A Colômbia viveu vários dias de protesto contra a violência policial. O que isso expressa e quais foram as causas que geraram as manifestações?
segunda-feira 14 de setembro de 2020 | Edição do dia
esses temas foram tratados por Diego Sacchi em sua coluna sobre notícias internacionais n programa de rádio El Círculo Rojo, que vai ao ar todos os domingos de 21 às 23h pela Rádio Con Vos da Argentina.
O episódio pode ser ouvido aqui, em espanhol.
O estopim foi o assassinato de Javier Ordoñez, um advogado de 43 anos, que foi detido supostamente por violar a quarentena. O vídeo da pisão viralizou e causou indignação porque a Polícia lhe aplicou várias descargas elétricas com uma pistola Taser. Depois foi levado a um Comando de Atendimento Imediato - CAI (centros que cumprem a função de delegacias) onde morre.
Em Ordoñez foram encontradas nove fraturas no crânio e golpes nas bochechas, pescoço, ombros e tórax. Os golpes foram executados dentro do CAI.
A repressão contra os protestos incluiu disparo com armas de fogo por parte da polícia, deixando 13 mortos e centenas de feridos.
Porém, foram três dias de protestos protagonizados pela juventude, uma rebelião que lembra os protestos nos Estados Unidos. A magnitude da raiva é notável quando durante os protestos um terço dos 156 Comandos de Atendimento Imediato foram incendiados e destruídos.
Quais são as causas desta rebelião
A primeira é que o empoderamento da polícia que na Colômbia foi um braço do Exército na guerra contra a insurgência que nas cidades impunha o terror, e continuou sendo, algo que reflete em que responde ao Ministério da Defesa.
Um exemplo de militarização são os Comandos Jungla, unidades militares da polícia que supostamente lutam contra o narcotráfico e estão estreitamente ligados a agências estadunidenses como a DEA e foram formados por agentes do Serviço Aéreo Especial (SAS) do Exército Britânico.
Hoje essa polícia preparada para a "guerra interna" atua contra a revolta social. Algo que foi visto nas jornadas de Paralisação Nacional em novembro de 2019. Nessa ocasião Dylan Cruz foi assassinado pelo Esquadrão Móvel Antidistúrbios (ESMAD).
Os homicídios e abusos da polícia colombiana não são novos: entre 2017 e 2019, houve 639 homicídios por parte de membros das Forças Armadas, a polícia e os serviços de inteligência, de acordo com a ONG Temblores.
Isso no contexto de repressão em muitos casos dirigidos contra dirigentes sociais. Um dado, entre 2016 e 2020, são 971 indígenas, camponeses, sindicalistas, mulheres e ambientalistas assassinados por forças estatais ou paraestatais ligados à direita.
Mas outra causa éo efeito de empodeirar a polícia no contexto da pandemia. Segundo um estudo da Cuso Internacional, no país 86% das pessoas que residem nas cidades entre 14 e 28 anos de idade, trabalham em condições precárias. São mais de 3 milhões de jovens que estão expostos a abusos policiais.
O presidente Iván Duque defendeu enfaticamente a polícia "sob nenhuma circunstância podemos aceitar como país que se estigmatize, ou que se chame de assassinos aos policiais".
mas a atuação da polícia empoderada pelos próprios governos tem impunidade para realizar massacres como o que acaba de ocorrer na Colômbia, mas como vimos, também desata manifestações de repúdio.