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Apenas 9% dos inscritos no Sisu entraram nas universidades

Nesta segunda-feira (30), os resultados do Sisu foram divulgados. Houve ao todo 2.498.261 inscritos para cerca de 230 mil vagas, ou seja, cerca de 9% de todos os que se inscreveram conseguiram ter o direito a educação pública e gratuita.

Mateus CastorCientista Social (USP), professor e estudante de História

terça-feira 31 de janeiro de 2017 | Edição do dia

Nesta segunda-feira (30) os resultados do Sisu foram divulgados. Houve ao todo 2.498.261 inscritos para cerca de 230 mil vagas, ou seja, cerca de 9% de todos os que se inscreveram conseguiram ter o direito a educação pública e gratuita. O Sisu, que utiliza as notas do Enem, tem vagas garantidas para alunos de escolas públicas e cotas para negros, entretanto, das 100 escolas com maior nota média no Enem em 2015, 97 são privadas, e as outras 3, colégios federais, além disso a nota de corte dos cursos mais concorridos, como medicina, direito e engenharia, facilmente ultrapassa dos 750 pontos. O Sisu continua sendo um filtro social.

O Sisu é um sistema de seleção unificado que teve início em 2010 no governo Lula, quando o Brasil ainda vivia um período de crescimento econômico, na época e até hoje é reivindicado pelo PT e por todo um setor “crítico” em sua volta. De fato, para quem antes só tinha como opção pagar uma universidade privada, por causa do extremo elitismo dos vestibulares, ou entrar logo no mercado de trabalho em postos precários, o Sisu apareceu como uma pequena chance de fazer parte dos 14% de adultos que conseguiram completar o ensino superior no Brasil.

O Enem, prova que dura 2 dias, com 180 questões e 1 redação, que exige nervos de aço e um preparo físico e mental que só é conquistado com muito treinamento, nos últimos anos vem se aperfeiçoando como vestibular, e não substituindo-o, cada vez mais suas questões de exatas, biológicas ou humanas, se aproximam do que vemos nos vestibulares mais elitizados.

É cobrado do aluno de escola pública que estudou onde faltavam professores e material didático de qualidade, um conhecimento pelo qual ele nunca teve acesso, enquanto que para aqueles que estudaram em uma escola privada renomada e/ou fizeram cursinho, que fizeram muitas redações e exercícios semelhantes aos da prova, o nível de dificuldade nem se compara, o resultado é que o Enem continua sendo um filtro elitista, e o governo golpista de Michel Temer pretende aumentar ainda mais esse elitismo, de uma maneira que seria cômica se não fosse trágica, porque enquanto aumenta o número de questões relacionadas à Filosofia e Sociologia no Enem, a Reforma do Ensino Médio pretende acabar com Filosofia e Sociologia nas escolas públicas.

De acordo com o IBGE, a juventude enfrenta um desemprego de mais de 25%, programas como o Fies e o Prouni, que também sofreram cortes, permitem o acesso ao ensino superior, só que ao mesmo tempo enriqueceram absurdamente as empresas privadas de ensino, como o grupo Kroton-Anhanguera, e endividaram milhares de estudantes, são cada vez opções mais distantes para quem enfrenta contas para pagar, dívidas e a necessidade de ajudar a renda familiar e enfrenta tamanho desemprego.

Educação pública gratuita e de qualidade não combina nada com o ensino privado, tão pouco com filtros elitistas como são a Fuvest, Comvest, Vunesp e o Sisu. Enquanto o governo escolhe por pagar uma dívida externa de US$323,7 bilhões, que nunca foi fiscalizada pela população e que consome aproximadamente 50% do PIB do país, a educação sofre duros ataques de Temer, não só a Reforma do Ensino Médio, também a PEC 55 que planeja congelar por 20 anos a verba para a educação e de outros serviços essenciais como a saúde. Temer já deixou público um pacote de privatizações e concessões, onde o principal alvo é a infraestrutura do país, são as ferrovias, o petróleo, terminais portuários, geração e distribuição de energia e etc. Através da PEC 55, ele também demonstra que além da infraestrutura, planeja sucatear ainda mais os serviços públicos, o que abre espaço e fortalece a iniciativa privada na saúde, educação e etc.

Isso é o que o governo golpista de Temer planeja, cabe à juventude que quer ter o direito à educação garantido organizar-se e lutar contra essas medidas, contra a PEC 55 e a Reforma do Ensino Médio, que visam elitizar ainda mais o ensino, lutar por permanência e condições dignas de estudo, até porque de nada adianta conseguir passar pelo filtro do vestibular e ter que abandonar o curso por não conseguir se manter. E em vez deixar que decidam o rumo da educação, um bando de políticos capitalistas que representam empresas do ensino privado, do agronegócio, da indústria bélica, de Igrejas milionárias, que só visam o lucro, lutemos pelo fim do vestibular, pela estatização das universidades privadas e para que aqueles que estudam e trabalham nas milhares de escolas, universidades e institutos no Brasil decidam junto a toda população o que é mais importante pesquisar, compreender e investir em um sistema único de educação que seja pública, gratuita, de qualidade e para todos.




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