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TRAGÉDIA NO MEDITERRÂNEO | A tragédia dos imigrantes: a vergonha da Europa

Depois que aproximadamente 1.300 imigrantes perderam suas vidas em três tragédias diferentes, em menos de duas semanas, a umas poucas milhas dos confins meridionais da Europa, aumentou a pressão sobre a União Europeia e seus estados membros para que elaborassem novas medidas destinadas a impedir o que ficou conhecido como “A vergonha da Europa”.

Alejandra RíosLondres | @ale_jericho

segunda-feira 20 de abril de 2015 | 16:30

É por isto que a crise humanitária aberta dominou a agenda da reunião conjunta dos ministros de Assuntos Exteriores e Imigração do dia de segunda-feira (20), convocada especialmente para tratar a tragédia migratória no Mediterrâneo.

A Comissão Europeia (CE) apresentou um plano composto por dez propostas para combater o drama migratório; entre as mesmas inclui-se o aumento da verba da operação Tritão de vigilância marítima no Mediterrâneo e aumentar os esforços para destruir as barcas empregadas pelas quadrilhas para transportar migrantes.

Este plano inicial, que conta com o visto dos titulares de Exteriores e dO Interior, propõe "medidas de ação imediata" que serão apresentadas aos líderes da União Europeia (UE) na cúpula extraordinária sobre a imigração no Mediterrâneo que se celebrará nesta quinta-feira e que foi convocada pelo presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk. Ali fecharão os detalhes das medidas aprovadas rapidamente na reunião de ministros desta segunda e sua posterior implementação.

Assim mesmo, foi proposto ampliar a área operativa do resgate para poder intervir a maior distância, sob o mandato da Agência de Controle de Fronteiras Exteriores da União Europeia (Frontex).

Ao mesmo tempo, segundo o comissário europeu de Imigração, Dimitris Avramopoulos, o executivo decidiu implementar "um esforço sistemático para capturar e destruir os barcos utilizados pelos traficantes", proposta que se materializaria sob a forma de uma operação "civil e militar que tomaria como exemplo a operação Atalanta" contra a pirataria.

Por outro lado, a CE defende que a Oficina Europeia de Polícia (Europol), Frontex, a Oficina Europeia de Apoio ao Asilo (EASO) e a Agência de Cooperação Judicial (Eurojust) "se reunam regularmente e trabalhem juntas" para reunir informação sobre o "modus operandi" dos traficantes, a fim de monitorar suas reservas e ajudar nas investigações.

Também se propõe estabelecer um novo programa de retorno para o rápido regresso a seus países dos imigrantes irregulares, gerido pela agência Frontex a partir dos Estados membros que contam com fronteiras externas. Outra medida estipula que a EASO invista recursos na Itália e na Grécia para gerir de maneira coordenada as solicitações de asilo e que os Estados membros da UE garantizem a coleta de impressões digitais de todos os imigrantes.

No entanto, é provável que na reunião de quinta-feira surjam rusgas ante as responsabilidades e viabilidade dos caminhos propostos, em particular o ponto de acolhida voluntária dos imigrantes que conseguiram chegar ao território europeu. Os 28 estados-membro da UE chamaram a “cooperar de maneira mais próxima” com seus vizinhos na Líbia, Egito, Tunísia, em uma tentativa de fechar as rotas migratórias. No entanto, altas figuras políticas e funcionários da comunidade assinalaram que seria uma missão muito difícil e expressaram seu ceticismo sobre a possibilidade de perseguir os traficantes.

No que diz respeito à Líbia, o plano exige um compromisso com os países vizinhos mediante um esforço comum entre a Comissão Europeia e o Serviço Europeu de Ação Exterior. Por último, estipula o envio de oficiais de imigração a países terceiros considerados "chave" para conseguir informação sobre os fluxos migratórios e reforçar o papel das delegações europeias.

Em um comunicado conjunto da chefe da diplomacia comunitária, Federica Mogherini, e o comissário Avramopoulos, assinalam: "Temos que demonstrar o mesmo sentido europeu de urgência que demonstramos ao reagir em tempos de crise".

Enquanto os devastadores dados revelam que no que passou de 2015 a quantidade de vítimas fatais nas tragédias migratórias aumentou 50 vezes com respeito ao mesmo período de 2014, os governos, mediante suas agências da União Europeia, se limitam a adotar medidas de controle dos imigrantes e aumentar os recursos de patrulha.

Quantos negros africanos têm que morrer? 6.000 em um ano, não são suficientes? A vida dos migrantes africanos não vale nada para os governos europeus. Os representantes governamentais da UE derramam lágrimas de crocodilos frente à tragédia, chamam a evitar a indiferença e a "não olhar para outro lado". Apontam como responsáveis das tragédias os traficantes que lucram com os imigrantes que, em alguns casos, chegam a pagar 10 mil libras (14 mil euros) ou mais para arriscar suas vidas nestes “barcos da morte”.

Não há nenhuma dúvida da responsabilidade que cabe às máfias, no entanto, a questão não começa e termina aí: a fortaleza europeia e as políticas (anti)migratórias geram as condições favoráveis para a emergência destas quadrilhas. Em um mecanismo perverso, as grandes potências exploram o continente africano e geram guerras obrigando milhares a uma vida de miséria e êxodo, enquanto fortalecem a defesa europeia e impedem a entrada dos que fogem da morte, das perseguições e da fome.

Por outro lado, estes desastres colocam o tema da imigração sobre a mesa em vários países europeus. Por um lado, o partido vertebrado ao redor de uma política anti-imigrante e de corte xenófobo, como o UKIP na Inglaterra, utiliza as catástrofes dos migrantes para fortalecer seu discurso: ser mais duros em matéria imigratória. Estes acidentes ocorrem porque não há fechamento das fronteiras, justificam cinicamente. Por sua vez, para os Autênticos Finlandeses, uma formação ultranacionalista, eurofóbica e populista, que parece ter obtido 17,6% no resultado provisório das eleições de domingo e com possibilidades de entrar no novo governo de Helsinki, o problema se resolveria também de uma maneira “simples”: construindo cercas.

As políticas xenófobas da UE só agravam a crise, condenando à morte a milhares de imigrantes nessa fossa comum chamada Mediterrâneo.




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