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[Arquivo] 27 de Janeiro | Aniversário da liberação de Auschwitz

No maior campo de concentração utilizado pelos nazistas na segunda Guerra Mundial, qual papel cumpriram os monopólios e a igreja? Porque os países aliados não denunciaram abertamente o genocídio durante a guerra?

domingo 29 de janeiro de 2017 | Edição do dia

Em 27 de janeiro se comemorou o aniversário da liberação do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau pelas tropas do exército vermelho. O campo de concentração protagonizou um dos capítulos mais horríveis da história da humanidade como símbolo do genocídio perpetrado pelos nazistas.

Dos 6 milhões de judeus exterminados pelo regime nazista, mais de 1 milhão passaram por Auschwitz, junto com mais de 100.000 ciganos, homossexuais, inválidos e militantes comunistas e socialistas, que compartilharam do mesmo destino.

O grande pensador do Holocausto judeu, Primo Levi, assinalava que Auschwitz representa a industrialização da morte a escalas inéditas, onde a vida humana não significava nada mais que um número gravado sobre o braço, à espera das “duchas” da câmara de gás toxico, os fornos crematórios e as fossas comuns. Essa aniquilação planificada contemplava experimentos genéticos de esterilidade e eugenia (aperfeiçoamento da espécie humana mediante o critério racista de seleção) e até servia-se dos cadáveres como matéria-prima para prover insumos à indústria. Quilômetros de cabelos foram compactados para a indústria têxtil. O ouro incrustado nas arcadas dentárias foi fundido para as reservas do Reich. As cinzas foram recicladas como fertilizantes.

Monopólios como IBM, Daimler Benz, IG Farben, Bayer, BMW, Krupp, Volkswagen, Siemens,etc. Se valeram do trabalho escravo para aumentar absurdamente seus lucros. Efetivamente, os nazistas inauguraram oficialmente o extermínio metódico como regra da barbárie, tomando como antecedente o genocídio de 1,5 milhão de armênios em 1915 que fundou as bases do novo Estado turco. Mas Hitler superou os mais apocalípticos prognósticos das novelas de ficção, demonstrando o extremo que podia chegar a natureza de um país imperialista, que buscava conquistar toda Europa para abrir novos mercados e estender a hegemonia de seus próprios interesses.

Sob a tétrica legenda “arbeit macht frei” (O trabalho os libertará) que encabeça a entrada do campo, o 65o aniversário reuniu dezenas de sobreviventes, ex soldados soviéticos e diversas personalidades internacionais. Entre outras manifestações, se destacou a enviada pelo Papa Bento XVI, compadecendo-se do “horror de crimes de uma crueldade sem precedentes”. Quanto cinismo! Este ex integrante das juventudes hitleristas se esquiva do fato de que o Papa Pio XII e o Vaticano apoiaram o regime nazista, um anti semitismo latente que encontra sua expressão atualmente em Tadeusz Pieronek, bispo de Cracovia que afirmou descaradamente que o “Holocausto é uma invenção judia”, sem desmerecer, os bispos lefebvrianos da ultradireitista Comunidade São Pio X, entre eles Richard Williamson, que sustenta como “mentiras, a eliminação de 6 milhões de judeus, a existência de campos de concentração e câmaras de gás”. Ainda que, outros como Obama tenha dito “não esquecer jamais” a tragédia de Auschwitz, a realidade é que esqueceram a cumplicidade do mundo “livre e democrático” que abandonou os judeus ao azar dos executores nazistas. Como declara o sobrevivente Jack Fuchs, “durante a guerra, os países aliados sabiam da existência dos campos de concentração e de tudo que sucedia. Jamais bombardearam Auschwitz nem nenhum campo. Nem as linhas de trem que a eles conduziam. Auschwitz foi ignorado entre 1941-1945. Voluntariamente ignorado. O objetivo dos países era ganhar a guerra” (Página 12, 27/01/09). A fraude dos julgamentos de Nuremberg, onde foram condenados apenas 24 dirigentes nazistas, demonstrou o verdadeiro significado da consigna “nunca mais” na boca das potências vencedoras.

A ironia da Historia

Há 65 anos de Auschwitz, os imperialismos vencedores impuseram uma visão tendenciosa do holocausto judeu em função de suas próprias necessidades.
Naquele momento, o então presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt fechou a fronteira “pois havia sido preenchida a cota de judeus”, forçando os refugiados que fugiam a voltar para a Europa, tal como sucedeu com milhares de judeus a bordo do cruzeiro San Luiz que não tiveram outra opção senão voltar para seus países de origem, onde encontraram a morte nos campos de concentração. Parar piorar, Roosevelt reprimiu as organizações operárias e populares que manifestavam sua solidariedade com os judeus frente à embaixada alemã, a instâncias de uma burguesia imperialista “isolacionista”, que ainda não havia resolvido sobre sua entrada na guerra. Da mesma forma, Inglaterra e França também fecharam seus portos, enquanto celebravam com Hitler o acordo de Munich que proporcionou “seguir vivendo tranquilos e felizes”, como declarou o primeiro ministro britânico Chamberlain. Uma “brincadeira” criminosa com os judeus que desde 1933 haviam sido despojados de sua cidadania alemã pela primeiras “raciais” de Nuremberg, ascendendo em 1938 ao pogrom da Kristallnacht, quando as tropas de assalto e ao bandos nazistas produziram mais de 100 assassinatos, destruíram milhares de casas, negócios e templos, e deportaram compulsivamente mais de 30.000 judeus aos campos de concentração de Dachau, Buchenwald e Sachsenhausen. França proibiu a entrada de judeus para evitar que aparecessem “outros Herschel Grynszpan”, o jovem judeu polaco de 17 anos que matou, em Paris, o funcionário nazista Von Rath em vingança pela deportação de seus pais e de dezenas de milhares de judeus polacos. Grynszpan foi defendido tenazmente por Trotsky e a Quarta Internacional, por mais que não compartilhasse do método de terrorismo individual, contra as calúnias da burocracia soviética e do PC francês, que o insultavam como “agente dos nazistas”.

Paradoxalmente, um mês antes do atentado, Stalin firmou um acordo de colaboração com Hitler, encarnado no pacto Ribbentrop-Molotov, mediante o qual Alemanha e União Soviética anexavam e repartiam a Polônia, enquanto Stalin desarmava os soldados judeu polacos para deter-los em campos de prisioneiros (Mark Dworzecki, História da resistência antinazi judia. Biblioteca Popular Judia do Congresso Judeu Mundial). Foram estes elementos que terminaram de convencer os nazistas em 1942 para avançar decididamente para “a solução final da questão judia”, com a perspectiva de eliminar os 11 milhões de judeus que viviam na Europa.

A ironia da história é que as mesmas potências “democráticas” que livraram o destino dos judeus da arbitrariedade da bestialidade nazista, foram as que se valeram dos padecimentos inauditos desse povo oprimido para transformar-lo em um povo opressor mediante o estabelecimento do Estado de Israel, um Estado racista e colonialista apoiado sobre a expropriação e limpeza étnica do povo palestino.

Um Estado financiado pelo imperialismo baseado em um exército de ocupação permanente para manter uma guerra perpétua com os povos árabes do Oriente Médio. Por isso a memória de Auschwitz vive em todos os povos oprimidos, e particularmente na resistência do povo palestino e seu legítimo direito à autodeterminação nacional.

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