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Em janeiro desse ano, após as 517 demissões da GM em São José dos Campos, tudo o que o PSTU e o Sindicato de Metalúrgicos fizeram foi exigir “Dilma, proíba as demissões”, além de dar destaque para essa denúncia no bloco “acorda peão”, no carnaval da cidade.

Evandro NogueiraSão José dos Campos

quinta-feira 31 de março de 2016 | Edição do dia

Dois meses depois, esse mesmo partido e sindicato adotam a campanha “Fora todos”, confluindo com a política de impeachment levantada pela direita reacionária.

Entre uma exigência a que Dilma fizesse o que eles não faziam (combater as demissões), para depois passarem a defesa envergonhada do impeachment orquestrado pela direita, mais do que uma grande mudança, uma nítida continuação existe entre os dois discursos: a completa secundarização do sujeito e dos métodos pelos quais se pretende alcançar seus objetivos. Seja no combate às demissões, seja na derrubada do governo, em nenhum dos casos o PSTU coloca os trabalhadores como protagonistas.

Já discutimos em diversos artigos, como aqui porque a política de Fora Todos e eleições gerais termina servindo à oposição de direita. A política de “Fora Todos” despreza totalmente o sujeito que a protagonizaria, que na situação presente seria o STF, Moro e a FIESP.

Como alternativa ao governo Dilma defendem eleições gerais antecipadas (que pode dar-se pelo impeachment na Câmara, ou pela cassação da chapa Dilma-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral, como defende Marina Silva da REDE). Cabe a pergunta: uma vez confirmado o impeachment, caso ocorram novas demissões na GM, a política do PSTU seria exigir “Aécio (ou Marina), proíba as demissões”?!

Mas os trabalhadores não estão contra o governo Dilma?

A maior parte dos trabalhadores no país certamente não se identifica com o governo Dilma e gostaria de substituí-lo o mais rápido possível, pois sentem seus salários sendo corroídos pela inflação, o desemprego aumentando, as dificuldades criadas para terem acesso a direitos como o seguro-desemprego ou a aposentadoria, além de vários outros ataques que esse governo a serviço dos empresários segue implementando.

Mas não só os trabalhadores estão fartos do governo Dilma, também os patrões, pois querem defender seus lucros frente a crise e por isso exigem ataques ainda mais duros do que os atuais. Dizem isso sem medo em seus jornais, pagando milhões para fazer propaganda pelo “Impeachment Já!” no Estadão e na Folha de S. Paulo, assim como setores da classe média, que querem manter seus privilégios pequeno-burgueses e querem que os trabalhadores paguem pela crise.

É evidente que a direita, a Polícia Federal e o Judiciário, além da FIESP que opera as demissões com a cumplicidade da CUT, querem canalizar o justo descontentamento dos trabalhadores com o governo do PT para impedir o surgimento de uma força política independente à esquerda do PT. O curioso é que o PSTU (e correntes dentro do PSOL como o MÊS de Luciana Genro) se dedique a esconder, por trás de suas críticas ao PT, o apoio a esta política da direita sob a consigna “Fora Todos e Eleições Gerais”, do qual só emergir uma saída reacionária. Representados pelo antidemocrático, criminoso e racista poder judiciário, junto ao chamado “quarto poder”, a mídia, a classe média mais conservadora tem definido o caráter da possível derrubada da Dilma e, com isso, boa parte do cenário que sucederia no país.

O impeachment não pode ser um trampolim?

Considerando que a maior parte dos trabalhadores já é contra a Dilma, não seria possível apoiar o impeachment (ou negar-se a se colocar contra, como faz o PSTU) de forma que sirva como um trampolim, derrubando logo esse governo, que afinal serve aos empresários, e, com os trabalhadores mais confiantes, afinal sua vontade teria se realizado, saltar para uma situação na qual o próximo governo tenha mais dificuldades para passar seus ataques?

O grande problema de um raciocínio assim é justamente o que escapa à lógica do PSTU, que menospreza a diferença de qualidade que faz no processo quem são os sujeitos protagonistas. Enquanto a carestia de vida só aumenta, os trabalhadores veem seus familiares sem emprego, o salário não vence as dívidas e não completa as compras necessárias, uma mobilização operária jamais seria com eixo na corrupção ou na simples exigência de impeachment, como tem sido as marchas motorizadas pela FIESP, Globo etc.

Sem a existência de uma alternativa dos trabalhadores nas ruas a defesa do impeachment (ou o não combate direto contra ele) significa unicamente ajudar a que a direita mais reacionária assuma o poder mais rapidamente. A condição para que o impeachment servisse como um trampolim para uma situação melhor para os trabalhadores é que se possa realizar efetivamente o salto, ou seja, que exista movimento real de trabalhadores para guiar o processo. Não se trata de “atos-esquetes”, como os que realizou o PSTU em São José dos Campos, onde diz que havia 3 mil trabalhadores, mas não se encontra uma única foto com mais de algumas dezenas.

Como aparecer uma saída independente?

A política que o PSTU e o Sindicato dos Metalúrgicos de SJC defende, de agitar um “Fora todos” sem se delimitar do impeachment, no momento em que a direita avança com essa política, é entendida pelas massas, pelos trabalhadores e bem utilizada pela mídia como nada mais que um fortalecimento do impeachment. A defesa de que saia Dilma sem que se apresente uma alternativa efetiva nada mais é que um trampolim para a direita saltar a uma nova situação mais fortalecida.

O PSTU e a CSP-Conlutas deveriam preparar suas bases operárias para enfrentar com greves os ataques que o governo Dilma vem impondo, ao contrário do que fizeram na GM em SJC, e junto com essa luta se enfrentar também contra o impeachment da direita.

A CUT tenta votar a defesa do governo nas grandes montadoras do ABC e é rechaçada porque os trabalhadores sabem que esse governo não está do seu lado. A missão da burocracia sindical é justamente imobilizar a classe para que os ataques passem, por um lado, enquanto buscam se apoiar nesses grandes bastiões para uma defesa passiva de Dilma. Contra essa política, a única maneira correta de barrar essa manobra reacionária que é o impeachment seria a CUT romper sua subserviência ao governo do PT e chamar um real plano de luta contra o impeachment, as manobras do Judiciário que servem ao golpismo institucional e os ataques do governo do PT, desde o qual os revolucionários lutaríamos por uma saída independente dos trabalhadores, com seus métodos, que impusessem uma Assembléia Constituinte Livre e Soberana que possa punir os corruptos, eleger os juízes, decidir os salários dos políticos e impor a revogabilidade de todos os mandatos e não pagar a dívida externa.

Como mostram ricamente os exemplos da história e a lógica do pensamento político marxista, sair à rua com a palavra de ordem "Fora Todos e Eleições Gerais Já!" como propõe a CSP-Conlutas neste 1/4, quando, segundo a relação de forças, esse governo só poderia ser substituído por um governo de direita, é puro aventureirismo e deixa o setor de trabalhadores que acompanhe o ato como quinta roda da direita. E isso, somente nas mentes mais destituídas de qualquer senso lógico, poderia significar apoio ao governo ajustador e corrupto do PT. Ao invés de defender-se imaginativamente contra o indefensável, o PSTU deve urgentemente colocar o rechaço ao impeachment como um dos eixos centrais do ato do 1 de abril. Esta batalha estamos dando desde o MRT nas estruturas de base operárias e estudantis onde estamos.




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