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MÍDIA GOLPISTA | A torre de marfim da mídia golpista (resposta ao editorial da Folha)

O editorial de hoje da Folha de S. Paulo, intitulado “Greve na torre de marfim”, vem, como de costume quando há greve em defesa da universidade pública, requentar o discurso de que os que estão em luta são privilegiados em defesa de seus próprios interesses, sem considerar a realidade do país.

Diana AssunçãoSão Paulo | @dianaassuncaoED

quinta-feira 26 de maio de 2016 | Edição do dia

Foi esta mesma Folha de São Paulo que defendeu o golpe institucional, supostamente pela preservação de empregos e salários, que agora, abertamente, toma a defesa do programa de ataques do golpista Temer: arrocho salarial e privatização. No auge de seu cinismo, chega a dizer que os trabalhadores da USP consideram possuir “um direito divino à reposição plena da taxa de inflação”. Pois é: para a Folha, não se deve ter como direito garantido que os trabalhadores possam comer, pagar aluguel, transporte, enfim, não ter seus salários corroídos pela inflação. O reajuste apresentado pelos reitores, de 3%, significaria um arrocho salarial de 7%. Para a Folha, o “direito divino” é dos patrões lucrarem, despejando suas crises sobre nossas costas.

Outro direito que para a Folha não é nada “divino” e que, em coro com o novo ministro da educação, Mendonça Filho, o jornal propõe aniquilar, é o direito à educação pública. Se nós colocamos na linha de frente das reivindicações de nossa greve a implementação de cotas, e nosso sindicato defende o fim do vestibular, para tornar o direito à educação de fato universal, os golpistas e sua mídia propõem o sentido oposto: a cobrança de mensalidades. Como se o vestibular já não fosse um filtro social suficiente, querem não só a privatização da universidade pública, como também de todo o resto. Proposta, aliás, que eles retomam a cada nova greve: sempre que saímos em luta pela manutenção do caráter público da universidade, eles propõem vendê-la de vez à iniciativa privada.

Se fosse apenas contra o arrocho, seria uma greve justa e legítima. Contudo, o que a Folha “esquece” de citar, é que a nossa mobilização é contra os ataques ao nosso sindicato, com uma medida ditatorial que quer simplesmente arrancar a sede do Sintusp do lugar onde ela está há meio século, com uma simples canetada dos burocratas que se consideram donos da universidade. Da mesma forma, querem com suas canetadas desvincular o Hospital Universitário do campus Butantã e o HRAC, mais conhecido como “centrinho”, hospital de Bauru, da universidade, passando-os para as mãos das Organizações Sociais de Saúde (OSS), ou seja, privatizando-os, abrindo caminho para seu desmonte (que já está em curso, como se pode ler aqui). Também procuram mudar o regime de contratação de professores, precarizando seu trabalho e desvinculando ensino e pesquisa. Negam-se, com argumentos racistas, a implementar as cotas raciais que já são uma realidade em todas as universidades federais, algo mínimo no sentido de uma democratização do acesso que só pode se dar até o final com o fim do vestibular.

Apesar da Folha “lembrar” de dizer que a greve foi declarada três dias antes da negociação salarial, eles “esquecem” de dizer que foram esses os motivos, deixando claro que a luta é em primeiro lugar contra o desmonte da universidade e a perseguição ao Sintusp. Eles “esquecem” de dizer isso porque, como afirmaram em seu editorial de 22 de maio, defendem “uma nova disciplina no serviço público”; é a disciplina de arrochos e privatizações, como querem os donos do capital.

Nessa luta contra os ataques à educação pública, estamos juntos não somente com os funcionários da Unicamp e da Unesp, e com os docentes, mas também com outro ausente no editorial da Folha de São Paulo: o movimento estudantil. Estamos frente a uma das maiores mobilizações estudantis das estaduais paulistas em muitos anos, somando forças aos jovens secundaristas e universitários que estão na linha de frente das lutas em todo o país. A Folha oculta estes atores porque sabe bem dessa força que estão demonstrando e da potencialidade dessa aliança que está se forjando nessa luta.

Da torre de marfim onde se encastelaram os ricos donos da Folha de S. Paulo, escrevendo seus editoriais sem conhecer a vida de um trabalhador, eles não podem ver como vive uma trabalhadora do bandejão a quem eles chamam de privilegiadas: sobrecarregada de trabalho, com doenças ocupacionais devido à falta de contratações, sofrendo assédio moral das chefias; eles não veem como vive um trabalhador terceirizado, que tem de viver com cerca de 800 reais por mês, recorrentemente tem direitos trabalhistas elementares desrespeitados (esses mesmos que o governo Temer quer extinguir), e que é esse regime de trabalho que a reitoria e os governos querem ampliar na USP (além do ministro do trabalho ter declarado querer regulamentar em todos os postos de trabalho). Eles não veem as macas amontoadas nos corredores do Hospital Universitário por falta de leitos e de contratações. Nem todos os milhares de jovens negros, indígenas, filhos de trabalhadores que a cada ano ficam de fora da universidade que eles também sustentam com seu ICMS, porque há uma catraca chamada vestibular a impedir seu ingresso. Ou as mães estudantes e trabalhadoras cujas vagas nas creches estão sendo extintas por essa reitoria, o que lhes ameaça o direito de permanecer na universidade. Ou as aulas lotadas, as disciplinas que não são oferecidas porque a reitoria não repõe os professores que falecem ou se aposentam. Lá do alto da torre de marfim dos golpistas e seus amigos esses problemas são invisíveis.

A nossa luta é para derrubar a torre de marfim que é a USP, para torná-la uma universidade efetivamente pública, democrática, a serviço dos trabalhadores e da população pobre. E derrubar também as torres de marfim de onde os golpistas e seus parceiros da mídia querem nos atacar e, por trás de sua demagogia, manter os privilégios de que hoje desfrutam.




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