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BLACK LIVES MATTER | A violência deles e a nossa

Políticos capitalistas de todos os tipos estão condenando a “violência”. Mas eles nunca falam nada sobre a violência diária cometida pela polícia. Na verdade, estão condenando a resistência contra a violência estatal.

domingo 31 de maio de 2020 | Edição do dia

A sociedade burguesa tem uma maneira muito cômica de falar sobre violência. A consequência do assassinato policial de George Floyd, enquanto milhares foram às ruas para demonstrar sua raiva e exigir justiça, a imprensa burguesa publicava artigos com manchetes como esta: “Violência entra em erupção em Minneapolis após morte de homem negro sob custódia policial”.

Mas que formulação estranha! Não apenas essa manchete oculta como essa “morte” aconteceu. Aparentemente, não é “violência” se um funcionário do Estado sufoca um homem contido até a morte. Não, a “violência” começa apenas depois disso.

Este viés sublinha a maneira que a sociedade burguesa opera. Um homem negro sendo assassinado pelo Estado é somente um dia comum; mas pessoas pegando coisas de uma loja sem pagar é a catástrofe. Pessoas são descartáveis; já a propriedade é sagrada.

De fato, a sociedade capitalista trata todos os tipos de violência sistema como algo tão natural que mal merece o termo. Um assassinato policial em plena luz do dia pode, se houverem protestos suficientes,ser condenado como “força excessiva”. Mas e quando a polícia segue todas as regras e regulamentos? Quando eles despejam uma família de sua de sua casa, por exemplo - isso não é violência? E sobre lojas impedindo pessoas famintas de terem acesso à comida? E sobre o governo que permite que 100,000 pessoas morram de uma pandemia? Isso não é violência?

O poeta comunista alemão Bertolt Brecht coloca isso sucintamente: “Há diversas maneiras de matar. Eles podem apunhalar uma faca em suas entranhas, tirar seu pão, decidir não curá-lo de uma doença, colocá-lo em uma casa miserável, torturá-lo até morrer com trabalho, levá-lo à guerra, etc. Apenas algumas dessas maneiras são proibidas em nosso Estado”.

Em resposta aos protestos, os políticos burgueses estão falando contra a violência. Mas claro que eles não estão dizendo sobre a violência cometida diariamente pela polícia. Eles não estão se referindo aos massacres cometidos pelos militares dos Estados Unidos ou ao estrago econômico causado pelas empresas americanas. Não, sua principal preocupação, quase inevitável, são os danos à propriedade.

A Deputada por Minneapolis na Câmara dos Representantes dos EUA, a democrata progressista Ilhan Omar, por exemplo, tweetou na quinta-feira: “Nós podemos e devemos protestar pacificamente. Mas vamos terminar o ciclo de violência agora”. O prefeito democrata de Atlanta, Keisha Lance Bottoms disse: “Este não é o espírito de Martin Luther King Jr.”

Mas qual foi o espírito de Martin Luther King Jr.? Ele não era um socialista, mas entendia que os povos oprimidos deveriam enfrentar a opressão que sofriam. Por isso, ele era condenado pelos Poderes por sua suposta”violência”. Em 12 de Abril de 1963, um grupo de oito clérigos pediram para King cancelar manifestações planejadas pelos direitos civis no Alabama. Eles chamaram as manifestações de “imprudentes e intempestivas” porque “incitam ao ódio e violência, por mais que tecnicamente pacíficas que sejam estas ações”. Eles denunciaram as mobilizações como “medidas extremas” e propuseram que os negros “obedecessem pacificamente” enquanto confiavam nos tribunais.

King, é claro, não seguiu este conselho. Ele defendeu os protestos como “a linguagem dos que não são ouvidos” e continuou a denunciar a violência terrível do governo dos EUA no Vietnã. Foi apenas depois de seu assassinato que King foi transformado em um ícone inofensivo - uma figura angelical que supostamente pregou nada além da resistência passiva.

Democratas progressistas como Omar não estão pedindo paz, estão pedindo às pessoas pacificamente obedecer o sistema que as está matando. Omar deseja que o governo federal dos Estados Unidos seja quem investigue os assassinatos policiais. No entanto, décadas de “reformas” policiais apenas mostraram que essa instituição não pode ser reformada. O Departamento de Polícia de Minneapolis é chefiado por um policial negro que uma vez processou o departamento por suas práticas racistas. E ainda: a polícia capitalista, mesmo com a liderança mais iluminada, não poder ter outra função além de proteger a propriedade capitalista. Isso significa oprimir os setores mais pobres da classe trabalhadora, especialmente o povo negro.

Como socialistas, nós condenamos a violência - condenamos a violência que o sistema capitalista comete contra bilhões de pessoas todos os dias. Nós não condenamos ela quando a classe trabalhadora e povo pobre começam a defender-se contra a violência do sistema.

Uma revolta serve para chamar atenção da classe dominante. Ela até pode forçar eles a fazer concessões. Mas uma revolta não pode acabar com o sistema de opressão e exploração. Para isso, nós precisamos combinar a raiva nas ruas de Minneapolis com uma organização socialista. Os políticos do Partido Democrata (até aqueles que se chamam de “socialistas”) vão sempre suplicar para o povo aceitar as instituições que as oprime. Socialistas reais, ao contrário, querem construir organizações que são independentes da classe dominante, seu estado, e todos os seus partidos.

Uma pequena minoria de capitalistas exploram o trabalho de uma imensa maioria de pessoas. Para manter seu domínio, eles mantém um enorme aparato repressivo, incluindo a polícia, prisões, exércitos, juízes, etc. - esse é o seu Estado. Os capitalistas estão levando toda a nossa civilização a uma catástrofe. Mas eles nunca vão renunciar o poder voluntariamente. Através da história, nenhuma classe dominante abdicou do poder sem ser derrubada. Como Marx escreveu, “a violência é a parteira de toda a sociedade velha que está grávida de uma sociedade nova”. Esse é o motivo pelo qual a classe trabalhadora precisa confrontar os corpos capitalistas de homens armados.

Quando a classe trabalhadora coloca fogo em uma delegacia policial, a mídia capitalista chamará de “violência” - mesmo que se trate de nada mais além de auto-defesa contra a violência diária perpetuada pelo capitalismo. Nós devemos nos livrar do Estado capitalista, e substituí-lo por uma sociedade dirigida pela própria classe trabalhadora. Essa é a essência da revolução socialista. E os incêndios nas ruas de Minneapolis mostram que a profunda crise do capitalismo está empurrando a sociedade norte-americana um pouco mais perto deste fim.




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