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CORONAVÍRUS | A terrível realidade dos trabalhadores da JBS vítimas da COVID-19 em Passo Fundo

Em 24 de abril de 2020, em meio à pandemia do novo coronavírus que preocupa o mundo mais um surto localizado da doença é revelado. Os atingidos pelo surto foram os funcionários de um frigorífico pertencente à JBS, na cidade de Passo Fundo, localizada no interior do Rio Grande do Sul.

domingo 26 de abril de 2020 | Edição do dia

Em 24 de abril de 2020, em meio à pandemia do novo coronavírus que preocupa o mundo mais um surto localizado da doença é revelado. É provável que a maioria de quem leia essa frase pense que o local em questão foi o centro de uma grande cidade, com todas as pessoas que transitam nesses lugares mas que possam talvez não ter realizado a profilaxia adequada. No entanto, a realidade é bem diferente, muito longe das pessoas que se dão o irresponsável luxo de sair pelas ruas sem os cuidados necessários nos grandes centros, os atingidos pelo surto foram os funcionários de um frigorífico pertencente à JBS, na cidade de Passo Fundo, localizada no interior do Rio Grande do Sul.

Cerca de 20 dos 2600 empregados positivaram para o vírus de acordo com o Ministério Público do Trabalho, o fato chegou a ser noticiado internacionalmente. Mais tarde, o UOL citou declaração do Conselho Municipal de Saúde na qual há a declaração de que 78 funcionários da empresa foram afastados por sintomas gripais. A empresa foi interditada após a descoberta dos casos.

O Ministério Público do Trabalho no último sábado ajuizou uma ação civil pública contra a JBS, sob a alegação de que a empresa não estaria seguindo as normas da vigilância sanitária para o combate do novo coronavírus. A empresa, segundo procuradores, recusou assinar um Termo de Ajuste de Conduta e, diante das denúncias, pronunciou-se afirmando não ter violado as diretrizes de saúde no frigorífico, os números dos casos e imagens realizadas pelos próprios trabalhadores da empresa, entretanto, colaboram com a versão do MPT.

Passo Fundo é uma cidade do interior do Rio Grande do Sul, com cerca de 200 mil habitantes, é distante aproximadamente 280 km da capital gaúcha, Porto Alegre e recentemente, tornou-se também a segunda cidade do estado com maior número de ocorrências da COVID-19 e de óbitos decorrentes da doença, atrás apenas de Porto Alegre.

Apesar da notícia do surto no frigorífico, o prefeito de Porto Alegre, em decreto assinado também no dia 24 de abril, liberou o retorno das atividades do setor industrial mesmo que a flexibilização do isolamento social esteja fortemente ligada com a evolução da pandemia.

As mazelas dos trabalhadores de frigoríficos

Os trabalhadores de frigoríficos são vítimas fáceis de doenças, trabalhando próximos uns aos outros em serviços exaustivos. Além disso, não é incomum que ocorram Lesões por Esforço Repetitivo (LER) nas indústrias. Um estudo do programa de pós-graduação da UFRGS, referindo-se aos trabalhadores que tem visíveis problemas decorrentes da monotonia do trabalho fabril em seus braços, teve como resposta mais frequente à pergunta “você já mostrou seu braço a algum médico?” a seguinte: não, porque não posso pegar atestado. Isso demonstra a classe social a que pertencem esses trabalhadores que temem a perda de seus empregos, dos quais dependem para sobreviver, mesmo que isso signifique a perda da saúde.

O mesmo estudo identificou que o esforço que resulta nas LER é decorrente da falta de fio das facas utilizadas pelas indústrias, as quais são consideradas muito ruins pelos funcionários, demonstrando um completo descaso pelo setor fabril com seus empregados.

Além disso, o adoecimento mental, conforme demonstrado em estudo realizado por um doutorando da Unesp (veja o artigo aqui em PDF, é comum entre os funcionários, o seguinte relato de um ex-funcionário da empresa Sadia foi incluído no documento:

“Tem uns outros (trabalhadores) com esquizofrenia por causa da pressão que a Sadia para aumentar a produção para atingir a exportação o cara ficou querendo se suicidar trabalhou dez anos e aí já tá uns dez anos afastado pra tratamento de esquizofrenia.”

Essa condição provavelmente é resultado da intensificação do trabalho, dos ritmos elevados, da repetitividade e da monotonia do trabalho desempenhado, como consta no estudo.

Outro ponto a ser considerado é que além de trabalhadores nacionalizados brasileiros, há também os estrangeiros que muito frequentemente trabalham em fábricas, esses imigrantes são em sua grande parcela refugiados que apesar de terem formação universitária encontram dificuldades para encontrar empregos. Esses trabalhadores em 95% dos municípios nos quais residem não têm nenhum apoio recebido. Esses fatos lembram o texto Os Náufragos, de Eduardo Galeano, publicado em sua obra O Caçador de Histórias:

O Mundo Viaja.
Carrega mais náufragos do que navegantes.
Em cada viagem, milhares de desesperados morrem sem completar a travessia ao prometido paraíso onde até os pobres são ricos e todos moram em Hollywood.
Não duram muito as ilusões dos poucos que conseguem chegar.

Esses dados demonstram o quanto as grandes empresas não se preocupam com o bem-estar e a saúde de seus funcionários, os quais estão suscetíveis diversas enfermidades, tanto físicas quanto mentais e submetem-se a deploráveis condições de trabalho para que possam conseguir o mínimo para viver pois para alguns, trabalhar pode ser algo prazeroso e uma garantia de ascensão social, para outros, significa obrigação, estresse e a luta contra a miséria de todos os dias.




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