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POESIA | Alice Sant’anna, uma nova poeta

Com 28 anos e tendo lançado seu ultimo livro, “Rabo de Baleia” com 24 anos Alice Sant’anna desponta como uma das mais novas e talentosas poetas brasileiras.

Gabriela FarrabrásSão Paulo | @gabriela_eagle

segunda-feira 20 de junho de 2016 | Edição do dia

“Poeta! Poetisa é imperatriz, como disse a Ana Cristina Cesar”, é assim que Alice Sant’anna se identifica. Nascida em 1988 no Rio de Janeiro, começou a escrever poesia aos 16 anos após conhecer Ana Cristina Cesar. Formada em jornalismo, pós-graduação em letras, hoje escreve para a revista Serrote.

Os poemas da época que começou a escrever aos 16 anos aparecem em seu primeiro livro “Dobradura”, que lançou em 2008, aos 20 anos pela editora 7 letras. Além dos poemas da primeira adolescência todos os outros poemas foram escritos nas viagens diárias que fazia de ônibus de casa para o estágio. Alice é avessa a ideia de sentar com tempo para escrever, com ela os poemas sempre irromperam em momentos como viagens de ônibus, conversas, aulas, reuniões, sem aviso prévio.

O seu primeiro livro foi quase unanimidade entre a crítica e os leitores, chegou a ser eleito o livro do ano pelo jornal do Brasil e já apontava que ela seria um grande nome para a nova poesia brasileira.

Seu segundo livro, “Rabo de baleia”, lançado aos 24 anos já aponta para uma maior maturidade, que ela nega, mas que Heloisa Buarque de Hollanda afirma na orelha do livro:

“Em 2006, li pela primeira vez os poemas de Alice, ainda inéditos, e senti que estava diante de uma protagonista da nova poesia. Foi quando a inclui na exposição Blooks, de 2007. Não apenas por coincidência, o lançamento de Dobradura, seu primeiro livro, foi um surpreendente consenso entre leitores e críticos. E agora me descubro escrevendo com uma grande alegria a orelha para um livro já definitivo que exibe com maturidade seu enorme talento e mestria poética”

Para quem lê “Rabo de baleia” é impossível apontar os poemas que se sobressaem, tudo nessa obra é bom e bem pensado pra se estar ali.

O livro que começou a ser gestado em 2009 depois de Alice voltar de uma viagem à França, era para ser um livro de viagens, França, Nova Zelândia, qualquer lugar que não fosse sua casa, era um livro sobre se sentir estrangeiro. Mas se tornou uma obra para além disso, como diz a própria autora: “os poemas não são apenas estrangeiros porque falam da Nova Zelândia ou da França, são estrangeiros até na própria casa. Acho que sem essa sensação de estranheza, esse incômodo de não fazer parte 100%, não sobraria nenhum assunto para a poesia.”

É sobre isso, sobre não se sentir parte integrante, mas muito mais, é sobre a solidão a que leva esse sentir-se completamente fora de tudo também. Mas essa obra não é sobre determinado tema, é sobre viagens, solidão, silêncios, tédios, diálogos.... Como disse a poeta uma vez em uma entrevista; sua obra, seus poemas são sobre “algo que aparece de repente, que irrompe a superfície d’água. Seria o elemento surpresa, próprio da poesia”

Alice Sant’anna é uma ótima e grata surpresa para a nova poesia brasileira, e é incrivelmente prazeroso ver o espaço que as mulheres vem conquistando nessa nova cena. Poeta para se ler em voz baixa, se deliciando e com a respiração pesada após cada poema. Procure conhecer!

um enorme rabo de baleia

cruzaria a sala nesse momento
sem barulho algum o bicho
afundaria nas tábuas corridas
e sumiria sem que percebêssemos
no sofá a falta de assunto
o que eu queria mas não te conto
era abraçar a baleia mergulhar com ela
sinto um tédio pavoroso desses dias
de água parada acumulando mosquito
apesar da agitação dos dias
da exaustão dos dias
o corpo que chega exausto em casa
com a mão esticada em busca
de um copo d’água
a urgência de seguir para uma terça
ou quarta boia e a vontade
é de abraçar um enorme
rabo de baleia seguir com ela


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Poesia    Cultura



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