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Chuvas em Recife | A tragédia anunciada das chuvas no Grande Recife

Na última semana vimos a catástrofe com as chuvas no Grande Recife, que deixaram mais de 100 mortes e milhares de desabrigados. O governador Paulo Câmara (PSB) e prefeitos como João Campos (PSB) e outros tentam se colocar de forma solidária, mas na verdade, são responsáveis pela tragédia.

segunda-feira 6 de junho de 2022 | Edição do dia

Com lágrimas de crocodilo, o governador Paulo Câmara e o prefeito de Recife João Campos, ambos do PSB, lamentaram o ocorrido. Também seguiram prefeitos como Lupércio (Solidariedade) de Olinda e o bolsonarista Anderson Ferreira (PL), de Jaboatão.

Com essas lágrimas, lamentam que foram as maiores chuvas na região metropolitana em décadas. Se de fato o volume de chuvas foi muito elevado, tampouco podemos dizer que foi uma “surpresa”. Todo ano, nessa época do ano, ocorrem chuvas intensas que causam alagamentos e deslizamentos, deixando mortos e desabrigados. Por exemplo, entre 1993 e 1996 foram registrados 757 deslizamentos na Grande Recife. Além disso, já foi apontado pela ONU que Recife é uma das grandes cidades do mundo que mais será afetada pelas mudanças climáticas

Botar a culpa na natureza é fácil, mas é gritante o aspecto social. A região que concentra o maior número de mortos nessas enchentes é o Ibura, que é o menor IDH da cidade. Contrasta com o bairro vizinho de Boa Viagem, que contabiliza 0 mortos nas enchentes.

No entanto, como foi estampado nas paredes das cidades, ninguém mora em barreira por que acha bonito.

Segundo dados oficiais da prefeitura, o déficit habitacional é de 71mil moradias. Em 2017, com um número menor de moradias, isso representava 280 mil famílias, mais de 17% da população da cidade. Isso faz com que a cidade tenha, proporcionalmente, um dos maiores déficits habitacionais do país. Com isso, proliferam-se ocupações pela cidade, de modo que até os meios de comunicação burgueses a classificam como “cidade das ocupações”.

Isso não é à toa. A especulação imobiliária é um dos principais ramos econômicos e que há décadas vem em pleno avanço, construindo torres de luxo como as que mora Sarí Cortes Real, assassina de Miguel. Ao mesmo tempo, a população mais pobre seja empurrada para as beiras de rio ou para as encostas de morro. Com isso, se proliferam cenas como, na zona norte, prédios de luxo ao lado de moradias precárias nos morros. Ou de palafitas ao lado de prédios similares, como as que pegaram fogo há 1 mês atrás no Pina.

Palafitas pegando fogo no Pina, bairro com aluguel mais caro do Recife

Essa cidade entregue à especulação imobiliária foi garantida pelas diferentes gestões municipais e estaduais que estiveram à frente de Pernambuco e das cidades do Grande Recife nas últimas décadas. Gestões que vão desde partidos herdeiros da ditadura, como a prefeitura de Roberto Magalhães, do PFL, passando pelo governo estadual de Miguel Arraes, seguido pelos seu sucessor Eduardo Campos com todo o legado oligárquico do PSB que está à frente do estado até hoje e até mesmo as gestões municipais petistas de João Paulo e João da Costa.

Ver também: Recife: a “cidade das ocupações” e a necessidade de uma reforma urbana radical

Agora, após entregar a cidade para a especulação imobiliária, o governador Paulo Câmara e o prefeito João Campos prometem indenizações que são totalmente insuficientes. O primeiro anunciou uma indenização de 1500 reais e o segundo de 1000 reais, ambas em parcela única. Já o prefeito de Olinda, Lupércio, anunciou uma indenização de 1200 reais dividida em 3 parcelas. No caso dos dependentes dos mortos na tragédia, será dada uma pensão vitalícia de 1 salário pelo governo do estado. Tais valores, são totalmente insuficientes para quem perdeu tudo.

Para além de tornarem a Grande Recife um parquinho da especulação imobiliária, as gestões atuais e antigas ainda não tiveram nenhuma política para impedir a tragédias. Desde 2002, quando começaram a ser contabilizados, os governos municipais do PSB foram os governos que menos investiram na prevenção de tragédias em morros. Além disso, a prefeitura de Geraldo Júlio (PSB) colocou como secretário-executivo da Defesa Civil Cássio Sinomar, que é investigado por desvio de verba para atingidos por enchentes.

No entanto, apesar da terra arrasada que é a gestão do PSB, as gestões anteriores também compartilham sua responsabilidade. As limitadas obras de escoamento e contenção de encostas que havia na década de 70, foram sendo substituídas por lonas e até mesmo isso é difícil de conseguir por agora. Caso emblemático é de uma mulher morta em Camaragibe, que, após sentir que a encosta que morava estava cedendo após as chuvas na quarta-feira (25/5), fez um pedido para a Defesa Civil para que se colocasse uma lona. A Defesa Civil não atendeu o pedido e com as chuvas no sábado (28/5), a barreira cedeu e ela acabou morrendo. Enquanto isso, as obras do PAC na cidade, estimadas em 120 milhões de reais, estão atrasadas e o governo Bolsonaro vem segurando o recurso para essas obras. Cabe dizer que tais ações são apenas paliativos, visto que não resolvem o problema da moradia e esses escoamentos acabam por gerar mais alagamentos nas áreas mais baixas.

Por outro lado, o PSB também foi recordista em não entregar moradias populares. No entanto, tampouco as antigas gestões resolveram esse problema. Basta ver, que os moradores de Jardim Monte Verde, onde ocorreu os piores deslizamentos, estão há 22 anos esperando conjuntos habitacionais. Além disso, muitos dos conjuntos habitacionais entregues contam com uma série de problemas estruturais e faltas de manutenção. Ao mesmo tempo que as grandes construtoras se apropriam dos recursos públicos, entregam obras de péssima qualidade. Como resultado, ano passado, um incêndio no conjunto do Cordeiro levou a morte de 3 pessoas da mesma família. Enquanto isso, são inúmeros imóveis vazios nas mãos da especulação imobiliária. Segundo dados de 2010, são 43 mil imóveis particulares desocupados na cidade

Por isso se faz necessário avançar em algo que nenhuma das gestões anteriores fez: uma reforma urbana radical. Uma reforma urbana radical que exproprie os imóveis vazios, entregando às famílias em condição de moradia precária, de acordo com suas necessidades. Junto a isso, um grande plano de obras públicas controlado pelos trabalhadores, que construa as milhares de moradias necessárias. Que sejam de moradias de qualidade e não em locais afastados menos visados pela especulação imobiliárias e sim perto dos seus locais de trabalho e de lazer. No entanto, para fazer tudo isso, será necessário se enfrentar com os lucros da especulação imobiliária, dos donos de imóveis e das grandes imobiliárias que mandam nas cidade, algo que nenhum governo ousou fazer. É nessa perspectiva que nós do MRT e do Esquerda Diário nos engajamos.




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