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Revelações dos papeis de Panamá deixam mal o primeiro ministro britânico David Cameron. O chefe de estado concorda em ter se beneficiado de investimentos em paraísos fiscais.

Alejandra RíosLondres | @ale_jericho

quarta-feira 13 de abril de 2016 | Edição do dia

Tem sido uma semana agitada para o primeiro ministro. Na segunda, 04 de Abril, os chamados papeis de Panamá implicaram indiretamente Cameron no escândalo fiscal, pela possível posse de ações em um fundo de inversão em um paraíso fiscal criado por seu pai, semeando dúvidas sobre a origem de seu patrimônio familiar. Nem bem saíram a luz essas revelações, um porta-voz de Downing Street declarou a fontes jornalisticas a cargo da investigação que se tratava de um "assunto privado".

Porém as coisas não acabaram ali. Durante a semana, a pressão sobre o chefe de governo foi aumentando. Segundo jornalistas do The Guardian e da BBC, Ian Cameron, o falecido progenitor do primeiro ministro, participou dos serviços da empresa Mossack Fonseca para blindar a empresa Blairmore Holding da propriedade britânica. Vale lembrar que Ian Cameron foi um dos cinco diretores de Blairmore baseados no Reino Unido até pouco antes de sua morte em 2010.

O The Guardian londrino da manhã, revelou a documentação filtrada que Cameron pai enganou o pagamento de impostos no Reino Unido mediante a contratação de um "pequeno exército de residentes nas Bahamas, incluindo um bispo a tempo parcial, para firmar os documentos", permitindo a empresa funcionar em um paraíso fiscal.

O incômodo dos primeiros dias foi se transformando em um escândalo político. Depois de negar-se a comentar sobre as acusações porque se tratava de um "assunto privado", Cameron se viu obrigado a fazer outra declaração oficial que dizia: "minha família não se beneficiará no futuro dos investimentos nos paraísos fiscais". O uso do tempo futuro levantou suspeitas. Ao final, em seguida de contraditórias declarações oficiais, David Cameron terminou por admitir que havia se beneficiado do fundo dirigido pelo seu pai.

Deputados da oposição culpam o primeiro ministro de trair a confiança do público e tem quem pediu publicamente a sua renúncia.

Por outro lado, Cameron enfrenta uma luta interna dentro do seu próprio partido divido em uma disputa aguda em torno da filiação ou não da Grã Bretanha a União Europeia, cujo resultado poderia colocar em perigo seu futuro como primeiro ministro.

Para dizer com outras palavras, o que Cameron menos necessita é um escândalo fiscal desta magnitude a dois meses do referendo. Um Cameron abatido declarou diante de uma reunião de seguidores partidários, no sábado 09 de Abril: "Esta não tem sido uma grande semana. Sei que há lições para aprender e as aprenderei". Além disso, Cameron comunicou que se fará pública sua declaração da propriedade de anos passados porque quer ser "transparente" insistindo que "será o primeiro chefe de governo, o primeiro líder de um grande partido político que o faz".

Como uma caixa de Pandora, com os papeis de Panamá foram aparecendo consequências cada vez mais incômodas para David Cameron. Esta nova mancha na folha de vida do primeiro ministro britânico - para não nos determos agora aos rituais porcos - fala da decadência da classe política do Reino Unido. Cameron pertence a uma casta de políticos que dizem que não há recursos para salários, pensões, nem serviços públicos e acusam as pessoas que recebem benefícios pelo desemprego ou incapacidade de "viver do estado". O escândalo aberto a raiz dos papeis de Panamá expõem os segredos sujos e a hipocrisia com que manejam.

Porém Cameron não é o único implicado no escândalo já que três altas figuras do Partido Conservador estão na mesma situação. Talvez o mais mormacento para o primeiro ministro britânico não tenha sido o segredo fiscal em si mesmo, e sim, o haver estado na mesma liga que o presidente da Rússia Vladimir Putin e altos chefes da China e Coreia do Norte.

Com este telão de fundo, o sábado 09 de abril milhares de manifestantes se juntaram na frente da porta da residencia do primeiro ministro exigindo sua renúncia. A convocatória fez-se mediante as redes sociais frente a consigna "Cameron tem que ir". Coletivos contra os cortes, agrupações de esquerda e jovens ativistas foram portando cartazes em que liam-se: "Enfrentamos o governo Tory!"; "Cameron não acreditamos mais em você!"; "Cameron: Renuncia!". Não faltavam cartazes com imagens de porco e a legenda "Paraísos fiscais: Essa é a sua sociedade porca!".

Esta segunda 11 de Abril, Cameron compareceu diante do parlamento britânico e em seguida de fazer sua declaração de propriedade justificou sua ação dizendo que vendeu as ações antes de ser primeiro ministro. Completou que seu pai era um "homem honesto que trabalhou muito duro" e anunciou que entre as novas medidas para atacar a evasão dos impostos, o secretário do tesouro, Geroge Osborne, e o secretário do tesouro em oposição deveriam revelar sua receita. Tratava-se de uma cortina de fumaça para defender a ostentação e seu privilegiado estilo de vida - e outros como ele - financiado com ganhos em paraísos fiscais.

Talvez valha a pena recordar que durante as agitações na Inglaterra em 2011, David Cameron defendeu o pedido de justiça de ignorar as normas existente sobre sentenças de poder aplicar a mão dura aos jovens acusados de ter participados dos feitos. Uma mulher que não havia participado das agitações recebeu uma condenação de seis meses de prisão por haver recebido um par de shorts roubado (em seguida, devolvido). Grupos de direitos civis criticaram nesse momento as duras sentenças aplicadas aos jovens que vivem no bairro com a mais alta taxa de desemprego em Londres e com um dos maiores índices de pobreza dentro do país.

As revelações sobre a entrada de membros da classe política deixa nítido que existe uma lei para ricos e outra para a população trabalhadora e pobre. Diz de que família vem e te direi qual é seu futuro. Um filho de uma família que se enriquece iludindo o tesouro recebe uma educação privilegiada e chega a ser primeiro ministro. Um filho de uma família desempregada que vive em um dos distritos mais pobres e sofre com os cortes dos serviços sociais termina, se é sortudo, nas filas do desemprego; e se não tem sorte, na prisão. Um rouba com classe e mediante "truques legais", o outro se rebela como pode contra um sistema de opressão.




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