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CUNHA FORA DA CÂMARA | A saída de Cunha, a luta de classes e a continuidade da "guerra nas alturas"

A votação pelo impeachment no dia 17/04 consolidou o golpe institucional que está em curso no país. Essa votação escancarou a concepção profundamente reacionária de país que nutrem setores da burguesia nacional, que são abertamente anti LGBT, anti mulheres, anti negros e, consequentemente, pró polícia, pró ditadura e pró família tradicional.

sábado 7 de maio de 2016 | Edição do dia

Não é de hoje que sabemos que Cunha é parte dessa ala reacionária da burguesia, uma ala que desde que se instalou a crise no Brasil treme de medo da possibilidade de que mulheres, negros, LGBTs e classe operária possam resistir aos ataques e ajustes da crise.

No dia de ontem foi anunciada a decisão do Superior Tribunal Federal pelo afastamento de Cunha do cargo de presidente do Congresso, o que colocou um sorriso na cara de muitos que ansiavam por um ultimato a esse racista, LGBTfóbico e reacionário que nos atacava verbalmente todos os dias.
Mas esse afastamento está longe de ser uma conquista.

Uma "limpeza" à Jato?

Logo após a escandalosa votação do Congresso, a revista "Veja" publicou uma matéria que elogiava a esposa de Temer, sucessor de Dilma e retrato do governo golpista, como uma mulher "bela, recatada e do lar". Explodiram no facebook imagens de mulheres denunciando essa postura machista da revista, em uma clara associação ao rechaço criado pelos discursos reacionários que testemunhamos no Congresso do impeachment.

A retirada de Cunha, longe de ser uma conquista dos trabalhadores e da juventude, é na verdade uma preparação da burguesia tentando legitimar um judiciário profundamente corrupto, como parte do seu pré combate aos fatores de luta de classes que podem aparecer no Brasil em resistência dos trabalhadores aos ajustes da crise.

A farsa do "combate à corrupção" fica muito clara quando analisamos os possíveis sucessores de Cunha, ambos propostos por alas direitas da burguesia e portadores de enormes fichas "sujas". Vejam abaixo os perfis de cada um deles e o que significa a tentativa de nomeação por parte dos partidos aliados do golpismo:

Rogério Rosso: o ficha suja aliado de Cunha

Rogério Rosso esteve a frente de importantes multinacionais automobilísticas, como a Mercedez-Benz e a FIAt. É um claro representante dos interesses da burguesia imperialista nos rumos dos ajustes no Brasil, e é defendido como sucessor de Cunha pelos seus aliados de "centro" (peemidebistas) e SOLIDARIEDADE, especialmente o dirigente sindical Paulinho da Força, que ao apoiar o impeachment e depois a promoção de um sujeito como este, mostra o papel que quer que os sindicatos da Força cumpram, que é de afogar em demissões, terceirização e ajuste os setores de sua base sindical. Rosso seria uma alternativa mais "leve" para a imagem de direção do Congresso, que via uma grande possibilidade de deslegitimação nas massas após as intensas denúncias a Cunha. Colocar Rosso no seu lugar significaria alinhar-se profundamente com o imperialismo sem perder a postura abertamente conservadora e sem contar com os custos da imagem de Cunha para a aplicação dos ajustes.

Antônio Imbassahy e o novo respiro do PSDB

Imbassahy foi prefeito de Salvador e um dos principais aliados políticos de ACM no estado até o rompimento de relações políticas que o levam a migrar para o PSDB em 2005. Imbassahy participou da CPI da Petrobrás como vice-presidente e se viu numa saia justa quando foi avaliado que durante seu mandato como prefeito em Salvador, cerca de R$126 milhões foram desviados das obras do metrô. O deputado federal é defendido como presidente do Congresso pela ala burguesa do PSDB, que desde o início do processo de impeachment tem tido dificuldade de aparecer com uma personalidade e uma posição própria para se recuperar das derrotas políticas que sofreu desde a luta de secundaristas do ano passado.

Esse respiro e essa tentativa de emergir com figuras vem de uma confiança de que a implementação de eleições gerais possa voltar a colocar em evidência candidaturas psdebistas, que na última eleição alcançaram com Aécio o êxito de uma vitória muito espremida da atual presidente Dilma. A verdade é que por trás dos interesses políticos do PSDB não há um projeto econômico menos ajustador que o do PMDB, mas há uma racionalização maior dos efeitos que escândalos de opressão possam gerar na estabilidade de um governo ajustador.

Se há guerra nas alturas é para desviar nossos olhos da luta de classes

É muito importante saber que para cada escândalo nas alturas há um ataque em nossa cara contra o qual tentam nos distrair. Medidas como o impeachment e o afastamento de Cunha mostram uma tentativa da burguesia de legitimar a justiça burguesa - que protege os policiais praticantes de chacinas, que prende os negros sem qualquer julgamento, que protege os agressores e assassinos de mulheres e LGBTs - e de nos fazer pagar mais intensamente por uma crise que não é nossa responsabilidade.

A melhor maneira de lutar contra a corrupção que reina no sistema político não é confiar nos passos que a burguesia dá por cima de nossos direitos - como o direito ao voto que nos é negado quando se retira um presidente da maneira como fazem hoje com Dilma - ou com atitudes aparentemente heróicas de retirar Cunha da presidência do Congresso, pois para cada um desses passos são calculados minuciosamente novos ataques, arquitetados golpes contra a qualidade de vida, saúde, educação e trabalho de todos nós. Vemos também que o Congresso, o Senado, o sistema judiciário e o executivo como um todo são preenchidos de picaretas, LGBTfóbicos, representantes dos piores interesses burgueses, e mesmo que caia um, outro igual entra em seu lugar.

É por isso que viemos agitando desde o início a resistência contra o golpe institucional da direita, a necessidade de se organizar contra os ataques do governo PT e do novo governo que se prepara para atacar ainda mais, e também contra cada uma das manifestações de opressão que vemos sair da boca desses políticos. Tudo isso ligado a denúncia desse sistema corrupto, que jamais vai deixar de ser assim enquanto os políticos não ganharem como uma professora, enquanto seus mandatos não forem revogáveis, enquanto os juízes não forem eleitos por votos, o que nos faz exigir uma assembleia constituinte construída pela mobilização.




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