conhecimento inútil ou hobby, a filosofia é a base indispensável do conhecimento científico, pois é ela que resolve o problema do método: como podemos ter certeza de que o que pensamos sobre a realidade é o que a realidade efetivamente é? Como podemos obter conhecimentos seguros, verdadeiros e, portanto, científicos? Sem a filosofia, não existiria a medicina, a veterinária ou a engenharia, tão cara a esses pretensos tecnocratas que, na verdade, alimentam a incultura e retrocessos como o terraplanismo depois de mais de quatro séculos de física moderna. A própria matemática é, em grande medida, uma extensão da filosofia.

A sociologia também não é nenhuma “doutrina de esquerda”; foi criada por um conservador, Auguste Comte, para recuperar o tecido social que a Revolução Francesa teria esgarçado e, essencialmente, para que não acontecessem outras revoluções! Na sociedade burguesa, os sociólogos têm uma função importantíssima, que é naturalizar e legitimar as relações capitalistas de exploração e, não coincidentemente, um dos principais agentes do neoliberalismo em nosso país é um sociólogo que só reacionários com 40 graus de febre poderiam dizer que é esquerdista: Fernando Henrique Cardoso.

Se o socialismo tem se tornado uma palavra cada vez mais atrativa nos ouvidos de jovens ao redor do globo, até mesmo nos EUA, isso não se deve ao ensino de filosofia e sociologia, e sim ao fato de que a putrefação do capitalismo exala um fedor cada vez mais insuportável. Mas quem explicou esse processo de decadência histórico-civilizatória da sociedade capitalista foi o e só poderia ter sido marxismo, o socialismo científico, que soube apropriar-se de todo o conhecimento acumulado por sucessivas gerações humanas e aplicá-lo de modo a contrapor a essa sociedade decadente não uma utopia, e sim uma possibilidade real. E é por isso que a classe dominante sente-se ameaçada não só pelo “espectro” do comunismo, mas, cada vez mais, por qualquer prática científica. Não é nenhuma “doutrinação”, mas, pelo contrário, a incapacidade de sobrepor suas doutrinas reacionárias ao progresso científico que o governo Bolsonaro e a burguesia temem.

Por isso, o fim do financiamento público às faculdades de filosofia e ciências humanas irá frustrar até os supostos contribuintes que, por ventura, tenham expectativas de que um ensino mais mercadológico favoreça o desenvolvimento capitalista do Brasil, ao invés de reforçar a sua estrutura semicolonial, primário-exportadora e ofertante de mão de obra barata para a exploração das multinacionais imperialistas. Aliás, esse “contribuinte” abstrato sequer é convidado a opinar acerca dos conteúdos curriculares, na medida em que o ensino público é administrado por uma casta de burocratas que, via de regra, não pisam numa sala de aula há anos, e não pelos próprios estudantes, professores e funcionários das universidades, junto à população de “contribuintes”, que é quem realmente sabe quais são as necessidades educacionais do povo. Quem quer que alegue preocupar-se com o dinheiro do contribuinte faz demagogia se não luta para que as universidades sejam geridas por aqueles que nela estudam e trabalham.

Essa bandeira, junto ao fim do vestibular, à estatização de todas as universidades privadas e ao não pagamento da dívida pública, é a que pode unificar estudantes, trabalhadores e o povo pobre e concentrar as forças necessárias para derrotar os ataques do governo à educação. É também parte fundamental de como intervirá a juventude Faísca – Anticapitalista e Revolucionária no 57º Congresso da União Nacional dos Estudantes (Conune), em seu combate contra as burocracias estudantis do PT e da UJS/PCdoB, encasteladas na direção dessa entidade, que as/os estudantes precisamos reconquistar.




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